Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Convivi por mais de 30 anos num ambiente formidável. Muito se fala e se falava que a Católica é e era ... Que isso... que aquilo... que sempre se falou... não vale a pena... o reitor fulano e beltrano... os –anos todos, por anos sem conta... tocaram aquela isntituição que sempre estava para falir... mas que sempre se safou até nossos dias... a UCPel...
Mas havia a sala dos professores... uma sala de todos... nem muito grande... cabiam lá uns tantos fulanos que pensavam muito diferente uns dos outros... religiosos e ateus... filósofos, engenheiros, pedagogos, médicos, advogados, biólogos e tantos –logos que não quero esquecer ninguém... de economistas e contadores a sociólogos e assistentes sociais, algumas centenas, quase um milheiro... mais de setecentos...
Iniciei como aluno... depois professor... diretor...Mas lá éramos todos o Wallnei, o Galvão, o Jandir, o Viana, o Alencar (alguns dos reitores), que em outra parte seriam o doutor fulano de tal...
Houve mesmo prefeitos, o Prof. Dr. Francisco Louzada Alves da Fonseca e Prof. Dr. Bernardo Olavo Gomes de Souza e o deputado federal Carlos Alberto Chiarelli. Mas lá eram o Chiquinho, o Bernardo e o Chiarelli.
Lembro-me de uma ocasião em que conversava, sentados lado a lado na mesa grande do centro da sala, com o prefeito Chiquinho. Eu tinha pouco mais de 30, ele mais de 60. Atrevimento de jovem, disse eu: Professor Chiquinho, suas concepções são tão avançadas (estava-se em pleno governo militar, não se pode esquecer isso), por que o senhor não muda para o MDB? Ele, respeitando minha ingenuidade, disse: Eu sou da esquerda da ARENA, que é idêntica à direita do MDB. Isso para se entender a intimidade que tínhamos uns com os outros.
Havia, porém, uns mais idosos e respeitáveis, o Dr.Planella, eterno diretor do Instituto de Medicina. Ninguém jamais dizia o Planella. Mas o velho médico formado na Itália, era o Baruffa. Grande conhecedor de doenças tropicais, trabalhou na África com o Dr. Albert Schweitzer, e reconhecido antropólogo, que publica mesmo em revistas europeias. Lembro de tê-lo encontrado há poucas semanas, no ponto de ônibus, jamais teve automóvel, embora não seja pobre. Na sua sutileza italiana, falou:"Brisolara, come tu tá velho". Eu, olhando para suas vestes descuidadas de solitário, e suas feições de nonagenário, respondi: É, Baruffa, o tempo passa.
Na verdade, foi nesse ambiente que aprendi um tanto, do pouco que de fato sei. Lembro-me do meu querido José Luís Marasco Leite, da minha querida Lina Monti, do amigo Ambrósio Bento Goicochea Andrade, do compadre Jandir João Zanotelli, do inesquecível Jorge Roberto Guimarães, do competente médico José Xavier de Freitas Netto, e seu colega urologista Sérgio Falchi, do Lino Soares, da matemática, do competente advogado Alencar Mello Proença, e seu colega Carlos Mário de Almeida Santos, da Maria Helena Hernadorena e da Brenda Máris Scur da Silva, amigas que já nos deixaram. Também lembro da falecida Lea Louzada e do médico legista Paulo Friedmann, que cochilava num sofá, enquanto aguardava o horário de suas aulas. Desejo deter-me aqui, porque seria enfadonho e impossível recordar centenas de nomes de profissionais com quem tinha maior ou menor intimidade, mas que nos conhecíamos e nos respeitávamos.
UCPel |
Mas lá éramos o Oscar, o Marasco, a Lina, o Ambrósio, o Dr.Planella, é claro, o Jandir, o Jorge, o Alencar, a Lea, a Maria Helena, a Brenda, o Bernardo, mesmo quando era o prefeito.
E nos encontrávamos a toda hora, sem reverência. E havia o Assis, o Prefeito do Campus e o Ubirajara Ribas, renomado economista, o Leocir Cancela e depois, os colegas do Departamento de Letras.
Esses, então, foram de imensa importância no meu caminho, a partir do ensinamento daquilo que constitui a verdadeira amizade, o fazer pelo outro sem cobranças. Começo aí pelo meu velho mestre Victorino Piccinini, que afirmava ter Deus, ao criar o mundo, dado nome a todos os seres, menos ao Departamento de Letras da Católica, que era o DCHU9.
E havia a professora Eny Fetter Zambrano, que, aos quase 90 anos, continua trabalhando. E o velho mestre libanês Anwar Saliby, que me apresentou a Albert Camus e à filosofia do absurdo. E depois foram tantos colegas das Letras, o competente finado Prof. Wallney Hammes, mestre de alemão e inglês, a doce amiga Vera Fernandes, a perspicaz amiga Teresinha Elichirigoity, e a amiga da área de literatura Ângela Sapper e muitos outros amigos desses anos todos, cujo imperdoável esquecimento me condena inexoravelmente.
Sala dos professores - UCPel - vista externa |
Recordo as discussões de história com o prof.Ewaldo Poeta, coronel do exército e competente historiador e os capitães Caldeira e Schzechir, professores de EPB. As discussões filosóficas com o Prof.Jandir Zanotelli e o doutor pela Sorbonne, Agemir Bavaresco.
Também havia os debates sociológicos agradabilíssimos, lembram queridos amigos José Luís Marasco Leite (por sinal, pai do atual prefeito de Pelotas), Jorge Roberto Guimarães e Lina Monti? E os debates sobre os planos econômicos com Ubirajara Ribas e Leocir Cancela? E as piadas e chistes do Assis e do Dr. Xavier? Tudo era profundamente educativo e enriquecedor. Tudo se debatia. Éramos uns "metidos" e atirávamos em todas as áreas e discutíamos de medicina a engenharia, passando por filosofia, educação e sociologia. Éramos mestres aprendizes. Mas quanto aprendi com vocês todos, meus irmãos de classe. Que saudades, Deus meu!!!
O Homem é uma enciclopédia!
ResponderExcluir.'.Daniel.'.