Djalma de Andrade
A gente fala, protesta:
- Nesta terra nada presta,
O povo é lerdo , indolente...
É a farra, ninguém trabalha
A peste a pátria amortalha
Sob o sol rude, inclemente...
A lei é mito, pilhéria...
Ninguém liga a coisa séria,
Não há remédio , é da raça...
A vida se desbarata:
O pinho, a cuíca, a mulata,
O amarelão, a cachaça...
A gente murmura, fala,
Velhos defeitos, propala
Em língua rude e vil:
É a terra pior do mundo!
Mas no fundo, bem no fundo
Quanto amor pelo Brasil!
Tudo da boca pra fora!
Porque cá dentro ele mora,
Cá dentro a gente o sente...
Meu Brasil atrapalhado,
Meu Brasil confuso e errado,
Você vê que o povo mente.
Você vê que a gente grita,
Mas vê também que é infinita
Esta paixão por você...
Se a bandeira se levanta,
Lá vem o nó na garganta ,
E você sabe porquê...
Você sabe e não se importa,
A nossa injúria suporta,
E o nosso labéu também...
Deixe que xingue, que bata,
A gente fere e maltrata,
Quase sempre a quem quer bem.
Meu Brasil, aqui baixinho,
Ouça, sou todo carinho, E a minha alma você vê...
Qualquer perigo que corra,
Se for preciso que eu morra
Eu morrerei por você.
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