quarta-feira, 25 de março de 2015

MAR MORTO – RARO FENÔMENO GEOGRÁFICO - DEAD SEA - RARE GEOGRAPHIC PHENOMENON


 Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Gizé - Egito
Situado no extremo sul de Israel, o mítico mar, estende-se por uma faixa de 50km de comprimento, por uma largura máxima de 18km, no sentido norte/sul, próximo ao deserto do Sinai, fronteira com o Egito. Algumas peculiaridades o diferenciam dos lagos de qualquer outra parte do mundo.
Primeiramente a enorme densidade de suas águas. Nele é impossível afogar-se, pois o corpo humano simplesmente flutua em suas águas, devido a essa densidade química, efeito de milhares e milhares de anos de acumulação de sais trazidos pelo rio Jordão.
Outra característica rara é tratar-se de uma enorme depressão geográfica. Situa-se a 400 metros abaixo do nível do mar, de tal forma que as águas do rio Jordão, ao se depositarem nele, não têm por onde escoar-se. Desse processo, origina-se a densidade química de seu líquido componente. Como o Jordão é um módico curso de águas e a região é muito árida, ele assim permanece de há milênios, sempre mais salgado e denso.
Mar Morto - via satélite

Pois um fenômeno de há poucos anos são as crateras das margens que o cercam. Cada vez menos água chega a seu leito, pois a cultura dos campos que o margeiam, tanto de Israel, à banda da direita, quanto da Jordânia, à margem esquerda, consomem uma parcela cada vez maior do líquido de seu curso. Além do mais, a indústria química, que explora a riqueza de seus componentes, também contribui para a diminuição de seu volume.
Pois esse processo todo provoca grandes vácuos sob o solo que o cerca. Há centenas de crateras no território que margeia o lago. Esse terreno inconsistente representa um perigo constante para quem caminha pelas redondezas. Ocorreu diversas vezes o fato de um transeunte sumir no abismo de uma profunda cratera que se abriu inesperadamente sob seus pés, ao passear pelos arredores do lago.

Essa região é paupérrima em água. A exploração da pouca quantidade de líquido disponível pelas mais diversas atividades humanas, desde o consumo para saciar a sede, passando pela agricultura, pela indústria e mesmo pelos sistemas de lazer como as piscinas e os balneários, leva a consequências deploráveis, como a dessas insidiosas crateras.

terça-feira, 24 de março de 2015

LITERATURA ALEMÃ CONTEMPORÂNEA - Ulrike Almut Sanding, poetisa -

Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Em Berlim
















ESTA LENDA SEGUE SEU PRÓPRIO DESTINO  (melhore a tradução)

pode ser que permaneçamos onde estamos, de frente
para a mesa, nas mãos a casca do pão de um dia anterior
não podemos preservar nada: migalhas pisadas fixam-se
nos ladrilhos, esta lenda segue seu próprio destino, falam-nos
assuntos sem questionamentos, vindo de baixo algo esfria e não há
caminho de volta a marcar, não viemos de lugar algum, nunca
estivemos noutro lugar, pode ser que não se vá mais
embora daqui, os olhos em curso dirigidos uns
sobre os outros, que ninguém dê o primeiro
salto para a janela, para a corrente de ar,
        para o verde vale.


ULRIKE ALMUT SANDING BIOGRAFIA
Ulrike Almut Sanding
         Poeta e escritora alemã contemporânea, nascida em 1979. Formou-se em jornalismo e fez mestrado em estudos religiosos na França e na Índia. Também formou-se em literatura pelo Instituto Alemão de Literatura em Leipzig (Deutsches Literaturinstitut Leipzig).
Na tradução portuguesa, adicionei o título precedendo o poema. No original, a autora coloca o título em negrito, no meio do poema. O título é apenas uma parte de um dos versos, conforme está na transcrição abaixo. Além disso, todo o poema está grafado apenas em minúsculas. Sabe-se que, na variante oficial do idioma alemão (Hochdeutsch), todos os substantivos são grafados em maiúsculas, não apenas os nomes próprios. Segue o poema original:

kann sein, dass wir bleiben, wo wir sind gegenüber
am tisch, in den händem die rinde vom brot eines vortags,
wir können nichts für uns behalten: die krumen treten sich fest
auf den fliesen, diese sage geht ihren eigenen pfad, es fehlt uns
an stoffen, keine frage, von unten her kühlt etwas aus und es gibt
keinen rückweg zu legen, wir kommen von nirgendwo her,
wir sind nie woanders gewesen. kann sein, dass wir hier.
nicht mehr weggehen werden, die augen im lauf
aufeinander gerichtet, das keiner als erster
den satz tut zum fenster, zur zugluft,
         zum südlichen wald.

segunda-feira, 23 de março de 2015

OS LIVROS DOS MORTOS DOS EGÍPCIOS - THE BOOKS OF THE DEAD OF EGYPTIANS

Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Este é um dos textos mais importantes para o conhecimento da forma de pensar dos antigos sábios egípcios, de modo especial no que tange a suas concepções sobre a religião e vida após a morte. Trata-se de uma coletânea de textos que tratam de feitiços, fórmulas mágicas, orações, hinos e litanias próprias dos rituais que eram seguidos nos cultos do antigo Egito. O título original desse livro é “Livro de Sair para a Luz”. (JACQ, 1999, p. 278).
Esses textos visavam a auxiliar o morto em sua viagem pelo mundo do além, afastando eventuais perigos que poderiam se apresentar ao viandante nesse percurso pelo mundo dos mortos.
O escopo do livro é justiça e a verdade. Diante da deusa Maat, de nada valeriam riquezas ou prestígio. Apenas seriam considerados os atos do falecido.
Os textos foram encontrados pelas tropas francesas na campanha do Egito, no fim do século XVIII e início do século XIX após a Revolução Francesa, logo antes do império de Napoleão. A tradução se deu durante o mandato de Napoleão e a primeira publicação deu-se em 1842.
A primeira tradução do texto original foi realizada pelo egiptólogo alemão Karl Richard Lepsius, em idioma alemão, a partir do papiro original Papyrus de Iuef-Ânkh, do período ptolomaico, pertencente ao museu de Turim. Lepsius dividiu seu trabalho em 165 capítulos, tendo destinado um capítulo para cada fórmula mágica.
Página do original dos Livros dos Mortos
Posteriormente, outros pesquisadores, baseados em outros papiros, traduziram e anexaram ao texto de Lepsius alguns outros capítulos. Porém, o essencial já se encontrava nessa tradução alemã de 1842. Hoje, esse livro contém 192 capítulos.
Os originais do Livro dos Mortos foram produzidos durante o Novo Império egípcio, em que esse país se estendia do Nilo até o Eufrates, na Mesopotâmia e na África, até a região onde hoje se situa Angola. Ocorre logo após o domínio dos Hicsos, no reinado dos faraós Tutmés I, II, III e IV, depois Amenófis II e III, e diversos outros que compuseram a XVIII, XIX e XX dinastia.
Em nossos termos de história, seria entre os anos 1580 e 1160 a. C. Pois foram esses faraós que transferiram a capital do Egito para a cidade de Tebas e construíram as sepulturas dos faraós no Vale dos Reis, situado na margem oeste do Rio Nilo, oposta à margem em que estava situada Tebas.
Na realidade, esse livro foi uma adaptação de textos muito mais antigos como o “Livro dos Sarcófagos”, produzido no fim do Império Antigo e especialmente durante o Império Médio. São mais de mil fórmulas que visavam a proteger o defunto no além morte e prover suas necessidades. Foram encontrados especialmente no interior dos sarcófagos, mas também, em menor quantidade, em vasos canópicos, estelas, paredes internas de túmulos e papiros.
Também foram consultados para a confecção do Livro dos Mortos, os Textos das Pirâmides. São os textos religiosos mais antigos descobertos até hoje. Eles têm mais de 4500 anos de existência.
Os "Livros dos Mortos" são escritos em hieróglifos cursivos. Esse título foi dado por Lepsius, o primeiro tradutor. Já Jean François Champollion em 1827, o decifrador dos hieróglifos, havia iniciado uma tradução desse livro.
Para Maria Carolina Duprat, “o ‘Livro dos Mortos’ marca um momento decisivo na história não somente da literatura funerária egípcia, mas do próprio ser humano diante de questões universais como a existência de uma alma imortal, as consequências das ações terrenas em uma vida póstuma onde os justos serão glorificados e desfrutaram da vida eterna.”
BIBLIOGRAFIA
1.   ALLEN, Thomas George. The Book of the Dead or Going Forth by Day. Illinois: The Oriental Institute of the University of Chicago, 1974. (Studies in Ancient Oriental Civilization 37).
2.   JACQ, Christian. Ramsés vol. 1 – O Filho da Luz. Rio de Janeiro: Bertrand, 1999.




domingo, 22 de março de 2015

SEGUNDO A MITOLOGIA, A METÁFORA TEM SUA ORIGEM NO MITO DE EROS - ACCORDING TO MYTHOLOGY, METAPHOR HAS ITS ORIGIN IN THE MYTH OF EROS

Prof. Dr. Oscar Brisolara

A figura de linguagem conhecida como metáfora tem sua origem no mito grego de Eros (ρως). Segundo as fontes da clássica Hélade, ele era filho de Póros e Penia.
Póros era uma divindade olímpica, filho de Zeus (Ζεύς) e da deusa Métis (Μτις). Exatamente no dia em que os deuses festejavam o nascimento de Afrodite, o deus Póros repousava placidamente nos jardins do Olimpo, morada das divindades helênicas, quando a jovem Penia (Πενία), pobre humana, mendiga, buscando possíveis migalhas do banque divinal, encontrou o belo deus adormecido. O deus, despertando, moveu-se de súbita paixão pela jovem que o observava curiosa e fecundou-a. Dessa união, nasceu Eros.
Dessa fusão da abundância divina e da extrema carência humana, surge, então, o deus que está na raiz de todas as artes, especialmente nas artes e nas ciências da linguagem. 
Eros é a raiz primeira da curiosidade e do desejo, que engendraram as ciências, e a mais recôndita e insondável delas todas, a linguagem, que cingiu os homens entre si e elevou-os, pela razão e pelo diálogo, ao universo dos deuses.
Toda a metáfora é fruto dessa carência essencial que Penia conferiu, de sua natureza mais profunda, à linguagem. Na fome da expressão, na ausência do termo próprio do gene de Penia, cai a abundância de Póros e traz uma palavra que, em não sendo termo positivo e fechado, é o suprimento abundante do vazio, que a incompletude humana busca na plenitude divina.
Portanto, a metáfora, a essência da linguagem e do literário, é sempre fruto de um vazio, que é preenchido por um termo proveniente de fora, que não é dali, como o demonstra sua etimologia grega: μεταφορά (metaforá), (μετά = além, de outra parte e φέρω, transportar), portanto, há algo que se transporta de fora, para compor a plenitude extrapolante do sentido. 
Mas, de certo modo, toda a linguagem é eterna metáfora, é suprimento da carência essencial do espírito humano na busca do dizer e do sentido, no encontro do outro, também carente e faminto de linguagem, cujo rosto diante mim me interroga e desafia.
A linguagem humana é, pela própria característica essencial do espírito dos mortais, repleta de ausências, de abismos marcados pela incompletude. E a metáfora é esse complemento que provém de outro lugar, que se situa em outro universo de significação, e se insere nesses vazios de sentindo, extrapolando, pela abundância divina, a carência humana.


POESIA ALEMÃ - Else Lasker-Schüler (1869-1945) - DEUTSCHE LITERATUR - GERMAN LITERATURE


MEU PIANO AZUL (melhore a tradução)

Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Eu tenho em casa um piano azul
Mas não conheço nenhuma nota.
Encontra-se à sombra da porta do porão,
Desde a decadência do mundo.
Mãos de quatro estrelas, tocam harmonia
- a Lua virgem cantou em seu barco –
Agora ratos dançam nas claves.
Quebrado está o teclado...
Lamento pela triste morte.
Ah, amado anjo, abra para mim
- pois tenho comido pão amargo –
Em mim já existe o portão do Paraíso,
Enquanto ainda continuo viva,
Mesmo que contra o decreto legal.

MEIN BLAUES KLAVIER
Ich habe zu Hause ein blaues Klavier
Und kenne doch keine Note.
Es steht im Dunkel der Kellertür,
Seitdem die Welt verrohte.
Es spielten Sternenhände vier –
Die Mondfrau sang im Boote.
– Nun tanzen die Ratten im Geklirr.
Zerbrochen ist die Klaviatur.
Ich beweine die blaue Tote.
Ach liebe Engel öffnet mir
– Ich aß vom bitteren Brote –
Mir lebend schon die Himmelstür,
Auch wider dem Verbote.

MY BLUE PIANO
At home I have a blue piano
But have no note to play.
It stands in the shadow of the cellar door,
There since the world's decay.
Four star-hands play harmony
-The Moon-maiden sang in her boat-
Now the rats dance janglingly.
Broken is the key board...
I weep for the blue dead.
Ah, dear angel, open to me
-What bitter bread I ate-
Even against the law's decree,
In life, heaven's gate.

Else Lasker-Schüler (1869-1945) foi uma poeta e dramaturga judia-alemã, de Berlim, que se destacou pela vida boêmia. Pertenceu ao pequeno grupo feminino ligado ao expressionismo. Fugiu do nazismo e refugiou-se em Jerusalém ainda antes da criação do moderno estado de Israel.
Sua obra teatral era inspirada, principalmente seu pai, um banqueiro judeu, e sua poesia inspirou-se na própria mãe. Seu estilo boêmio tornou difícil sua vida no Oriente Médio.
Lasker-Schüler deixou sem publicar vários volumes de poesia e três peças de teatro, bem como diversas narrativas curtas, ensaios e muitas cartas. No decorrer da vida, publicou seus poemas em várias revistas, entre as quais a revista Der Sturm, editada por seu segundo marido, e Karl Kraus’  ‘Fackel. Ela também publicou diversas antologias de poesia, algumas das quais foram ilustradas por ela mesma. Exemplos de suas publicações são:
Styx (volume publicado pela primeira vez da poesia, 1902)
Tag Der Siebente (segundo volume de poesia, 1905)
Meine Wunder (primeira edição, 1911)
Gesammelte Gedichte (1917)
Mein Blaues Klavier (1943)