Os poetas não
morrem, mas continuam vivos em sua arte. Manoel de Barros é uma comprovação
disso. Hoje, ele nos deixou, com a idade de 97 anos. Nasceu em Cuiabá em 19 de
dezembro de 1916 e faleceu em 13 de novembro de 2014. Formou-se em Direito no
Rio de Janeiro. Na juventude, foi militante de esquerda. Foge para oi exterior,
Bolívia, Peru e Usa durante a ditadura Vargas. Dedica-se às artes, mormente à
pintura e ao cinema.
Retornando ao
Brasil, dedica-se à pecuária. Porém, a vidada
toda, dedicou-se à literatura, mormente à poesia, sendo classificado entre os
poetas pós-modernos. Foi fecundíssimo em sua produção poética, tendo recebido
duas vezes o prêmio Jabuti de literatura.
OBRAS DO
AUTOR
1942 — Face
imóvel
1956 — Poesias
1960 — Compêndio
para uso dos pássaros
1966 — Gramática
expositiva do chão
1974 — Matéria
de poesia
1980 — Arranjos
para assobio
1985 — Livro
de pré-coisas
1989 — O
guardador das águas
1990 — Gramática
expositiva do chão: Poesia quase toda
1993 — Concerto
a céu aberto para solos de aves
1993 — O livro das ignorãças
1996 — Livro
sobre nada
1996 — Das Buch der
Unwissenheiten - Edição da revista alemã Akzente
1998 — Retrato
do artista quando coisa
2000 — Ensaios
fotográficos
2000 — Exercícios de ser criança
2000 — Encantador de palavras -
Edição portuguesa
2001 — O
fazedor de amanhecer
2001 — Tratado geral das
grandezas do ínfimo
2001 — Águas
2003 — Para
encontrar o azul eu uso pássaros
2003 — Cantigas para um
passarinho à toa
2003 — Les paroles sans limite -
Edição francesa
2003 — Todo lo que no invento es
falso - Antologia na Espanha
2004 — Poemas
Rupestres
2005 — Riba
del dessemblat. Antologia poètica — Edição catalã (2005, Lleonard
Muntaner, Editor)
2005 — Memórias
inventadas I
2006 — Memórias
inventadas II
2007 — Memórias
inventadas III
2010 — Menino
do Mato
2010 — Poesia
Completa
2011 — Escritos
em verbal de ave
2013 — Portas
de Pedro Viana
Em
artigo sobre Manoel de Barros intitulado “A Metalinguagem em Manuel de Barros:
Uma Tática da Criação”, Suzel Domini dos Santos afirma:
A poesia moderna, antes de qualquer coisa, volta-se para si
própria, enfocando a matéria que a torna arte, ou seja, a linguagem. Um dos
grandes traços marcantes da poética de Manoel de Barros, poeta brasileiro
contemporâneo que vem na esteira da modernidade, é justamente a auto-reflexão,
o pensar sobre a poesia dentro da própria poesia, o que o poeta faz utilizando,
entre outros recursos, a função metalinguística, que tem como base as
concepções de consciência e construção. No presente artigo, objetivamos
analisar justamente o processo de criação que se volta para a própria criação
em alguns poemas de Manoel de Barros, poemas retirados dos livros O guardador
de águas (1993) e O livro das ignorãças (2009).
Manoel
de Barros usa o poema para fazer metalinguagem. As palavras são usadas para
contemplar as próprias palavras. Veja-se o poema a seguir:
O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário