Prof. Dr. Oscar Brisolara
A figura de linguagem conhecida como metáfora tem sua origem
no mito grego de Eros (Ἔρως).
Segundo as fontes da clássica Hélade, ele era filho de Póros e Penia.
Póros era uma divindade olímpica, filho de Zeus (Ζεύς) e da
deusa Métis (Μῆτις).
Exatamente no dia em que os deuses festejavam o nascimento de Afrodite, o deus
Póros repousava placidamente nos jardins do Olimpo, morada das divindades
helênicas, quando a jovem Penia (Πενία), pobre humana, mendiga, buscando
possíveis migalhas do banque divinal, encontrou o belo deus adormecido. O deus, despertando, moveu-se de súbita paixão pela jovem que o observava curiosa e fecundou-a. Dessa união, nasceu Eros.
Dessa fusão da abundância divina e da extrema carência
humana, surge, então, o deus que está na raiz de todas as artes, especialmente
nas artes e nas ciências da linguagem.
Eros é a raiz primeira da curiosidade e do desejo, que
engendraram as ciências, e a mais recôndita e insondável delas todas, a
linguagem, que cingiu os homens entre si e elevou-os, pela razão e pelo
diálogo, ao universo dos deuses.
Toda a metáfora é fruto dessa carência essencial que Penia
conferiu, de sua natureza mais profunda, à linguagem. Na fome da expressão, na
ausência do termo próprio do gene de Penia, cai a abundância de Póros e traz
uma palavra que, em não sendo termo positivo e fechado, é o suprimento
abundante do vazio, que a incompletude humana busca na plenitude divina.
Portanto, a metáfora, a essência da linguagem e do
literário, é sempre fruto de um vazio, que é preenchido por um termo
proveniente de fora, que não é dali, como o demonstra sua etimologia grega: μεταφορά (metaforá), (μετά = além, de outra parte e φέρω, transportar),
portanto, há algo que se transporta de fora, para compor a plenitude
extrapolante do sentido.
Mas, de certo modo, toda a linguagem é eterna metáfora, é
suprimento da carência essencial do espírito humano na busca do dizer e do
sentido, no encontro do outro, também carente e faminto de linguagem, cujo
rosto diante mim me interroga e desafia.
A linguagem humana é, pela própria característica essencial do
espírito dos mortais, repleta de ausências, de abismos marcados pela
incompletude. E a metáfora é esse complemento que provém de outro lugar, que se
situa em outro universo de significação, e se insere nesses vazios de sentindo,
extrapolando, pela abundância divina, a carência humana.
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