Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Minha mãe era professora de uma
escolinha rural. Dentre os livros necessários que tinha, estava uma Seleta em Prosa e Verso. Pois, desde que
aprendera a ler, era minha leitura preferida.
Havia ali uma fábula ilustrada que eu
relia constantemente, por não atinar-lhe o sentido. Pois contava a tal história
que uma raposa tinha caído num poço. Não conseguindo sair de lá, porque a
parede era escorregadia, finava-se gritando, quando apareceu um bode lá no
alto.
Eu me imaginava a tal raposa. Tinha já
visto umas quantas. É bem verdade que já meio estraçalhadas pelos nossos cachorros,
porque elas comem galinha Mas conhecia a tal bichana, e até as achava bonitas.
Tinham pelo liso e escuro, com umas pintas bem branquinhas. O pior era o fedor
que pegava em tudo.
O bode, pois tinha um bode velho lá em
casa que roía tudo o que encontrasse. Eu brincava pendurando-me nos chifres
dele e o coitado empurrava-me com a cabeça, cuidando para não me furar com os
chifres pontudos e curvos. Assim, eu me imaginava a cena.
Nós tínhamos um algibe. Quem lavava era
eu. Meu pai punha-me dentro do balde mundo de um escovão. Depois de esgotar o
poço com uma mangueira em sifão, ele baixava-me com a corrente do poço, até o
fundo. Ali de eu apreciava a água brotando. Esfrega bem, me dizia. Depois, eu
entrava no balde e ele me puxava para cima. Esgotava a água suja, e tudo
voltava à rotina das coisas. Isso uma vez cada ano, depois que eu tinha uns
sete.
Pois imaginava-me, a raposa lá no
fundo, olhando a rodinha de luz da boca do poço, pedindo pro bode descer. O
bobalhão, sem a corrente, que tombaço ele teria. Em seguida, o coitado, de
patas estendidas na parede para a danada subir.
Só agora começo a entender alguns bodes
bobos na vida.
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