Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Ruínas do majestoso templo cristão de São João, na Anatólia - Turquia |
Para se entender a real situação da Armênia hoje, bem como
abordar os fatos que envolveram o extermínio de pelo menos um milhão e meio de
cidadãos armênios no início do século XX, mais precisamente entre 1915 e 1923,
pelo Império Otomano, é preciso recuar no tempo por alguns milênios.
Nos tempos atuais, somente em 1990, no período pós-dissolução
da União Soviética, foi proclamada a República da Armênia, e reconhecida pela
ONU, em 1991. Por longo espaço de tempo, existiu a nação Armênia, sem organizar-se
em estado reconhecido e sem território próprio. Parte de sua população vivia na
União Soviética, parte na República da Turquia.
Porém, o povo armênio existe há
milênios. Esse povo formou-se desde a pré-história, havendo mesmo uma antiga
tradição que afirma estar situado em seu território o antigo Jardim do Éden ou
Paraíso Terrestre.
Situava-se também na antiga
Armênia o renomado monte Ararat, sobre o qual, na tradição judaico-cristã, após
o dilúvio, teria encalhado a arca de Noé.
Há pelo menos seis mil anos antes
de Cristo, já havia um processo agrícola muito desenvolvido nessa região, em
que se utilizavam já instrumentos metálicos, que também eram exportados para
povos vizinhos.
Em textos produzidos pelos sumérios
e acadianos, povos que habitaram a Mesopotâmia antes dos assírios e babilônios,
é citado o país de Ararate, como parte da grande Armênia. Os hititas, que
chegaram a dominar toda a atual Anatólia turca, no século II a. C., foi o povo
mais importante da antiga Armênia.
Após esses tempos de expansão e
progresso, sofreram sucessivas invasões, primeiramente do império dos sassânidas
da Pérsia, e depois de muitos pequenos povos vizinhos.
Porém, com o advento do
cristianismo, a Armênia foi o primeiro país a converter-se oficialmente à
religião cristã, tendo, em 301, a reconhecido como a religião oficial do estado
armênio.
Entre os séculos V e VII da era
cristã, tornou-se o Emirado da Armênia, com certa independência do Império
Árabe, constituído por Maomé em 622. No entanto, em 884, com o enfraquecimento
dos árabes na região, e constituíram o Reino Bagrátida Armênio, que se estendeu
até 1045. Nesse ano, o Império Bizantino conquistou, por curto período, toda a
Armênia. Já em 1071, os turcos invadiram toda a região e a Armênia passou a
fazer parte do grande Império Turco Seljúcida.
Depois do domínio turco, os
armênios gozaram de relativa independência até o século XIII, quando o correram
as grandes invasões dos mongóis liderados por Genghis Khan, cujas tropas
dominaram a região até serem expulsas, dois séculos mais tarde, pelos turcos
otomanos.
No início do século XV, o Império
Turco Otomano e o Império Persa dos Safávidas dividiram a armênia entre si.
Porém, no início do século XIX, o Império Russo dos Romanov incorporou aos seus
domínios a Armênia oriental.
Encontrava-se assim o povo armênio
no início do século XX, dividido entre o domínio turco e o domínio russo. Começa,
então, a primeira guerra mundial. De um lado, estava a tríplice entente,
formada pela Inglaterra, França e Rússia, contra os reinos do centro, compostos
pela Alemanha, a Austro-Hungria, o Império Otomano e a Bulgária. Assim, parte
da nação armênia estava de um lado, a parte otomana, e outra parte estava
ligada ao outro lado, como parte da Rússia.
Um agravante incitou a ira dos
turcos contra os armênios: um contingente de voluntários armênios juntou-se às
forças russas. Desde esse momento, ou seja, de abril de 1915, começa uma forte
repressão aos armênios pelos turcos. Observe-se que os armênios eram majoritariamente
cristãos, enquanto 94% dos turcos eram muçulmanos.
O primeiro ato turco foi a prisão
e, em seguida, assassinato de 600 intelectuais armênios, nesse momento,
cidadãos turcos. Passaram, a seguir, a deportar os habitantes armênios da
Anatólia, província asiática da Turquia, para a Trácia, província europeia desse
país. Ao mesmo tempo em que os deportavam, saqueavam seus bens e tomavam suas
propriedades.
Afirma-se que, paralelamente às
deportações, iniciaram-se assassinatos programados. Pelo menos doze mil
criminosos teriam sido libertados das prisões para formarem uma milícia, cuja
função era o extermínio dos armênios.
Como os russos tivessem enviado os
voluntários armênios para a frente europeia de combate, eles se bateram justamente
contra as tropas otomanas. O exército otomano, derrotado, acusou os armênios de
suas tropas de serem responsáveis pela derrota. Sob essa acusação, removeram os
armênios para os trabalhos de logística e aí os massacraram.
Assim, entre 1915 e 1923, houve constantes
ações contra os armênios em todo o território turco. Afirma-se que houve
assassinatos em massa, estupros, uso de produtos químicos, tendo-se criado, por
fim, os campos de extermínio. Além do mais, criaram-se cortes marciais, que
condenavam pessoas à morte pelo simples fato de serem de origem armênia. Esse
foi considerado o grande genocídio impetrado contra uma raça ocorrido no século
XX, que os turcos insistem em negar. Segundo levantamentos efetuados por diversas
pesquisas, em torno de um milhão e meio de armênios teriam sido eliminados
nesse processo de limpeza étnica e religiosa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário