Lisboa à noite - Chiado -
O nome fado provém, segundo alguns estudos, do latim, palavra que significa destino. Teria ligação com os mouros, povo de origem árabe oriundo do norte de África, que dominou a Península Ibérica por mais de setecentos anos, a partir do reinado carolíngio de Carlos Magno, no século VIII da era cristã.
O nome fado provém, segundo alguns estudos, do latim, palavra que significa destino. Teria ligação com os mouros, povo de origem árabe oriundo do norte de África, que dominou a Península Ibérica por mais de setecentos anos, a partir do reinado carolíngio de Carlos Magno, no século VIII da era cristã.
Há alusões a uma possível origem irlandesa
ou escandinava do termo. Não existem estudos conclusivos ainda sobre a origem
desse estilo musical tão português e tão popular ainda hoje.O fado desenvolveu-se por quase todo
o território português, mas foi em Lisboa e Coimbra que teve maior influência.
Os principais restaurantes de Lisboa apresentam shows de música tradicional
portuguesa que incluem sempre apresentações de fado.
Em Coimbra, está ligado às tradições acadêmicas da
mundialmente renomada universidade local. Os fadistas daí são homens e têm as suas origens nos estudantes de todo
o país que levavam as suas guitarras para Coimbra e, como ainda hoje se
assiste, e tanto os cantores como os músicos usam o traje acadêmico: calças e
batina pretas, cobertas por capa de fazenda de lã igualmente preta. Canta-se à
noite, quase às escuras, em praças ou ruas da cidade.
Nessa cidade, tradicional
centro universitário europeu, que reúne jovens estudantes de todas as partes do
mundo, o ambiente mais tradicional, em que ocorrem espetáculos de fado a céu
aberto, é a praça que se situa junto ao secular Mosteiro da Sé Velha.
Cultiva-se também aí a tradição antiga da realização de serenatas, que ocorrem
junto às janelas das pretendidas.
Amália Rodrigues foi a grande
fadista portuguesa do século passado, falecida em 1999. Gravou, com sua voz
encantadora e interpretação primorosa, fados conhecidíssimos, e ficou conhecida
como a voz de Portugal. Hoje, há uma renovação do fado
especialmente com uma nova cantora do gênero, Mariza (Mariza dos Reis Nunes),
nascida em Lourenço Marques (atual Maputo), Moçambique, que é uma cantadista de
fados, como ela se diz.
No período da guerra das colônias a
família migrou para Lisboa, onde o pai da cantora abriu um restaurante no
bairro da Mouraria. O pai, apaixonado pelo gênero, desenvolveu na filha o gosto
pelo fado. Hoje é uma das mais apreciadas fadistas de Lisboa e caracteriza-se
por cantar poemas e sonetos da magnífica poeta portuguesa Florbela Espanca, de
imorredoura fama no país e no mundo.
Caravelas
Cheguei a meio da vida já cansada
De tanto caminhar! já me perdi!
Dum estranho país que nunca vi
Sou neste mundo imenso a exilada.
De tanto caminhar! já me perdi!
Dum estranho país que nunca vi
Sou neste mundo imenso a exilada.
Tanto tenho aprendido e não sei nada.
E as torres de marfim que construí
Em trágica loucura as destruí
Por minhas próprias mãos de malfadada!
E as torres de marfim que construí
Em trágica loucura as destruí
Por minhas próprias mãos de malfadada!
Se eu sempre fui assim este mar morto:
Mar sem marés, sem vagas e sem porto
Onde velas de sonhos se rasgaram!
Mar sem marés, sem vagas e sem porto
Onde velas de sonhos se rasgaram!
Caravelas doiradas a bailar...
Ai quem me dera as que eu deitei ao mar!
As que eu lancei à vida, e não voltaram!...
Ai quem me dera as que eu deitei ao mar!
As que eu lancei à vida, e não voltaram!...
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o Sol, a luz imensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até a morte!
Mas o Mar também chora de tristeza ...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!
E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras ... essas ... pisa-as toda a gente! ...
Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"
O cantor Fagner também gravou um soneto de Florbela Espanca, Fanatismo, mas aí já não é mais um fado.
Fanatismo
Florbela Espanca
Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."
Querido Oscar
ResponderExcluirBelo texto! Até senti saudades de Portugal.
Teu blog está muito bom - informativo, sem perder a beleza oriunda de um texto bem produzido. Obrigada por dividir conosco teus conhecimentos e a bonita maneira de escrever.