quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

LESBIANISMO:SAPHO (Σαπφώ) Século VII a. C. - PRIMEIRA POETISA LÉSBICA NA LITERATURA OCIDENTAL - SAPPHO, THE FIRST LESBIAN POET IN WESTERN LITERATURE.


   
   Sapho, prefiro esta grafia, embora se costume grafar Safo em português, foi importante escritora grega. Dedicou-se, de maneira especial à poesia lírico-amorosa. Nasce na ilha de Lesbos, na cidade de Mitilene, onde viveu e teve uma escola de poesia, música e dança para meninas.

   Lesbos foi importante centro cultural e econômico da Grécia antiga. Situa-se no Mar Egeu, bem próxima à costa da atual Turquia. É a terceira maior ilha grega e a sétima maior do mar Mediterrâneo. Tem hoje em torno de noventa mil habitantes.

   Nesse período de cidades-estados, Mitilene, onde vivia Sapho, era um centro de cultura e de ideias novas. Lá também viveu o célebre poeta e político grego Alceu, que muitos afirmam ter sido pretendente de Sapho. O termo "lésbica" é derivado do nome dessa ilha grega, mais precisamente em razão da poetisa Sapho que, segundo se afirma, teria preferências amorosas por amigas e meninas. Safo (em grego: Σαπφώ, Sapphō) foi uma poetisa grega que viveu na cidade lésbia de Mitilene, ativo centro cultural no século VII a.C.. Nascida entre 630 e 612 a. C., foi muito respeitada e apreciada durante a antiguidade, sendo considerada a décima musa. No entanto, sua poesia, devido ao conteúdo erótico, sofreu censura na Idade Média por parte dos monges copistas, e o que restou de sua obra foram escassos fragmentos.
Oscar Brisolara

A escola de Safo - o amor em Lesbos
SAFO, 1890 POR GUSTAV KLIMT (1862-1918, AUSTRIA)

   Concebeu, a poetisa de Lesbos, Safo, uma escola para moças, onde lecionaria a poesia, dança e música - considerada a primeira "escola de aperfeiçoamento" da história. Ali as discípulas eram chamadas de hetairai (amigas) e não alunas.

   A mestra apaixona-se por suas amigas, todas. Dentre elas, aquela que viria a tornar-se sua maior amante, Atis - a favorita - que descrevia sua mestra como vestida em ouro e púrpura, coroada de flores. Mas Atis apaixona-se por um moço e, com ciúmes, Safo dedica-lhe os versos:

"Semelhante aos deuses parece-me que há de ser o feliz
mancebo que, sentado à tua frente, ou ao teu lado,
te contemple e, em silêncio, te ouça a argêntea voz
e o riso abafado do amor. Oh, isso - isso só - é bastante
para ferir-me o perturbado coração, fazendo-o tremer
dentro do meu peito!
Pois basta que, por um instante, eu te veja
para que, como por magia, minha voz emudeça;
sim, basta isso, para que minha língua se paralise,
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
a incendiar-me as entranhas.
Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas
soa-me aos ouvidos;
o suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor (…)

A aluna foi retirada da escola por seus pais, e Safo escreve que "seria bem melhor para mim se tivesse morrido".

A morte controversa

   Tantos milênios se passaram após a vida desta figura feminina excepcional, em cuja glória e desprezo tanto se tem falado e escrito. Sua arte é de tal forma inquestionável, que Platão a classificou entre os dez maiores poetas gregos. Na Grécia antiga, Assim como Homero era conhecido como "o Poeta", Safo era conhecida como "a Poetisa". Sua poesia era considerada das mais sublimes. Dentre os gregos que lhe foram contemporâneos e pósteros, Safo era considerada uma dos chamados "Nove Poetas Líricos".

   Estrabão escrevera que "Safo era maravilhosa pois em todos os tempos que temos conhecimento não sei de outra mulher que a ela se tenha comparado, ainda que de leve, em matéria de talento poético."

   Porém, não lhe faltaram críticos, de modo especial no que se refere a sua personalidade. Em 1073 suas obras, junto com as de Alceu, foram queimadas em Constantinopla e em Roma. Mas foram redescobertas poesias dela em 1897. Safo foi chamada de "cortesã" (prostituta), por Suidas, estudioso grego do século X p. C.. E contavam que havia se suicidado pulando de um precipício na ilha de Leucas, apaixonada pelo marinheiro Faonte - fato que é descrito também em Menandro, Estrabão e Ovídio. Mas há consenso de que isto seja verdadeiramente mítico.

   Escritos sobreviventes dão Safo como tendo atingindo a velhice, e o certo é que não se sabe como nem quando ela morreu, sendo considerada por alguns a maior de todas as poetisas.

   Foi tão importante, mesmo na técnica poética, que criou um tipo de estrofe conhecida como estrofe sáfica ou versos sáficos. Trata-se de uma estrofe mista composta de três versos hendecassílabos e um quarto pentassílabo.


Exemplo de estrofes sáficas neste “Hino a Afrodite”:


Safo - Hino a Afrodite
Afrodite imortal de faiscante trono
filha de Zeus tecelã de enganos peço-te:
a mim nem mágoa nem náusea domine
Senhora o ânimo

Mas aqui vem - se há uma vez
a minha voz ouvindo de longe
escutaste e do pai deixando a casa
áurea vieste

atrelado o carro. Belos te levavam
ágeis pássaros acima da terra negra
contínuas asas vibrando vindos do céu
através do ar,

e logo chegaram. Tu ó venturosa
sorrindo no rosto imortal indagas
o que de novo sofri, a que de novo
te evoco,

o que mais desejo de ânimo louco
que aconteça. "Quem de novo convencerei
a acolher teu amor?" "Quem, Safo, te faz sofrer?"

"Se bem agora fuja, logo te perseguirá,
se bens teus dons recuse, virá te dar,
se bem não ame, logo amará - ainda que
ela não queira."

Vem junto a mim ainda agora, desfaz
o áspero pensar, perfaz quanto meu ânimo
anseia ver perfeito. E tu mesma - sê
minha aliada.

(Tradução de Jaa Torrano)


Verso sáfico em língua grega:
Ωδή της Αφροδίτης
« ποικιλόθρον' ἀθανάτ' Αφρόδιτα,
παῖ Δίος δολόπλοκε, λίσσομαί σε,
μή μ' ἄσαισι μηδ' ὀνίαισι δάμνα,
πότνια, θῦμον,

ἀλλὰ τυίδ' ἔλθ', αἴ ποτα κἀτέρωτα
τὰς ἔμας αὔδας ἀίοισα πήλοι
ἔκλυες, πάτρος δὲ δόμον λίποισα
χρύσιον ἦλθες

ἄρμ' ὐπασδεύξαισα, κάλοι δέ σ' ἆγον
ὤκεες στροῦθοι περὶ γᾶς μελαίνας
πύπνα δίννεντες πτέρ' ἀπ' ὠράνωἴθε-
ρος διὰ μέσσω.

αἶψα δ' ἐξίκοντο, σὺ δ', ὦ μάκαιρα,
μειδιαίσαισ' ἀθανάτωι προσώπωι
ἤρε' ὄττι δηὖτε πέπονθα κὤττι
δηὖτε κάλημμι

κὤττι μοι μάλιστα θέλω γένεσθαι
μαινόλαι θύμωι. τίνα δηὖτε πείθω
ἄψ σ' ἄγην ἐς σὰν φιλότατα;τίς σ', ὦ
Ψάπφ', ἀδικήει;

καὶ γὰρ αἰ φεύγει, ταχέως διώξει,
αἰ δὲ δῶρα μὴ δέκετ',ἀλλὰ δώσει,
αἰ δὲ μὴ φίλει, ταχέως φιλήσει
κωὐκ ἐθέλοισα.

ἔλθε μοι καὶ νῦν, χαλέπαν δὲ λῦσον
ἐκ μερίμναν, ὄσσα δέ μοι τέλεσσαι
θῦμος ἰμέρρει, τέλεσον,σὺ δ' αὔτα
σύμμαχος ἔσσο. »

. Antigo busto grego de Safo, século 5 a.C. A inscrição "ΣΑΠΦΩ ΕΡΕΣΙΑ" diz: "Safo,
 a eresiana" Museu Capitolino, Roma, Itália.


PEQUENA ANTOLOGIA DE SAFO

Contemplo Como o Igual dos Próprios Deuses
Contemplo como o igual dos próprios deuses
esse homem que sentado à tua frente
escuta assim de perto quando falas
com tal doçura,

e ris cheia de graça. Mal te vejo
o coração se agita no meu peito,
do fundo da garganta já não sai
a minha voz,

a língua como que se parte, corre
um tênue fogo sob a minha pele,
os olhos deixam de enxergar, os meus
ouvidos zumbem,

e banho-me de suor, e tremo toda,
e logo fico verde como as ervas,
e pouco falta para que eu não morra
ou enlouqueça.



Para Anactória
A mais bela coisa deste mundo
para alguns são soldados a marchar,
para outros uma frota; para mim
é a minha bem-querida.

Fácil é dá-lo a compreender a todos: 
Helena, a sem igual em formosura, 
achou que o destruidor da honra de 
Tróia 
era o melhor dos homens, 

e assim não se deteve a cogitar 
em sua filha nem nos pais queridos: 
o Amor a seduziu e longe a fez 
ceder o coração. 

Dobrar mulher não custa, se ela pensa 
por alto no que é próximo e querido. 
Oh não me esqueças, Anactória, nem 
aquela que partiu: 

prefiro o doce ruído de seus passos 
e o brilho de seu rosto a ver os carros 
e os soldados da Lídia combatendo 
cobertos de armadura.


Quando eu te Vejo
Quando eu te vejo, penso que jamais
Hermíone foi tua semelhante; 
que justo é comparar-te à loura Helena, 
não a qualquer mortal;

oh eu farei à tua formosura 
o sacrifício dos meus pensamentos, 
todos eles, eu digo, e adorar-te 
com tudo quanto eu sinto.


O Amor
O amor, esse ser invencível, doce e
sublime 
que desata os membros, de novo me
socorre. 

Ele agita meu espírito como a avalanche 
sacode monte abaixo as encostas. 
Lutar contra o amor é impossível, pois como 
uma 
criança faz ao ver sua mãe, voo para ele.

Minha alma está dividida: algo a detém
aqui, 
mas algo diz a ela para no amor viver...


As Rosas de Piéria
E morta jazerás: de ti
não restará lembrança, em tempo algum, 
nem mesmo compaixão jamais despertarás: 
nas rosas de Piéria não tiveste parte.

Desconhecida até na casa de Hades, 
errante esvoaçarás em meio a obscuros mortos.



A Lua já se Pôs 
A lua já se pôs, 
as Plêiades também: 
meia-noite; foge o 
tempo, 
e estou deitada 
sozinha.


Para Mnesídice
Com as meigas mãos, ó Dice,
trança ramos de aneto, 
e põe essa coroa 
em teus cabelos:

fogem as Graças 
de quem não tem grinalda, 
mas felizes acolhem 
quem se enfeita de flores.


Como a Doce Maçã 
Como a doce maçã que rubra, muito
 rubra, 
lá em cima, no alto do mais alto ramo 
os colhedores esqueceram; não, 
não esqueceram, não puderam atingir.



Palavras de Alceu a Safo
Ó cheia de pureza,
ó Safo coroada de violetas 
que docemente ris:

eu te diria de bom grado certa coisa, 
se não fosse a vergonha que me impede.

Resposta de Safo a Alceu 
Se quisesses tão só o bom e o belo, 
se em tua boca más palavras não 
tramasses, não haveria essa vergonha nos teus 
olhos 
e poderias exprimir-te francamente.


Para Átis
Nossa amada Anactória está morando,
ó Átis, na longínqua Sárdis, 
mas sempre volta o pensamento para cá,

lembrando como antes nós vivíamos, 
ela a julgar-te alguma deusa 
e teu canto a causar-lhe puro enlevo.

Ela resplandece agora em meio às lídias, 
como depois de o sol se pôr 
brilha a lua dos dedos como rosas

no meio das estrelas que a rodeiam, 
e então derrama a sua luz 
no mar salgado e no florido campo,

enquanto o orvalho paira pela relva 
e tomam novo alento as rosas, 
o suave cerefólio e o trevo em flor.


Eu Vos Rogo, ó Cretenses 
Eu vos rogo, ó cretenses, vinde ao
templo: ao redor há um bosque de 
macieiras, 
e dos altares sempre se levanta 
o odor do incenso.

Aqui a água fria rumoreja calma, 
em meio aos ramos; cobre este 
lugar 
uma sombra de rosas; cai o sono 
das folhas trêmulas. 

Aqui num campo onde os cavalos 
pastam 
desabrocham as flores do carvalho 
e os anetos exalam seu aroma 
igual ao mel. 

Apanhando grinaldas, vem, ó Cípris, 
e dá-me um pouco desse claro 
néctar 
que tão graciosa serves para a festa, 
em taças de ouro.


"Na época de Safo" obra de John William Gkontgouarnt Museu J. Paul Getty (1904)

Sappho and Alcaeus by Lawrence Alma-Tadema. On view at The Walters Art Museum
Dipinto pompeiano detto Saffo

θῦμος ἰμέρρει, τέλεσον· σὺ δ' αὔτα σύμμαχος ἔσσο

Safo saltando al mar desde el promontorio leucadio, por Théodore Chassériau, c. 1840

Sappho geht zu Bett Charles Gleyre (1867)



2 comentários:

  1. Querido, adoramos teu blog! Ler-te é puro deleite. Beijos. Te cuida. Victor e Rachel.

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  2. Oh, meus queridos amigos, ser lido por vocês é uma honra. Acabei hoje o meu novo livro: Dos Segredos de Eva Braun.É um livro de memórias de fmília. Sou neto de migantes intalianos e austríacos, por parte de mão. Por parte de pai, sou de uma antiga migração italianos do tempo de Garibaldi. Recupero um pouco das memórias das conversas ouvidas nos galpões. Obrigado pelo estímulo de sempre. Abração.

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