segunda-feira, 2 de novembro de 2015

TÚMULO DE PEDRO ABELARDO E HELOÍSA DE ARGENTEUIL - RESULTADO DE UM ROMANCE DRAMÁTICO QUE SOMENTE SE TORNOU DEFINITIVO NA SEPULTURA

 Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara

Sepultura atual de Abelardo e Heloísa
Cemitério Père-Lachaise - Paris
O romance entre Pedro Abelardo e Heloísa Argenteuil constitui-se num dos dramas de maior repercussão na história da cultura ocidental.
A jovem Heloísa já era órfã de mãe e pai aos 17 anos e tinha como tutor o tio Canon Fulbert. Pertencia a uma abastada e ilustre família francesa do século XII.
Pedro Abelardo,afamado professor de filosofia, também de família insigne, foi escolhido para ser o educador da jovem. Como Abelardo tivesse, então, 36 anos, o tutor ofereceu-lhe a própria residência para que pudesse supervisionar a educação da sobrinha.
A jovem era brilhante e estudiosa, dedicando-se de modo especial o estudo de latim, grego e hebraico, e tinha uma reputação de inteligência e perspicácia.
Nos primeiros tempos da educação, o tio de Heloísa ficou temeroso de deixar a bela jovem a sós com o professor. Porém, com o passar do tempo, adquiriu confiança em Abelardo.
O professor tinha boa reputação, mas encantou-se com a moça linda e inteligente. Heloísa também apaixonou-se por ele e por algum tempo viveram seu amor às escondidas, até que o tio Fulbert descobrisse e se achasse traído em sua confiança, expulsando Abelardo de sua casa. Os enamorados continuaram a se encontrar até descobrirem que Heloísa estava grávida. Ele a raptou, levando-a para a casa da irmã na Bretanha onde ela deu à luz a um menino, Astrolábio, nome escolhido a partir do jogo de letras do nome do pai.
Era uma tragédia que apenas se estava configurando. Abelardo tentou redimir-se perante o tio, casando-se com Heloísa, mas em segredo, para que sua carreira de professor e clérigo não fosse afetada.
Pedro Abelardo e Heloísa
A própria Heloísa opusera-se ao casamento público para não prejudicar a carreira do amado. Pedro Abelardo sugeriu-lhe que ingressasse num um convento e tomasse o véu de noviça para disfarçar o casamento. 
Essa atitude foi mal interpretada por Fulbert que acreditou ter o professor abandonado sua sobrinha e mandou castrá-lo. Tamanha desgraça fez com que Abelardo fugisse, para esconder sua vergonha e Heloísa continuou confinada no convento. O próprio tutor perdeu o cargo político que tinha de cônego de Notre-Dame, igreja onde Abelardo e Heloísa se haviam casado.
Transcorridos os piores momentos, ambos fazerem os votos como padre e freira. Passaram-se muitos anos sem que sequer se vissem. Porém, uma carta de Abelardo dirigida a um amigo chegou às mãos de Heloísa e ela resolveu respondê-la. 
Desse momento em diante, passaram corresponderem-se tratando sobre o que lhes acontecera quinze anos antes. Heloísa expressa todo o seu amor ainda vivo por Abelardo e ele responde que este amor transformou-se na melhor forma de servir a Deus para os dois (Correspondência de Abelardo e Heloísa, Martins Fontes, 2002).
Detalhe do túmulo de Abelardo e Heloísa
Para concluir esta narrativa, simplesmente revelo que Abelardo veio a falecer 20 anos antes de Heloísa, sendo sepultado na Abadia do Paráclito,  onde ela era abadessa. Ela, ao falecer, por própria solicitação, foi sepultada ao lado dele, em 1163.
Ambos deixaram esta vida aos 63 anos de idade. Segundo uma lenda do povo desse local, Abelardo teria aberto os braços para receber Heloísa em seu túmulo. Uma bela história para celebrar um amor tão intenso, vivido à distância, enfrentando as poderosas barreiras da família e da religião.
Por ocasião em que foi demolida a Abadia do Paráclito, a Prefeitura de Paris removeu os restos mortais dos monges enamorados para a atual sepultura, no Cemitério Père-Lachaise, da capital francesa.

Pedro Abelardo e Heloísa

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