quinta-feira, 13 de novembro de 2014

POETA MANOEL DE BARROS – O MUNDO É UM POUCO MAIS FELIZ PORQUE NELE VIVESTE


 Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Manoel de Barros
Os poetas não morrem, mas continuam vivos em sua arte. Manoel de Barros é uma comprovação disso. Hoje, ele nos deixou, com a idade de 97 anos. Nasceu em Cuiabá em 19 de dezembro de 1916 e faleceu em 13 de novembro de 2014. Formou-se em Direito no Rio de Janeiro. Na juventude, foi militante de esquerda. Foge para oi exterior, Bolívia, Peru e Usa durante a ditadura Vargas. Dedica-se às artes, mormente à pintura e ao cinema.
Retornando ao Brasil, dedica-se à pecuária.  Porém, a vidada toda, dedicou-se à literatura, mormente à poesia, sendo classificado entre os poetas pós-modernos. Foi fecundíssimo em sua produção poética, tendo recebido duas vezes o prêmio Jabuti de literatura.
OBRAS DO AUTOR
1942 — Face imóvel
1956 — Poesias
1960 — Compêndio para uso dos pássaros
1966 — Gramática expositiva do chão
1974 — Matéria de poesia
1980 — Arranjos para assobio
1985 — Livro de pré-coisas
1989 — O guardador das águas
1990 — Gramática expositiva do chão: Poesia quase toda
1993 — Concerto a céu aberto para solos de aves
1993 — O livro das ignorãças
1996 — Livro sobre nada
1996 — Das Buch der Unwissenheiten - Edição da revista alemã Akzente
1998 — Retrato do artista quando coisa
2000 — Ensaios fotográficos
2000 — Exercícios de ser criança
2000 — Encantador de palavras - Edição portuguesa
2001 — O fazedor de amanhecer
2001 — Tratado geral das grandezas do ínfimo
2001 — Águas
2003 — Para encontrar o azul eu uso pássaros
2003 — Cantigas para um passarinho à toa
2003 — Les paroles sans limite - Edição francesa
2003 — Todo lo que no invento es falso - Antologia na Espanha
2004 — Poemas Rupestres
2005 — Riba del dessemblat. Antologia poètica — Edição catalã (2005, Lleonard Muntaner, Editor)
2005 — Memórias inventadas I
2006 — Memórias inventadas II
2007 — Memórias inventadas III
2010 — Menino do Mato
2010 — Poesia Completa
2011 — Escritos em verbal de ave
2013 — Portas de Pedro Viana


         Em artigo sobre Manoel de Barros intitulado “A Metalinguagem em Manuel de Barros: Uma Tática da Criação”, Suzel Domini dos Santos afirma:
A poesia moderna, antes de qualquer coisa, volta-se para si própria, enfocando a matéria que a torna arte, ou seja, a linguagem. Um dos grandes traços marcantes da poética de Manoel de Barros, poeta brasileiro contemporâneo que vem na esteira da modernidade, é justamente a auto-reflexão, o pensar sobre a poesia dentro da própria poesia, o que o poeta faz utilizando, entre outros recursos, a função metalinguística, que tem como base as concepções de consciência e construção. No presente artigo, objetivamos analisar justamente o processo de criação que se volta para a própria criação em alguns poemas de Manoel de Barros, poemas retirados dos livros O guardador de águas (1993) e O livro das ignorãças (2009).

Manoel de Barros usa o poema para fazer metalinguagem. As palavras são usadas para contemplar as próprias palavras. Veja-se o poema a seguir:

O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

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