Carro elétrico já prepara uma ultrapassagem
Os veículos movidos à eletricidade preparam um salto no mercado de automóveis.
Os
veículos elétricos conquistam um espaço maior, a cada Salão do
Automóvel de Genebra: atualmente quase todas as montadoras apresentam um
modelo.
Para
Marco Piffaretti, um dos pioneiros dessa tecnologia, dentro de 20 anos,
metade da frota de carros será elétrica. Aos 22 anos de idade, ele
fundou a Protoscar, uma empresa de engenharia que desenvolve soluções
técnicas e de design no campo da mobilidade ecológica.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
O
carro elétrico é muito interessante para os grandes centros urbanos e a
problemática da geração do CO2, mas a indústria ainda não entendeu
completamente que ele é seu próprio futuro.
Já faz 30 anos que Marco Piffaretti tenta colocar “o sol no motor”.
Aos 22 anos de idade, ele fundou a Protoscar, uma empresa de engenharia
que desenvolve soluções técnicas e de design no campo da mobilidade
ecológica. Entre 2009 e 2011, a empresa do Ticino (sul da Suíça)
apresentou três modelos, o Lampo, um carro esportivo elétrico, capaz de
acelerar de 0 a 100km/h em 4,5 segundos. Mais detalhes na entrevista a
seguir.
Fala-se de carro elétrico já faz tempo. Por que as montadoras começaram a produzi-los apenas alguns anos atrás?
Marco
Piffaretti: O grande salto no avanço do uso da eletricidade ocorreu em
2009, quando os carros começaram a usar a bateria de lítio, que já era
usada nos computadores e nos telefones celulares. Esta nova solução
técnica permitiu um desempenho duas ou três vezes superior às
tecnologias anteriores.
O motor
elétrico também foi potencializado e tornou-se mais leve e eficiente.
Mas a grande aceleração veio mesmo através da bateria de lítio. Ela
garante uma autonomia de 100 a 400 km, dependendo do modelo.
Hoje,
graças a estes progressos, um carro elétrico oferece um desempenho bem
melhor do que um automóvel com o motor a combustão. Os veículos
elétricos consomem, em média, um quarto da energia usada pelos modelos a
gasolina ou diesel.
Qual é o motivo deste rendimento melhor?
MF: O
motor a combustão, que usamos faz uns cem anos, é um sistema pouco
eficiente. Ele provoca muito desperdício de calor; o gás da descarga
pode chegar aos 900 graus centígrados. O carro a combustão é uma estufa
sobre quatro rodas. Para evitar que o motor entre em fusão, este calor é
expelido através de um sistema de resfriamento. Na prática, apenas um
quarto da energia do combustível é usada para funcionar o carro. O resto
vai embora na forma de calor.
O motor
elétrico, ao contrário, chega aos cem graus, no máximo. Quase toda a
energia serve para fazer funcionar o carro. Além disso, quando se freia,
o carro elétrico recupera energia. O motor funciona como um dínamo e
contribui para realimentar a bateria.
E quais são as desvantagens?
MF: A
única e grande desvantagem é o preço de compra, ainda 30 a 40% acima do
carro a combustão. A diferença é por causa da bateria. Ela representa
30% do custo final. Esse preço não está sujeito apenas aos materiais mas
à qualidade do produto que deve suportar vibrações e grandes mudanças
de temperaturas por uma dezena de anos. A tração elétrica permite a
economia de muito dinheiro em termos de manutenção. Mas, no momento da
compra, é como se o consumidor gastasse o equivalente a 20.000 litros de
gasolina…
O
senhor criou o Lampo, um carro elétrico, com desempenho equivalente ao
de um Ferrari ou de um Lamborghini. Por que motivo desenvolveu um protótipo com estas características?
MF: Em
2009, quando apresentamos o primeiro Lampo no Salão de Genebra, o carro
elétrico era visto principalmente como um meio adequado à mobilidade
urbana, para amenizar os problemas da poluição e dos barulhos noturnos.
Com o Lampo quisemos demonstrar que era uma solução para todos os tipos
de veículos, dos caminhões ao carro esportivo. Tendo em conta o preço da
bateria, atualmente, é mais fácil equilibrar os custos se o carro roda
muitos quilômetros. Do ponto de vista financeiro, o carro elétrico é
mais indicado para quem o utiliza o tempo todo e menos para quem circula
pouco, como ocorre no setor do luxo. Isto explica, em parte, o sucesso
da estratégia seguida pela Tesla.
O Lampo
nos serve, além de tudo, como laboratório para experimentar as
tecnologias que propomos aos nossos clientes. Por exemplo, o sistema de
carga rápida da bateria que permite a aquisição de energia para 100
quilômetros em apenas sete minutos de “abastecimento”. Além da recarga
inteligente, levando em conta a disponibilidade da energia fotovoltaica e
das cargas da rede.
Segundo estudos, em 2035, metade dos automóveis em circulação será movida a eletricidade. Esta meta é viável diante do alto custo do carro?
MF: Sim,
existe uma vontade crescente, mesmo da parte dos políticos, de promoção
da mobilidade sustentável. A União Europeia, por exemplo, emitiu uma
norma que obriga as montadoras a reduzirem, em muito, as emissões de CO2
(menos de 95g/km, até 2021). Além disso, muitos países estão
introduzindo novos incentivos. Na França, o governo decidiu impor uma
taxa sobre o diesel que a ser redistribuída sob a forma de prêmio de 10
mil euros a quem comprar um carro elétrico. Na Noruega, os carros mais vendidos já são os elétricos. Em meio a esta grande transformação, alguns países irão atingir o objetivo antes de 2035.
E na Suíça?
MF: Até
agora, infelizmente, não existe uma verdadeira política de incentivo a
favor da mobilidade elétrica. A Confederação suíça introduziu o programa
“Minienergia” para promover a economia de energia nos prédios
residenciais. Mas não existe nada de equivalente para os carros que
provocam também grandes emissões de CO2.
A sensível queda do preço do petróleo não ameaça frear a mobilidade elétrica?
MF: Pode
ser um freio temporário mas não vai poder evitar a chegada da
eletromobilidade. A concepção e o desenvolvimento de um carro consome
entre 5 e 10 anos e neste período o preço do petróleo certamente vai
voltar a subir.
Para
poder decolar, a mobilidade elétrica vai precisar de uma nova
infraestrutura, de uma vasta rede de abastecimento. Qual é a situação atual?
MF: Até
agora, os Estados Unidos lançaram algumas iniciativas para a promoção do
desenvolvimento dos carros elétricos. Mas a disposição para as redes de
apoio, a infraestrutura, ainda não aconteceu. Entretanto, existem
sempre mais cidades e regiões que começam a se questionar sobre este
novo desafio: por exemplo, quantas colunas de reabastecimento serão
necessárias nos próximos anos e quais escolhas técnicas deverão ser
feitas.
Entre as
atividades principais da nossa empresa esta a realização de estudos que
demonstrem as exigências futuras da infraestrutura de abastecimento para
os carros elétricos e híbridos para as cidades e regiões do país.
Desenvolvemos alguns planos urbanísticos para as cidades de Stuttgart e
Zurique, assim como para os cantões de Ticino e Genebra, e contamos
poder elaborar outros projetos até mesmo fora da Suíça.
Marco Piffaretti: Nascido
em 1965, em Bellinzona, Marco Piffaretti estudou design de automóveis
na Escola de Arte Aplicada de Turim e na Art Center College of Design di
La Tour de Peilz, no Cantão Vaud. Ele começou a se apaixonar pela
mobilidade sustentável em 1986. Ainda era um estudante quando participou
do Tour do Sol, a primeira corrida mundial para carros movidos com a
energia fotovoltáica, organizada na Suíça.
Em 1987,
fundou a Protoscar, uma empresa de engenharia e design, com sede em
Rovio, no Cantão Ticino, especializada no desenvolvimento de carros a
propulsão alternativa e de veículos ecológicos.
Entre 1994
e 2001, foi diretor do programa VEL1, em Mendrisio, um projeto
promovido pela Confederação suíça para introduzir 400 carros elétricos
num município de dez mil habitantes. Desde 2012 é o diretor de Infovel, o
centro de competência para a mobilidade sustentável do Cantão Ticino,
na Suíça.
Adaptação: Guilherme Aquino, swissinfo.ch
Permitida a reprodução, desde que mantido no formato original e mencione as fontes.
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