Passei diante do espelho…
- Lembras de mim? …
- Mim quem? Se era eu mesmo olhando para mim?…
Quando olho para mim, no espelho, vejo um tu… que sou eu… que não o sou… De outra forma… como poderia ser dois em um só tempo e espaço?… O espaço do espelho é mágico... o tempo também...
Se sou eu, somente posso ver um tu…
Tu, que incontestavelmente sou eu… mas como eu poderia olhar para eu... magias da linguagem... nunca posso ser tu... pela certeza inefável de que não posso ser dois...,.
- Não lembro… recordo-me de outros tus que já fui (ou sou?) eu… que hoje não sou mais… nem me espanto de não ser mais eu... porque, sem dúvida alguma, continuo sendo eu...
Olho e penso no tu que serei amanhã… um tu que ainda não é… que, inexoravelmente, será… se o relógio não parar para mim hoje…
Quantos tus não estarão contemplando-se a si mesmos, neste mesmo momento… meio espasmo… meio saudade… alguns medos… mas uma certeza absoluta… que não gostaria de ter… outros, olhando para mim, que não tenho mais espelho… nem face... nem nada... com a inexorável certeza… ouvindo apenas falar nele… que jamais será ou serei eu… será?
