FERREIRO |
Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Uma pérfida serpente, por
absoluta maldade, acabara de picar um alvo cordeirinho que revirava os olhos
avermelhados nos estertores da morte, enquanto a cruel assassina se vangloriava
dizendo, em voz rouca e arrogante, que somente naqueles últimos dias, teria mandado
à eternidade, dois idiotas cães de
guarda, o bestinhola de um coelho, um grande touro metido a macho e garboso, e até
mesmo o lourinho filho do ferreiro da aldeia.
Nas clareiras da floresta,
nenhum dos filhos da selva se atrevia a se mostrar, mesmo o sol parecia menos
cálido, enquanto a malvada, sacudindo os seus guizos, um cururu esperneando
ente os dentes, enroscacava-se nos galhos de um frondoso carvalho, com um olhar
atrevido, na certeza da impunidade.
Quando a noite caiu, entrou oficina
adentro, buscando o calcanhar do desavisado trabalhador. Nisto, ouviu o tinir
dos ferros na bancada. Esgueirando-se nas trevas, seguiu o som que zunia e
lançou um bote certeiro e rolou ao solo estrebuchando em estertores agônicos.
Acontece que o ferreiro, para
aprofundar-lhe as ranhuras, aquecera na forja ardente, uma lima de aço bravo que
largara na bancada. A pérfida traiçoeira, ao tentar picar-lhe a mão, ofuscada
pela vermelhidão da peça, acertou a bocada no aço em brasa.
O malvado acaba sempre
encontrando um pior do que ele.
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