Obrigado pela bondade e
generosidade de todos. As flores do campo, ah sempre e de novo as flores do campo, amiga
Miriam Carniato, nós também brincávamos com os mal-me-queres, porque não
eram do jardim e ninguém se importava se
os destruíssemos. Elas são tantas, as marias-moles... e tantas outras
espécies de cujos nomes não recordo mais... algumas, com um cheiro muito
ruim... Os mal-me-queres não têm perfume
algum e no miolo, também amarelo, uns pistilos curtos que a gente, eu e minha irmã, arrancávamos
para fazer comidinha... as marias-moles
possuem um agradável perfume de mel, que as abelhas buscam... às vezes elas picavam a
gente e ficávamos de olho ou dedo inchado
e com uma dor terrível... algumas horas de choro... não havia o que fazer... nenhum remédio... a mãe
dava um beijo... "vai passar logo"...
e passava... a gente voltava... não se podia comê-las... "faz mal, é veneno, mata"... não se
comia... depois, arrancando as pétalas uma
a uma: mal-me-quer, bem-me-quer, muito, pouco, nada... até a última pétala... se essa caísse no mal...
pegava-se outra... não havia brinquedos
comprados, no campo... nunca ganhei nenhum... não fazia mal... ninguém ficava triste por
isso... eram bois de batatas miúdas com patas e guampas de pauzinhos... vacas de ossinhos de animais que morriam
no campo e, depois de muito tempo, a natureza os deixava branquinhos...
completamente limpos e inofensivos... depois a bosta seca de cavalo,lavada por chuvas e chuvas... sem
cheiro... sem nada... com elas se faziam
casinhas... cidades... e se construíam sonhos... um caminhão...um castelo... (que a gente não sabia
o que era... mas se ouvia falar)... e depois o pai fazia um peão de
madeira e prego... um dia eu ganhei um leão
de plástico... o pai fazia alguns caminhões de madeira... a gente achava lindos... e eram... a minha
irmã ganhava umas bonecas de cabeça de
gesso... depois a mãe fazia o corpo de pano... e tantas outras a mãe fazia de pano também... olhos
bordados de linha vermelha e boca e tudo...
não havia luz elétrica... lamparinas de querosene... na sala grande um lampião grande... tudo meio
penumbra... a gente aprendeu a ler assim... mamãe... mamãe professora...
sabia de tudo... contava histórias
nas longas noites de inverno... da Itália... da Áustria... das
montanhas... os Alpes de onde vovó despencara quando criança... agarrada por um homem grande...
quanta vergonha... ah, os mistérios e os medos da noite... os barulhos
sem um sentido preciso... o que será...
não havia rádio... televisão!!!! hahaha... o silêncio era profundo... ah, o silêncio do campo... quanta
saudade... o silêncio da noite, então, esse era verdadeiramente
silêncio... apenas o latido de um cão, às
vezes... e não era triste não... muita alegria... muitas brincadeiras... ríamos sempre... choro... só quando era preciso...
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