Há quem afirme que o primeiro sistema coletivo de
organização das sociedades humanas começou por um processo de matriarcado.
Tanto a sucessão quanto o poder estavam vinculados à mãe. Assim, as divindades primitivas gregas mais antigas
relacionavam-se com Gaia, Geia, Gea (Γαῖα,
γῆ). Gaia é a
mãe-terra, que gera e nutre todos os seres vivos, protege-os enquanto vivos, abençoa todas as gestações e, por fim, acolhe as cinzas de todos os mortos, Gé (γῆ), a terra
física, é a mãe da geografia e dos astros. .
O homem, o macho da espécie, cultuava a mulher como aquela
que tinha o dom de gerar, de reproduzir a vida, sem suspeitar de que tinha
papel fundamental nesse processo. Por isso, sujeitava-se às suas ordens e leis, protegia-a, e lutava para prover-lhe o sustento, juntamente com a prole.
Somente com a domesticação dos animais foram desvendandos os mistérios da vida e da existência. Como os machos, para ele, não
se reproduziam, passou a devorá-los todos. Então, chegou a descobrir o papel do
macho na reprodução, processo que incluía ele mesmo no sistema. Rebanho em que não havia machos não se reproduzia.
Até esse momento, as sociedades eram matriarcais: como entre
as abelhas, as formigas e os cupins, havia uma rainha que exercia o poder
absoluto, sendo que a transmissão de bens e nomes se dava pelo lado feminino.
Com o desvendar de seu papel no processo reprodutivo, o
homem depôs a mulher de sua função de poder nas comunidades e, gradativamente,
se foram criando os patriarcados, com todas as consequências sociais daí
decorrentes, originando o machismo que impera nos grupos sociais humanos.
Até meados do século XX, o homem, macho da espécie, era
geralmente quem provia as necessidades materiais do grupo familiar. Isso lhe
conferia poder sobre a mulher e os filhos. Desde as comunidades gregas até a
sociedade romana, com seu paterfamílias, ou chefe do clã, até todas as sociedades medievais, e mesmo,
depois, as feudalistas, os grupos humanos seguiam esse molde patriarcal, que se
reproduzia em toda parte.
No século XIX, com o surgimento da sociedade industrial, a multiplicação
das fábricas exigiu cada vez mais braços para o trabalho. Primeiramente, houve
modificação na legislação feudalista, que agregava o cidadão à gleba em que
trabalhava. Houve uma enorme liberação de servos da gleba que, abandonando os
campos, juntavam-se aos aglomerados industriais, criando enormes cortiços, nos
arredores das grandes cidades.
Assim mesmo, com a necessidade do aumento de produção, essa
mão-de-obra não era suficiente para atender à voracidade do novo sistema. Com a
escassez de braços, intensificaram-se as exigências por maiores salários e se
criaram cada vez mais leis trabalhistas, conferindo direitos aos trabalhadores,
como limitações na quantidade de horas diárias de trabalho, benefícios aos filhos,
segurança contra acidentes e tantos outros. Era uma questão de baixa oferta de
operários e alta demanda de vagas novas a cada dia.
Foi então que se descobriu o filão da mão-de-obra feminina.
Mas havia uma gama enorme de preconceitos em relação à mulher. Era considerado
um ser menos capaz, fisicamente mais fraco, portanto, menos apto ao trabalho. Além
do mais, havia toda uma perspectiva machista em relação aos maridos.
Enciumados, não desejavam que suas esposas trabalhassem em ambientes onde
estivessem expostas a outros homens.
Os mentores da nova proposta valeram-se do crescente desejo
de emancipação da mulher. Juntaram-se aos movimentos feministas. A publicidade
foi minando as resistências de grupos mais conservadores. Aos poucos, foram
criando áreas específicas de atuação feminina. O processo foi-se expandindo.
Havia imensas vantagens na presença da mulher no processo
produtivo. Primeiramente, como não era provedora do lar, aceitava trabalhar por
salários muito inferiores aos dos homens. Isso diminuía a pressão masculina por
aumentos salariais.
Gradativamente, a participação da mulher no processo
produtivo se intensificou de tal maneira, que atingiu a todas as profissões e a
todas as áreas, os salários se foram uniformizando mais, sendo, hoje, quase
impossível haver uma mulher que não trabalhe fora de sua residência ou não
almeje a uma profissão.
Em nossos dias, criaram-se tantas necessidades, muitas delas
supérfluas, que a imprensa e a publicidade reforçaram tanto, o que exige cada vez
mais disponibilidade financeira dos indivíduos e das famílias. Desenvolveram-se,
por outro lado, formas de dar conta dos filhos, como creches e escolas de
funcionamento integral.
É lógico que todo esse processo teve sérias influências no
feminismo. Por um lado, com a independência financeira, deixou a mulher muito
menos dependente de seu companheiro. Por outro lado, para o aprimoramento
profissional, houve a necessidade de um aumento considerável da escolaridade
feminina, o que teve uma profunda influência também em suas concepções da
existência e da si mesma, como de seu papel nos grupos sociais. Isso tornou-a
menos influenciável, menos manipulável.
O que surgiu como um processo de manipulação, acabou por beneficiar,
de modo geral, as mulheres. Não é mais possível retornar ao que era há um
século atrás. A transformação é irreversível.
A mulher é hoje muito mais senhora de si, muito mais
independente, tanto em relação ao marido, quanto no que tange à própria
comunidade humana. Há males que vêm para bem. Feliz dia internacional da
mulher!
Brilhante.
ResponderExcluirObrigado pela incewntivante opinião, amigo.
ResponderExcluirObrigado pela incewntivante opinião, amigo.
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