quarta-feira, 6 de maio de 2015

DO ROMÂNTICO E TRISTE POETA SIMBOLISTA ALPHONSUS DE GUIMARAENS






Hão de chorar por ela os cinamomos 
Murchando as flores ao tombar do dia 
Dos laranjais hão de cair os pomos 
Lembrando-se daquela que os colhia. 

 
As estrelas dirão: - "Ai, nada somos, 
Pois ela se morreu silente e fria..." 
E pondo os olhos nela como pomos, 
Hão de chorar a irmã que lhes sorria. 

 A lua que lhe foi mãe carinhosa 
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la 
Entre lírios e pétalas de rosa. 

Os meus sonhos de amor serão defuntos... 
 E os arcanjos dirão no azul ao vê-la, 
Pensando em mim: - "Por que não vieram juntos?" 

A morte da amada: 

É um tema dominante em sua poesia: a morte da noiva amada, a doce Constança, desaparecida na flor da mocidade. De certa forma, não conseguirá mais esquecê-la e, assim, os seus poemas de amor sempre se vincularão à idéias fúnebres. Amor e morte é uma velha fórmula romântica, mas Alphonsus a tratará de maneira diferente, fugindo do patético e alcançando um tom elegíaco, onde predominam a melancolia e a musicalidade. 
Nem o casamento, nem o passar do tempo ajudarão o poeta a atenuar esta tristeza. Em vários momentos, a dor parece mais uma convenção poética do que propriamente um sentimento real. No entanto, um soneto como Hão de chorar por ela os cinamomos guarda forte carga de emoção.

2 comentários:

  1. Boa tarde! Finalmente achei você. Relendo meus textos, encontrei seu comentário em um dos meus contos. Obrigada!
    Alphonsus de Guimarães foi um dos maiores, na minha opinião... este é meu favorito:
    A Catedral

    Entre brumas ao longe surge a aurora,
    O hialino orvalho aos poucos se evapora,
    Agoniza o arrebol.
    A catedral ebúrnea do meu sonho
    Aparece na paz do céu risonho
    Toda branca de sol.

    E o sino canta em lúgubres responsos:
    "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

    O astro glorioso segue a eterna estrada.
    Uma aurea seta lhe cintila em cada
    Refulgente raio de luz.
    A catedral eburnea do meu sonho,
    Onde os meus olhos tao cansados ponho,
    Recebe a bencao de Jesus.

    E o sino clama em lugebres responsos:
    "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

    Por entre lirios e lilases desce
    A tarde esquiva: amargurada prece
    Poe-se a luz a rezar.
    A catedral eburnea do meu sonho
    Aparece na paz do ceu tristonho
    Toda branca de luar.

    E o sino chora em lúgubres responsos:
    "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

    O céu e todo trevas: o vento uiva.
    Do relâmpago a cabeleira ruiva
    Vem acoitar o rosto meu.
    A catedral ebúrnea do meu sonho
    Afunda-se no caos do céu medonho
    Como um astro que já morreu.

    E o sino chora em lúgubres responsos:
    "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, minha cara, por olhar para o meu trabalho. Também gosto muito deste poema que me envia. Sempre o relio com imenso prazer. Leio seus textos e os aprecio pela modernidade do estilo.
    Parabéns!

    ResponderExcluir