Prof. Dr.
Oscar Luiz Brisolara
Nas ruínas da velha Éfeso das Escrituras |
As heteras (ἑταῖραι), na Grécia antiga, não
eram simplesmente prostitutas, como querem alguns. Eram companheiras cultas de
homens cultos e ricos. Como estrangeiras, não se submetiam à legislação local. Podiam
ter seus próprios negócios, suas propriedades, seus lucros e dinheiro, o que
era vedado à mulher nativa grega, que dependia, ora pai, ora do marido ou do
irmão mais velho. Por isso, eram invejadas. Algumas dedicavam-se unicamente à
prostituição, mas muitas outras não.
Um caso célebre é o de Aspásia, por quem o grande Péricles,
o célebre administrador de Atenas, se teria apaixonado, de tal modo que, por
ela, abandonou a própria esposa, com a qual teve um filho.
Aspásia era uma mulher culta, grande conhecedora de
filosofia, professora de retórica e exímia escritora de peças de oratória, além
de ser dotada de grande beleza e elegância. Caracterizava-se também pela fineza
dos costumes.
As hetairai distinguiam-se, nas comunidades gregas antigas, por
serem independentes e, até mesmo, destacavam-se por serem mulheres influentes
que se adornavam com vestidos elegantes e joias preciosas e, até mesmo, estavam
submetidas ao pagamento de impostos, como ocorria com os homens.
hetera |
Muitas vezes entravam no país como escravas provindas de
outros países, geralmente como conquistas de guerra. Como, em seus países de
origem, haviam sido educadas ora nas cortes, ora em famílias abastadas e
privilegiadas, destacavam-se pela cultura e sabedoria e, muitas vezes, também
eram especialistas em artes, tais como a poesia, a dança e a música. Por seus
dotes pessoais, muitas delas tiveram destaque nas cidades gregas.
Diferenciam-se da maioria das mulheres gregas, modestas, simples e submissas.
Grande parte delas dedicaram-se ao meretrício, administrando luxuosas casas de
prostituição.
Anselm Feuerbach - O Banquete de Platão |
Ao contrário da maioria das outras mulheres na sociedade
grega da época, portanto, as hetairai eram educadas. Além do mais, elas
também eram as únicas mulheres que participavam dos simpósios, onde o seu
parecer era acolhido e respeitado pelos homens.
Simpósios eram banquetes próprios da elite das
cidades-estados gregas. O termo simpósio, também traduzido por banquete, provém
do termo grego συμπόσιον (sympósion), formado do verbo συμπίνειν (sympínein),
cujo sentido original é beber juntos. Portanto, era um encontro para beberem
juntos. O próprio diálogo de Platão traduzido geralmente em português como “O
Banquete” tem o título em grego como Συμπόσιον (Sympósion).
A hetera Aspásia, compaanheira de Péricles |
Na obra de Plutarco “A Vida de Demétrio” (Δημήτριος –
Demétrios) o rei é representado como tendo diversas esposas, mas tendo
relacionamento com mulheres livres, as heteras. O –ai (-αι) final da palavra
grega hetairai (ἑταῖραι) é a marca do
nominativo plural da primeira declinação grega, que vai corresponder à
desinência de gênero e número em português –as.
As heteras foram as únicas mulheres na Grécia a terem acesso
e controle sobre uma grande quantidade de dinheiro. Porém, não devem ser elas
confundidas com as simples prostitutas, que eram conhecidas como pornai (πόρναι),
as quais vendiam sexo nas ruas ou nos bordéis.
Pois, essas mulheres conquistaram um espaço privilegiado na
sociedade grega, onde à mulher, geralmente, era atribuído um papel de coadjuvante,
tendo poucas categorias, como as sacerdotisas, conquistado um espaço de
respeitável prestígio.
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