Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Este é um dos textos mais importantes para o conhecimento da
forma de pensar dos antigos sábios egípcios, de modo especial no que tange a
suas concepções sobre a religião e vida após a morte. Trata-se de uma coletânea
de textos que tratam de feitiços, fórmulas mágicas, orações, hinos e litanias
próprias dos rituais que eram seguidos nos cultos do antigo Egito. O título
original desse livro é “Livro de Sair para a Luz”. (JACQ, 1999, p. 278).
Esses textos visavam a auxiliar o morto em sua viagem pelo
mundo do além, afastando eventuais perigos que poderiam se apresentar ao
viandante nesse percurso pelo mundo dos mortos.
O escopo do livro é justiça e a verdade. Diante da deusa
Maat, de nada valeriam riquezas ou prestígio. Apenas seriam considerados os
atos do falecido.
Os textos foram encontrados pelas tropas francesas na
campanha do Egito, no fim do século XVIII e início do século XIX após a
Revolução Francesa, logo antes do império de Napoleão. A tradução se deu
durante o mandato de Napoleão e a primeira publicação deu-se em 1842.
A primeira tradução do texto original foi realizada pelo
egiptólogo alemão Karl Richard Lepsius, em idioma alemão, a partir do papiro original
Papyrus de Iuef-Ânkh, do período
ptolomaico, pertencente ao museu de Turim. Lepsius dividiu seu trabalho em 165
capítulos, tendo destinado um capítulo para cada fórmula mágica.
Página do original dos Livros dos Mortos |
Posteriormente, outros pesquisadores, baseados em outros
papiros, traduziram e anexaram ao texto de Lepsius alguns outros capítulos.
Porém, o essencial já se encontrava nessa tradução alemã de 1842. Hoje, esse
livro contém 192 capítulos.
Os originais do Livro dos Mortos foram produzidos durante o
Novo Império egípcio, em que esse país se estendia do Nilo até o Eufrates, na
Mesopotâmia e na África, até a região onde hoje se situa Angola. Ocorre logo
após o domínio dos Hicsos, no reinado dos faraós Tutmés I, II, III e IV, depois
Amenófis II e III, e diversos outros que compuseram a XVIII, XIX e XX dinastia.
Em nossos termos de história, seria entre os anos 1580 e
1160 a. C. Pois foram esses faraós que transferiram a capital do Egito para a
cidade de Tebas e construíram as sepulturas dos faraós no Vale dos Reis,
situado na margem oeste do Rio Nilo, oposta à margem em que estava situada
Tebas.
Na realidade, esse livro foi uma adaptação de textos muito
mais antigos como o “Livro dos Sarcófagos”, produzido no fim do Império Antigo
e especialmente durante o Império Médio. São mais de mil fórmulas que visavam a
proteger o defunto no além morte e prover suas necessidades. Foram encontrados
especialmente no interior dos sarcófagos, mas também, em menor quantidade, em
vasos canópicos, estelas, paredes internas de túmulos e papiros.
Também foram consultados para a confecção do Livro dos
Mortos, os Textos das Pirâmides. São os textos religiosos mais antigos
descobertos até hoje. Eles têm mais de 4500 anos de existência.
Os "Livros dos Mortos" são escritos em hieróglifos
cursivos. Esse título foi dado por Lepsius, o primeiro tradutor. Já Jean
François Champollion em 1827, o decifrador dos hieróglifos, havia iniciado
uma tradução desse livro.
Para Maria Carolina Duprat, “o ‘Livro dos Mortos’ marca um
momento decisivo na história não somente da literatura funerária egípcia, mas
do próprio ser humano diante de questões universais como a existência de uma
alma imortal, as consequências das ações terrenas em uma vida póstuma onde os
justos serão glorificados e desfrutaram da vida eterna.”
BIBLIOGRAFIA
1.
ALLEN, Thomas George. The Book of the Dead
or Going Forth by Day. Illinois: The Oriental Institute of the University of
Chicago, 1974. (Studies in Ancient Oriental Civilization 37).
2.
JACQ, Christian. Ramsés vol. 1 – O Filho da Luz.
Rio de Janeiro: Bertrand, 1999.
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