DECLAMAÇÃO - OSCAR BRISOLARA - ASILO DE RIO GRANDE
DECLAMAÇÃO NO ASILO - D. CONSUELO, 92 ANOS
O outro poema que Dona Consuelo recitou e a biografia de Júlio Dinis
Havia desligado a câmera, mas, em tempo, consegui filmar. A filmagem toma o poema na terceira estrofe, mas Dona Consuelo o recitou na íntegra.
A Esmola do Pobre
Júlio Dinis
Nos toscos degraus da porta
Da igreja rústica e antiga,
Velha, trêmula era a mendiga,
Que implorava compaixão.
Quase um século contado
De atribulada existência,
Ei-la, enferma e na indigência,
Que à piedade estende a mão.
Duas crianças brincavam
À distância, na alameda;
Uma trajava de seda,
Da outra humilde era o trajar.
Uma era rica, outra pobre;
Ambas louras e formosas;
Nas faces a cor das rosas,
Nos olhos o azul do ar.
A rica ao deixar os jogos,
Vencida pelo cansaço,
Viu a mendiga, e ao regaço
Uma esmola lhe lançou;
Ela recebeu-a, e a criança
Que a socorre compassiva
Em prece fervente e viva
Aos anjos a encomendou.
Dum ligeiro sentimento
De vaidade possuída,
À criança mal vestida
Disse a do rico trajar:
-O prazer de dar esmolas
-A ti e aos teus não é dado
-Pobre como és, coitado!
-Aos pobres o que hás-de dar?
Então a criança pobre,
Sem mais sombra de desgosto,
Tendo o sorriso no rosto,
Da igreja se aproximou;
E depois, serena, em silêncio,
Ao chegar junto da velha,
Descobrindo-se, ajoelha
E a magra mão lhe beijou.
A mendiga alvoroçada,
Ao colo os braços lhe lança,
E beija a pobre criança,
Chorando de comoção.
É assim que a caridade
Do pobre ao pobre consola,
Nem só da mão sai a esmola,
Sai também do coração.
Nos toscos degraus da porta
Da igreja rústica e antiga,
Velha, trêmula era a mendiga,
Que implorava compaixão.
Quase um século contado
De atribulada existência,
Ei-la, enferma e na indigência,
Que à piedade estende a mão.
Duas crianças brincavam
À distância, na alameda;
Uma trajava de seda,
Da outra humilde era o trajar.
Uma era rica, outra pobre;
Ambas louras e formosas;
Nas faces a cor das rosas,
Nos olhos o azul do ar.
A rica ao deixar os jogos,
Vencida pelo cansaço,
Viu a mendiga, e ao regaço
Uma esmola lhe lançou;
Ela recebeu-a, e a criança
Que a socorre compassiva
Em prece fervente e viva
Aos anjos a encomendou.
Dum ligeiro sentimento
De vaidade possuída,
À criança mal vestida
Disse a do rico trajar:
-O prazer de dar esmolas
-A ti e aos teus não é dado
-Pobre como és, coitado!
-Aos pobres o que hás-de dar?
Então a criança pobre,
Sem mais sombra de desgosto,
Tendo o sorriso no rosto,
Da igreja se aproximou;
E depois, serena, em silêncio,
Ao chegar junto da velha,
Descobrindo-se, ajoelha
E a magra mão lhe beijou.
A mendiga alvoroçada,
Ao colo os braços lhe lança,
E beija a pobre criança,
Chorando de comoção.
É assim que a caridade
Do pobre ao pobre consola,
Nem só da mão sai a esmola,
Sai também do coração.
Júlio Dinis
Joaquim Guilherme Gomes Coelho, que no período mais brilhante da sua carreira literária usou o pseudônimo de Júlio Dinis, nasceu no Porto, em1839, e morreu na mesma cidade, em 1871.
Era filho de um cirurgião. Sua mãe, de ascendência anglo-irlandesa, morreu vitimada pela tuberculose quando Júlio Dinis contava apenas seis anos de idade. Frequentou a Escola Politécnica e Escola Médico-Cirúrgica do Porto, cujo curso completou em 1861, com alta classificação. Posteriormente a sua saúde foi-se agravando, pelo que foi obrigado a recolher-se em Ovar e depois na Madeira e a interromper a possibilidade de exercer a sua profissão. Durante esses tempos, dedica-se à literatura. Mais tarde (1867), foi incluído como demonstrador e lente substituto no corpo docente da Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Já então sofria de tuberculose. E com quase trinta e dois anos apenas, morreu desta doença, que já havia vitimado a mãe e que foi a causa da morte de todos os seus oito irmãos.
Seu romance «As Pupilas do Senhor Reitor» foi publicado em 1869, tendo sido adaptado para o teatro e o cinema e também publicado em folhetins do Jornal do Porto.
Com apenas 31 anos de idade, publicou-se o romance «Os Fidalgos da Casa Mourisca». Foi o criador do romance campesino e as suas personagens, tiradas, na sua maioria, de pessoas com quem viveu ou contactou na vida real, estão imbuídas de tanta naturalidade que muitas delas são ainda hoje familiares. É o caso da tia Doroteia, de «A Morgadinha dos Canaviais», inspirada em uma tia.
Júlio Dinis é considerado um escritor de transição entre o Romantismo e o Realismo.
Além deste pseudônimo, Júlio Dinis usou também o de Diana de Aveleda, com que assinou pequenas narrativas ingênuas como «Os Novelos da Tia Filomena» e o «Espólio do Senhor Cipriano», publicados em 1862 e 1863, respectivamente.
Suas obras: As Pupilas do Senhor Reitor (1869), A Morgadinha dos Canaviais (1868), Uma Família Inglesa (1868), Serões da Província (1870), Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871), Poesias (1873), Inéditos e Dispersos (1910), Teatro Inédito (1946-1947).
Era filho de um cirurgião. Sua mãe, de ascendência anglo-irlandesa, morreu vitimada pela tuberculose quando Júlio Dinis contava apenas seis anos de idade. Frequentou a Escola Politécnica e Escola Médico-Cirúrgica do Porto, cujo curso completou em 1861, com alta classificação. Posteriormente a sua saúde foi-se agravando, pelo que foi obrigado a recolher-se em Ovar e depois na Madeira e a interromper a possibilidade de exercer a sua profissão. Durante esses tempos, dedica-se à literatura. Mais tarde (1867), foi incluído como demonstrador e lente substituto no corpo docente da Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Já então sofria de tuberculose. E com quase trinta e dois anos apenas, morreu desta doença, que já havia vitimado a mãe e que foi a causa da morte de todos os seus oito irmãos.
Seu romance «As Pupilas do Senhor Reitor» foi publicado em 1869, tendo sido adaptado para o teatro e o cinema e também publicado em folhetins do Jornal do Porto.
Com apenas 31 anos de idade, publicou-se o romance «Os Fidalgos da Casa Mourisca». Foi o criador do romance campesino e as suas personagens, tiradas, na sua maioria, de pessoas com quem viveu ou contactou na vida real, estão imbuídas de tanta naturalidade que muitas delas são ainda hoje familiares. É o caso da tia Doroteia, de «A Morgadinha dos Canaviais», inspirada em uma tia.
Júlio Dinis é considerado um escritor de transição entre o Romantismo e o Realismo.
Além deste pseudônimo, Júlio Dinis usou também o de Diana de Aveleda, com que assinou pequenas narrativas ingênuas como «Os Novelos da Tia Filomena» e o «Espólio do Senhor Cipriano», publicados em 1862 e 1863, respectivamente.
Suas obras: As Pupilas do Senhor Reitor (1869), A Morgadinha dos Canaviais (1868), Uma Família Inglesa (1868), Serões da Província (1870), Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871), Poesias (1873), Inéditos e Dispersos (1910), Teatro Inédito (1946-1947).
Nossas alunas da FURG, Fabi Leandro, Sabrina Baes e Marisa Musa,
sob a coordenação da colega, Prof.ª Dr.ª Liane Bonatto,
cientes de que o imaginário dá suporte a todos os nossos diversos fazeres, vêm propiciando, no ambiente do Asilo de Rio Grande, uma ressignificação, nas tardes das quartas-feiras, dos idosos que lá vivem seus dias.
sob a coordenação da colega, Prof.ª Dr.ª Liane Bonatto,
cientes de que o imaginário dá suporte a todos os nossos diversos fazeres, vêm propiciando, no ambiente do Asilo de Rio Grande, uma ressignificação, nas tardes das quartas-feiras, dos idosos que lá vivem seus dias.
O idoso carrega em sua memória um grande repertório de vivências, como a poesia que, muitas vezes, precisa, apenas, ser revivida, resgatada com amor. Lá, a tarde de hoje transformou-se num viajar para outros tempos e outras emoções. O tempo ali passado foi um tempo revivido. Aquele espaço da sala de recepção foi transformado, pela viagem instantânea pelo universo da poesia, em um espaço de felicidade. Obrigado, queridas, por me terem proporcionado o prazer de participar desse momento de vibração, alegria e encantamento.
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