Diferentemente do olhar realista de Machado de Assis, o
poeta romântico português João de Deus de Nogueira Ramos contempla o mundo que
o cerca sob o vezo da subjetividade e do sonho:
A VIDA
A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa;
A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura num momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,
A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,
Voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
Onda que o vento nos
mares,
Uma após outra lançou,
A vida – pena caída
Da asa da ave ferida
De vale em vale impelida
A vida o vento levou!
João de Deus compôs uma singela e encantadora
versão da oração do Pai Nosso, num poemeto muito sonoro, com tom de reverente
prece:
Padre Nosso
Pai nosso, de todos nós,
Que todos somos irmãos;
A Ti erguemos as mãos
E levantamos a voz:
A Ti, que estais no Céu,
E nos lanças com clemência,
Do vasto estrelado véu
Os olhos da Providência!
Bendito, santificado
Seja o Teu nome, Senhor!
Inviolável, sagrado
Na boca do pecador!
E venha a nós o Teu reino!
Acabe o da vil cobiça!
Reine o amor, a justiça
Que pregava o Nazareno;
De modo que seja feita
A Tua santa vontade,
Sempre a expressão perfeita
Da justiça e da verdade!
Seja feita assim na terra
Como no Céu onde habita
Esse, cuja mão encerra
A criação infinita!
O pão nosso nesta lida
De cada dia nos dá…
Hoje, e basta; a luz da vida
Quem sabe o que durará!
E perdoa-nos, Senhor,
As nossa dívidas; sim!
Grandes são, mas é maior
Essa bondade sem fim!
Assim como nós (se é dado
Julgar-nos também credores),
Perdoamos de bom grado
Cá aos nossos devedores.
E não nos deixes, bom Pai,
Cair, nunca, em tentação;
Que o homem, por condição,
Sem o teu auxílio cai!
Mas tu, que não tens segundo
E muito menos igual,
Dá-nos a mão neste mundo,
Senhor! Livra-nos do mal!
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