Flores amarelas. Há
um período da flor amarela. Amarela. Em essência amarela. Tudo
amarelo... o campo... o horizonte amarelo... O campo emenda-se ao céu...
o céu amarelo, o sol, amarelo... Essas flores remetem-me à minha
infância de menino do campo. A flor amarela não era poética como a vejo
agora. Era a entressafra (off- season, diz-se hoje). Havia flores,
flores em abundância. Não havia dinheiro. Era o período do preparo do
solo para as culturas de verão. "Sai andando e chorando, enquanto
semeia.", diz o Salmo (Sl 126: 5). Meu pai praguejava nesse tempo.
Malditas flores amarelas, dizia, não servem para nada: os animais não
comem, infestam tudo.
Hoje amo as flores amarelas. As estradas
ficam acolchoadas de flores. Os animais continuam não comendo as flores
amarelas. Mas elas conferem um encanto especial e efêmero às margens dos
caminhos. Elas continuam as mesmas de sempre. Mudei eu. Como mudei.
Meus cabelos louros... meus pés descalços... os riachos... os caminhos
sem asfalto. Hoje, cabelos???, ... sapatos, semeando dores nos meus pés
diabéticos... um olhar saudoso... uma barba grisalha e teimosa, cravada
na minha cara... nas narinas, o perfume psicológico das flores daquele
tempo...
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