sexta-feira, 7 de agosto de 2015

CONFRARIA ROSA-CRUZ - SOCIEDADES HERMÉTICAS



Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
A confraria Rosa-Cruz foi fundada no século XVI, na atual Alemanha. Era uma ordem hermética, também conhecida como “Colégio de Invisíveis”, visando a desenvolver a evolução espiritual da humanidade. Foi considerada como a fonte do hermetismo cristão, surgida no seio do protestantismo germânico.
Seus princípios básicos encontram-se em três textos. Os dois primeiros redigidos em latim medieval: o primeiro, intitulado “Fama Fraternitatis Rosae Crucis”; o segundo, “Confessio Fraternitatis”; e o terceiro, escrito em alemão: “Die Chymische Hochzeit Christiani Rosencreutz, Anno 1459 (Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreutz)”.
Aliás, a Christian Rosenkreutz é atribuída a fundação dessa fraternidade. Iniciou na província alemã de Estrasburgo, atualmente pertencente à França. Em 1616, foi publicado o Manifesto Rosacruciano, por Lazarus Zetzner, sem que se mencionasse o autor. Afirma-se que Johannes Valentinus Andreae, em sua autobiografia, teria atribuído a si próprio a autoria do Manifesto.
Trata-se de uma narrativa em que Christian Rosenkreutz, na noite de Páscoa de 1459 é convidado, durante sua costumeira meditação, através de um anjo, para as núpcias do rei e da rainha. Trata-se de um texto simbólico, marcado pelo tom satírico, patético, narrado em primeira pessoa, seguindo o modelo das narrativas alquímicas desses tempos. Foi nesse tempo, em 1455, que Gutemberg imprimiu na cidade de Mainz a primeira edição da Bíblia.
A narrativa desenvolve-se desde os sete dias que precedem a Páscoa, o cerimonial dos pães ázimos, o abate do cordeiro pascal, na noite que precede a festa. Assim, as bodas alquímicas devem iniciar na véspera pascal. Christian Rosenkreutz senta-se à mesa com seu cordeiro pascal e seu pão ázimo. Isso aponta para a tradição judaica.
Christian Rosenkreutz, citado apenas como CRC, faz, então, uma viagem em que é posto a diversas provas até participar das bodas do rei. É uma longa narrativa que envolve muitos mitos, inclusive o mito amoroso de Vênus e seu filho Cupido. No final, apesar de certo fracasso, CRC retorna para sua casa.
Há mais de uma versão para o mito. Há alguns que creem de fato na existência material de Christian Rosenkreutz, outros afirmam ser apenas um mito.
Representação do terceiro olho
Há mais de uma versão do Manifesto Rosacruz. Entre os primeiros membros da Ordem Rosacruz estão médicos, alquimistas, naturalistas, boticários, filósofos e artistas. Muitos religiosos e pensadores contemporâneos deles consideravam-nos charlatões e hereges. Foram combatidos por muitos.
Os rosa-cruzes consideram-se herdeiros de tradições ocultistas antigas, que remontam o ocultismo do antigo Egito, englobam as tradições esotéricas medievais, a cabala judaica e o neoplatonismo. Sem que se conheça seus líderes oficiais, formam uma confraria de irmãos. Há mesmo quem acredite que não exista uma sede e uma hierarquia entre eles. Como se trata de uma entidade hermética, não muito o que esclarecer.
O pensador escocês Henry Adamson, em sua obra "The Muses Threnodies", afirma: "Pois o que pressagiamos não está em grande, pois somos irmãos da Rosa Cruz; Temos a Palavra Maçônica e a segunda visão, coisas por acontecer, nós podemos prever acertadamente.” As musas Threnodies eram musas do luto e da lamentação e inspiraram muitas músicas de litania medievais e renascentistas.
A confraria rosa-cruz constitui-se numa corrente de pensamento que engloba o pensamento hermético cristão. Muitos afirmam que está ligada à maçonaria. Tem grande influência do Corpus Hermeticum, conjunto de textos escritos na província romana do Egito entre os anos 100 e 300 d. C. Teria sido escrito por Thoth, conhecido também como Hermes Trimegisto, cujos saberes teriam provindo de uma divindade absoluta conhecida como Nous.
Hermes Trimegisto era o nome que os gregos davam a uma divindade que os egípcios designavam de Thoth. Em grego era ρμς Τρισμέγιστος; em latim, Hermes Trismegistus. Consistia na divindade da escrita e da magia. Na cultura egípcia, Thoth simbolizava a lógica organizadora da estrutura do universo. Era Hermes Trimegisto, denominado de três vezes grande.
O Corpus Hermeticum permaneceu esquecido por mais de mil anos, quando, em 1460, foi traduzido por Marsílio Ficino, filósofo florentino do século XV. Era o maior pensador da Academia Platônica de Florença. A tradução foi feita a pedido de Cosme de Médici, conde de Florença. Ocorre que na obra “Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreutz” afirma-se que Hermes Trimegisto é a fonte primordial da sabedoria.
O pensamento rosa-cruz teve profunda influência de Paracelsus, pseudônimo de Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, médico, alquimista, físico, astrólogo e ocultista suíço-alemão.
A grande maioria dos personagens relacionados com o lançamento dos "Manifestos Rosa-cruzes" se originaram do meio luterano alemão. É de se notar que o próprio Lutero foi um dos primeiros a utilizar uma "rosa-cruz" (o "selo de Lutero", ou "rosa de Lutero") como símbolo de sua teologia. Abaixo de muitas rosas de Lutero está a frase: “O coração do cristão permanece em rosas, quando ele permanece sob a cruz.”
Robert Fludd, um dos teóricos do sistema de pensamento rosa-cruz, fala do terceiro olho, ou seja, um ponto no cérebro humano pelo qual pode o pensador conectar-se com os mundos superiores. Os primeiros teóricos e formuladores da teoria rosa-cruz formaram o “Círculo de Tübingen”, ligados à universidade alemã de Tübingen.
Os objetivos centrais da fraternidade rosa-cruz eram desenvolver as potencialidades humanas para que os indivíduos se tornem melhores, mais sadios e felizes. Visam ao desenvolvimento espiritual e ao autoconhecimento dos seres humanos de tal modo que cresçam na fraternidade e no saber.
Para atingir esses objetivos de criar uma comunidade fraterna, é necessária uma mudança de hábitos, sentimentos e pensamentos. Há uma profunda necessidade de limpar o espírito humano da ignorância.
O resultado desse desenvolvimento espiritual e mental é uma imensa paz de espírito. Esse estado mental e espiritual forma uma aura que se esparge do indivíduo para todos os que o circundam, resultando um grupo mais fraterno e espiritualizado.

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