terça-feira, 26 de maio de 2015

AS FLORES, AS CRIANÇAS E O MONGE


Oscar Luiz Brisolara
Hoje lembrei o jardim da tia Maria. Eram uma longa cerca viva e as grandes espirradeiras, reclinando sobre ela suas cabeleiras vermelhas, amarelas e brancas. Pois quem me levou para lá foi minha querida Stephanie Ribeiro, perguntando sobre as florinhas coloridas, cujo suco adocicado sacia a curiosidade infantil.
O Jardim da tia era imenso. Numa casa de campo... espaço era o que não faltava. Eram sempre-vivas amarelas, roseiras de todas as cores, hortênsias e, no meio de tudo, uma quantidade sem conta de uma florzinha miúda conhecida popularmente como maravilha. De múltiplas cores, às vezes, até mesmo numa única flor aparece mais de uma cor. E lá íamos, colhendo essas florinhas, como colibris, sugando seu suco e jogando o conezinho ao chão...
Depois, se me abateu certa tristeza. A tia se foi. Depois, a casa. O mato cresceu e tomou tudo. Olhando aquela enredeira de cordas, galhos e mato, difícil é acreditar que alguém pudesse habitar esse antro algum dia.
E fugi para a pesquisa do velho monge agostiniano austríaco Gregor Mendel e suas pesquisas sobre genética. A “maravilha”, para as crianças, para ele, “mirabilis jalapa”, foi o vegetal eleito para as pesquisas do frade germânico. 
Pois as cores movem os interesses de ambos, monge e crianças. Para o monge, as cores e seu cruzamento, cruzando cores, controla genes. Para as crianças, contemplando cores, surpreendem almas e capturam sentimentos que se hão de tornar a medida de contemplar a arte.
Oh tia Maria... oh velho Mendel... a cada um encantou uma diferente beleza da pequenina flor... do mesmo modo como um poeta e um filósofo contemplam diversamente o pórtico de uma cidade... ambos com olhares que se completam e se conflituam... no eterno cambiamento das almas.

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