Certo dia, um espírito aventureiro arrastou-me para a Amazônia... inscrevi-me como orientador de estagiários do PROJETO RONDON... era lá na década de setenta, no século passado... e fui... o Mato Grosso é muitíssimo maior do que eu sonhava... ao sul, era o pântano sem fim... ao norte, a floresta imensa... nos intervalos do trabalho, aos fins de semana,primeiro, entrei num barco de pesca e conheci o pantanal e o espírito das águas do imenso rio Paraguai... milhares e milhares de quilômetros completamente desabitados... alagado até o horizonte que se perdia no azul do céu e do pântano... aqui e ali... de muito em muito longe... quilômetros e quilômetros de barco... no mais seco... uma fazenda totalmente isolada... tudo exatamente igual... até hoje não entendo o princípio de orientação daqueles homens rústicos... ilhotas de um lado e de outro, todas iguais... água... água por dois dias de andança... eu não sabia de que lado tinha vindo... não fazia ideia para onde me dirigir... jacarés aos milhares... desligavam-se os motores para não espantar os peixes... um silêncio de encanto e susto cobria tudo pelo dia e pela noite escura... ninguém podia falar... sem lua, um breu nigérrimo nos envolvia absolutamente e tudo... se o inferno existe, ali era mais tétrico,... as longas redes estendidas naquele infinito... tudo se assemelhava à Hecate dos mitos gregos... enxames de mosquitos zumbiam aos nossos ouvidos e torturavam os rostos... o calor era sufocante, somado ao cheiro dos cigarros que, de quando em quando, iluminavam a cara tosca dos pescadores... um susto... um jacaré abocanhava um peixe incauto... depois as cordas da rede cortavam as mãos esticadas pelo peso dos peixes... e tiramos rede e peixes... e voltamos guiados pelo espírito das águas... o barco cheio... o odor do porão embrulhava-me o estômago faminto... somente farofa seca para amainar a fome que me devorava as entranhas...
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