sexta-feira, 20 de março de 2015

O MITO DE ÉDIPO SEGUNDO A INTERPRETAÇÃO DE SIGMUND FREUD - THE OEDIPUS MYTH ACCORDING TO SIGMUND FREUD'S INTERPRETATION


 Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Em Viena
         A leitura primeira do mito de Édipo contemplava o destino inexorável de cada ser humano, ou seja, viam no filho de Laio e Jocasta, não o assassino do próprio pai, mas um homem destinado pelos deuses a cumprir uma decisão insondável, da qual não teria como se afastar. Portanto, não seria um pecador, mas um ser que cumpria seu fado inquestionável.
         Já o estudioso francês Claude Lévi-Strauss, quando estudava a origem da família, abordara a proibição do incesto. Ora, a origem deste termo revela muito de seu significado. O prefixo in, nessa combinação, tem o sentido de negação, não; -cesto consiste na mutação fonética do termo latino castus, que significa puro, portanto, o incesto, seria uma relação impura. Ora, é considerado incestuoso o vínculo marital ou sexual entre parentes consanguíneos até determinado grau de proximidade, geralmente até primos de primeiro grau.
         Essa proibição invocava, quase sempre, princípios religiosos, porém seus fundamentos essenciais vinculavam-se a muitas mutações genéticas degenerativas que costumam ocorrer com certa frequência nos descendentes resultantes dessas ligações entre muitas espécies animais, mormente nos mamíferos, entre os quais se insere o ser humano.
          Pois é justamente a proibição do incesto que vai determinar o intercâmbio e a circulação das mulheres entre os grupos sociais, processo que vai gerar o surgimento da família. Depois de milênios, temos o grupo familiar de hoje. Freud busca, em seus estudos e pesquisas, as ocorrências que atingem o grupo social e os efeitos resultantes na psique de seus membros.
          Fundado nessas observações, Freud teoriza a família edipiana. Num processo indutivo aristotélico, Freud reinventa Édipo, não mais segundo o modelo helenista, mas um novo Édipo, com um grande complexo psicológico.
          Conforme David Zimerman, “O termo Complexo de Édipo criado por Freud e inspirado na tragédia grega Édipo Rei designa o conjunto de desejos amorosos e hostis que a criança experimenta com relação aos seus pais...” (ZIMERMAN 2008, p. 73/75). E continua Rycroft “Os homens são atraídos pela mãe, enquanto as mulheres são atraídas pelo pai.”
          Assim, na esteira de Freud, Jones explica a misteriosa procrastinação de Hamlet como consequência do Complexo de Édipo. Dessa forma, Hamlet torna-se a imagem inversa de Édipo. A metáfora de Édipo traz a presença do outro na formação do sujeito.
          Há, no entanto, que conteste a interpretação do psicanalista vienense. O próprio Freud, identificado com as antigas dinastias reais gregas, por seus vínculos com a elite europeia das decadentes cortes do final do século XIX, cria um sujeito culpado pelos desejos que a natureza lhe impõe. Assim, generaliza para todas as sociedades e todos os tempos, problemas que são específicos de um extrato social sofisticado vienense, de madames desocupadas e amorosamente frustradas, em suas relações com homens cujos valores privilegiavam o sucesso econômico e militar, em detrimento dos valores afetivos e familiares.
                  
BIBLIOGRAFIA

1. Rycroft, Charles. A Critical Dictionary Psychoanalysis. Penguin Books,1995.
2. Zimerman, David E..Vocabulário Contemporâneio de Psicanálise. Artmed, 2008. I



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