Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Sísifo, de Tiziano, 1549 |
Sísifo
recebera o trono de Corinto após a morte de Creonte e a partida de Jasão e
Medeia da cidade. Sísifo casara-se com Mérope, uma das sete Plêiades.
Teria
um irmão de nome Salmoneu a quem detestava. Usando de estratégias, acabou provocando
a morte do irmão. Zeus enviou-o a Tânato, divindade da morte. Porém, o astuto Sísifo
enganou esse deus, elogiando sua beleza, e convencendo-o de que ficaria mais
belo com um colar ao pescoço. Assim, aprisionou-o com uma corrente, de tal
forma que, por muito tempo, ninguém mais morria.
Essa
atitude do herói provocou a ira de Ares, deus da guerra, e de Hades, deus dos
mortos, que precisavam da Morte para exercer suas funções. Logo que tomou
conhecimento da prisão de Tânato, Hades libertou-o e solicitou-lhe que
trouxesse o embusteiro para a mansão dos mortos.
Ainda
desta vez, ele ludibria as divindades. Antes de partir para o mundo subterrâneo,
pedira que sua esposa deixasse seu corpo insepulto. Chegado à mansão da morte,
queixou-se a Hades de que a esposa não o havia sepultado. Solicitou à divindade
o obséquio de retornar e providenciar as próprias exéquias, o que lhe foi
concedido.
Chegado
à sua casa, retomou o próprio corpo e fugiu em companhia da esposa. Desse modo,
pelo segunda vez, ludibriara a Morte. Assim, escondido dos deuses, viveu até
avançada velhice.
O suplício de Sísifo - Franz von Stuck (1863 - 1928) |
Zeus
ordenou a Hermes que o conduzisse ao tártaro onde teve um castigo exemplar, por
sua contumaz rebeldia e desacato às ordens divinas. Sua pena foi conduzir,
rolando-a com as próprias mãos, uma enorme pedra de mármore ao cume de um
outeiro. Lá chegada, a pedra rolava morro abaixo por um empuxo irresistível. O
condenado teria de novamente movê-la ao topo, assim, constantemente e para todo
o sempre.
Albert
Camus, o grande escritor argelino-francês, escreveu uma versão muito bem
elaborada do mito sisifiano. Em sua filosofia do absurdo, o romancista explora
o tema de que a vida humana sobre a terra e o esforço que ela exige do ser
humano é completamente absurda, levansdo-se em consideração que o escritor é ateu.
Em
“O Mito de Sísifo”, Camus afirma que,
num mundo sem Deus, nem eternidade, ao homem somente resta a revolta. Procura
um sentido para o ateu dentro dessa existência absurda. Somente a paixão numa
dimensão estritamente material e humana é uma possível saída. Afirma: "Não
há um nobre amor, mas o que reconhece - tanto os efêmeros quanto os
duradouros". Dom Juan, o conquistador inveterado, seria exemplo acabado
desse amor.
Camus
explora também o absurdo criador ou do artista. Desde a explicação é
impossível, o absurdo da arte é restrita a uma descrição das inúmeras
experiências no mundo. "Se o mundo fosse claro, a arte não
existiria." A absurda criação, naturalmente, tem também de abster-se de
julgar e de aludir ao mesmo tempo a menor sombra de esperança.
Para
o narrador, o mito de Sísifo aponta para um tipo de homem que não se acomoda a
um destino proposto pela divindade. Pelo contrário, não crê em prêmio ou
castigo, após a morte. A vida humana, nesse aspecto, é absurda: não existe
paraíso, não existe inferno. O homem deve aprender a conformar-se com sua
finitude e com o nada que se segue à morte. Conclui: "O operário de
hoje trabalha todos os dias em sua vida, faz as mesmas tarefas. Esse destino
não é menos absurdo, mas é trágico quando apenas em raros momentos ele se torna
consciente".
Outras
leituras menos pessimistas podem ser feitas a partir do mito de Sísifo. Ele é apontado por
uns como o mito da paciência, do sonho no futuro. Mesmo sofrendo revezes, é
possível continuar lutando por ideais difíceis de atingir. O impossível não
existe. O persistente acaba atingindo sua meta. A paciência diminui a dor.
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