terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O VAGA-LUME E O MONGE


Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Em Bratislava
A noite completa caíra sobre os campos enegrecidos. Lua nova. Apenas as estrelas no céu. Como um fumo, o negror da noite entre os outeiros e as estrelas, delimitava a borda dos bosques perdidos naquele ermo distante dos homens e da civilização.

Porém, riscos luminosos dourados cortavam o ar em todos os sentidos. Um calor abafadiço subia do solo e envolvia os seres viventes por banhados e campos, canhadas e rochedos aprumados apontando para o céu calado e brilhante.

No sul, o Cruzeiro, depois as Três Marias, e alguns pontos brilhantes maiores destacavam-se de uma poeira luminosa que se perdia no infinito sem medida, ao correr do olhar do observante perdido.

De quando em quando, uma nuvem, esvoaçante e clara, enxugava o halo das estrelas menos luzidias, e depois se perdia no horizonte, por detrás das cordilheiras longínquas.
Sentado num rochedo duro, o velho monge orava a seu Deus embuçado entre estrelas e crenças. Esses pirilampos eram as metáforas passageiras das estrelas perenes. Multiplicavam-se, eles na terra, elas no firmamento infinito.

Noite de pirilampos
Os agricultores gregos, há milênios, procuravam no horizonte as colunas que sustentavam o véu luminoso, pleno de archotes, na morada dos deuses do bem. Do Olimpo abençoado, as divindades curavam dos humanos, disputando donzelas e rapazes. Os homens, cansados de procurar os traços do próprio destino, percorriam, cada qual, seu vale de lágrimas e dores, aguardando a sorte que lhes tocava, procurando-a nos caminhos das estrelas.

O santo monge, com o olhar perdido e a alma na contemplação divina, seguia os traços dos vaga-lumes, que apontavam para o infinito. Lembravam-no, em seus rápidos e passageiros traçados luminosos, a brevidade do estágio humano na terra.
Por seu lado, as montanhas apontavam para os astros brilhantes, no céu silente e magno. Eram o apelo do Ser Infinito que lhe assegurava a eternidade da existência humana, após esta jornada probatória e breve.
Nos jardins do Louvre

Um pensador solitário, percorria os caminhos escuros e perdidos dos campos, encantado com a luminosidade, contrastando entre as trevas, sem a fé revelada do monge, nem a ingenuidade romanesca do agricultor. Seu espírito perquiridor buscava, ora, o caminho transitório e frágil do voador luminoso, ora o traçado inflexível dos astros em galáxias sem conta, semeadas de há bilhões de anos, no vazio insondável do universo. Céu... terra...  espaço... seres... infinito... finitude... princípio... fim... inferências sem perspectivas de uma certeza segura... Se fosse um simples agricultor... seria apenas mais um ingênuo peregrinante...  se fosse monge, seria mais um crente... Cismava o sábio em seu peregrinar noturno... incerteza... é bem?... é mal?...


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