Prof. Dr. Oscar Luiz
Brisolara
Em Bratislava |
A noite completa caíra sobre os campos enegrecidos. Lua nova.
Apenas as estrelas no céu. Como um fumo, o negror da noite entre os outeiros e
as estrelas, delimitava a borda dos bosques perdidos naquele ermo distante dos
homens e da civilização.
Porém, riscos luminosos dourados cortavam o ar em todos os
sentidos. Um calor abafadiço subia do solo e envolvia os seres viventes por
banhados e campos, canhadas e rochedos aprumados apontando para o céu calado e
brilhante.
No sul, o Cruzeiro, depois as Três Marias, e alguns pontos brilhantes
maiores destacavam-se de uma poeira luminosa que se perdia no infinito sem
medida, ao correr do olhar do observante perdido.
De quando em quando, uma nuvem, esvoaçante e clara, enxugava o halo
das estrelas menos luzidias, e depois se perdia no horizonte, por detrás das cordilheiras
longínquas.
Sentado num rochedo duro, o velho monge orava a seu Deus
embuçado entre estrelas e crenças. Esses pirilampos eram as metáforas
passageiras das estrelas perenes. Multiplicavam-se, eles na terra, elas no
firmamento infinito.
Noite de pirilampos |
Os agricultores gregos, há milênios, procuravam no horizonte
as colunas que sustentavam o véu luminoso, pleno de archotes, na morada dos deuses
do bem. Do Olimpo abençoado, as divindades curavam dos humanos, disputando
donzelas e rapazes. Os homens, cansados de procurar os traços do próprio destino,
percorriam, cada qual, seu vale de lágrimas e dores, aguardando a sorte que
lhes tocava, procurando-a nos caminhos das estrelas.
O santo monge, com o olhar perdido e a alma na contemplação
divina, seguia os traços dos vaga-lumes, que apontavam para o infinito. Lembravam-no,
em seus rápidos e passageiros traçados luminosos, a brevidade do estágio humano
na terra.
Por seu lado, as montanhas apontavam para os astros brilhantes, no céu silente e magno. Eram o apelo do Ser Infinito que lhe assegurava a eternidade da existência humana, após esta jornada probatória e breve.
Por seu lado, as montanhas apontavam para os astros brilhantes, no céu silente e magno. Eram o apelo do Ser Infinito que lhe assegurava a eternidade da existência humana, após esta jornada probatória e breve.
Nos jardins do Louvre |
Um pensador solitário, percorria os caminhos escuros e perdidos dos campos, encantado com a luminosidade, contrastando entre as trevas, sem a fé revelada do monge, nem a ingenuidade romanesca do agricultor. Seu espírito perquiridor buscava, ora, o caminho transitório e frágil do voador luminoso, ora o traçado inflexível dos astros em galáxias sem conta, semeadas de há bilhões de anos, no vazio insondável do universo. Céu... terra... espaço... seres... infinito... finitude... princípio... fim... inferências sem perspectivas de uma certeza segura... Se fosse um simples agricultor... seria apenas mais um ingênuo peregrinante... se fosse monge, seria mais um crente... Cismava o sábio em seu peregrinar noturno... incerteza... é bem?... é mal?...
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