Revelação Templária – 9A – Um Curioso Tesouro (Rennes-le-Chateau)
Os céticos afirmam que não existe nenhum mistério em Rennes-le-Château.
Para eles, Saunière ganhou dinheiro apenas com o tráfico de missas –
ou, talvez, com outros negócios duvidosos – e a história do tesouro foi
cinicamente inventada como atração turística. Quanto à importância que
os Dossiers Secrets do Priorado de Sião atribuem à aldeia e ao seu
mito, isso, dizem eles, é simplesmente o Priorado revestindo-se de um
ar de mistério. Além disso, a história, tal como a conhecemos, remonta
apenas a 1956, quando Noël Corbu abordou um assunto que se destinava a
entreter os hóspedes da Vila Betânia, que ele transformara num
hotel-restaurante …
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.chCapítulo 09A – UM CURIOSO TESOURO – Livro “The Templar Revelation – Secret Guardians of the True Identity of Christ”, de Lynn Picknett e Clive Prince.
Fonte: http://www.picknettprince.com/
CAPÍTULO IX – UM CURIOSO TESOURO – 9A
… Contudo,
a investigação mostra que existe um mistério: na verdade, a aldeia era
claramente um centro de interesse para os investigadores esotéricos
antes dessa data. Por exemplo, em 1969, alguém foi lá especificamente
para procurar o imaginário tesouro dos cátaros, que ele acreditava ter
sido levado da fortaleza de Montsegur para Rennes-le-Château. Talvez isto também explique a presença, que, de outro modo seria estranha, de oficiais alemães nazistas na Vila Betânia, onde ficaram alojados, durante a segunda guerra mundial.
Como
muitas pessoas já sabem, os nazistas tinham uma obsessão por artefatos
ocultistas, alquímicos, esotéricos e religiosos e passaram muitos
meses, durante a guerra, a fazer escavações em Montségur e na região de
Rennes-le-Château. Diz-se que eles procuravam o Santo Graal:
certamente, Otto Rahn, o arqueólogo nazista, concentrara os seus
esforços para o encontrar naquela área, nos anos 30.
Noël Corbu
é um protagonista importante na história de Rennes-le-Château. O seu
papel ultrapassa o de um hoteleiro local e de contador de histórias
fantásticas – como se pode deduzir da sua participação na publicação
dos famosos pergaminhos codificados. Como vimos, estes surgiram, pela
primeira vez, num livro de Gérard de Sède publicado em 1967, mas, mais
tarde, um colega de Pierre Plantard de Saint-Clair e membro do Priorado
de Sião, Philippe de Chérisey, confessou tê-los forjado.
No seu
mais recente livro sobre o caso de Rennes-le-Château, em 1988, Gérard de
Sède declara que publicou os textos de boa-fé, tendo-lhe estes sido
entregues por alguém relacionado com Rennes-le-Château que afirmava
serem cópias que Saunière entregara ao presidente do município da aldeia
antes de levar os originais para Paris. Mas De Sède tem o cuidado de
evitar nomear este «alguém».
No
entanto, a sua identidade é revelada na obra de Jean Robin: era Noël
Corbu. Isto é importante porque se De Chérisey forjou os pergaminhos,
então Corbu apenas podia obtê- los através do contato com o Priorado de
Sião.
Quanto
mais se investigam as circunstâncias em que Corbu veio a adquirir o
domaine de Saunière mais intrigantes elas se tornam. Segundo a história
usual, Corbu encontrava-se casualmente na aldeia, durante a segunda
guerra mundial, tornou-se amigo da idosa Marie Dénarnaud e concluiu que a
vila daria uma boa residência. Mas a verdadeira história parece ser
que ele já estava interessado na história de Saunière desde há algum
tempo, e, no princípio dos anos 40, fez o possível para estabelecer
relações de amizade com Marie para obter mais informações.
A intriga
adensa-se: a igreja romana, por qualquer razão, também sempre estivera
muito interessada em se apoderar da antiga propriedade de Saunière, mas
estava igualmente ansiosa por adquiri-la discretamente. De fato, fez
várias tentativas para convencer Marie a vendê-la, mas ela se recusava.
Parece que, por intermédio de um sacerdote, chamado abade Gau, a Igreja
convenceu Corbu a atuar em seu nome, tendo acordado, presumivelmente,
que, quando Marie lhe vendesse a propriedade, ele lha transferisse.
Alguma coisa parece ter corrido mal: talvez Corbu renegasse o acordo
feito com a igreja romana.
Mais
tarde, ele solicitou diretamente uma concessão do Vaticano, que foi
obviamente considerada de invulgar importância, porque o Vaticano
enviou o embaixador papal, em pessoa, para Carcassonne para obter da
diocese as informações necessárias. E este embaixador não era outro
senão o cardeal Roncali – futuro papa João XXIII (que, segundo The Holy Blood and The Holy Grail (no Brasil, “O Santo Graal e a Linhagem Sagrada“),
poderia ter sido um homem membro do Priorado de Sião). A diocese,
aparentemente, deu um parecer negativo e recomendou que a concessão
fosse recusada. Mas, estranhamente, o Vaticano concedeu-lha.
É evidente
que a relação com Corbu é muito importante para a compreensão da
história de Rennes-le-Château: o mistério não terminou com a morte de
Saunière. E, como Corbu viveu com Marie durante sete anos, estava em
boa posição para descobrir o segredo. Qualquer que ele fosse, Corbu não
o inventou. (Curiosamente, tem-se afirmado que Corbu, com Pierre
Plantard de Saint-Clair, foi inspirador do aparecimento do Priorado aos
olhos do público, nos anos 60, mas estes rumores nunca foram
confirmados.)
Vimos, no
capítulo anterior, que Saunière foi apenas um indivíduo implicado num
mistério muito vasto da área onde se situa a aldeia de Rennes-le-Château
– em acontecimentos que envolviam grandes somas de dinheiro e que
levaram algumas pessoas a recorrer ao assassínio.
Sem dúvida
que o mistério também envolvia grupos de Paris, com os quais Saunière
estava em contato. Mas é interessante que muitas das figuras principais
dos círculos que rodeavam Emma Calvé fossem – como a própria Emma – de
origem languedoquiana. Foi referido que não era, de fato, necessário
que Saunière se tivesse deslocado a Paris para conhecer a maioria
dessas pessoas, porque elas visitavam com frequência Toulouse, o «berço
do seu círculo». A pista conduz-nos, de novo, a pessoas e grupos cujos
nomes já são familiares desta investigação.
Estas
relações são excepcionalmente relevantes: não só lançam alguma luz,
muito necessária, sobre o próprio Saunière mas também revelam que a
história de Rennes-le- Château faz parte, de fato, desta investigação.
Seguir o rasto do sacerdote até à complicada «árvore genealógica» dos
grupos ocultistas, que já discutimos, iria oferecer-nos conhecimentos e
revelações completamente inesperados sobre a verdadeira natureza do
mais divulgado mistério do Languedoc, o qual, que saibamos, nunca foi
publicado na Inglaterra.
Estranhamente,
considerando todo o tempo e trabalho que foram investidos para tentar
esclarecer o mistério, algumas das respostas saltam literalmente aos
olhos do investigador. Indicações sobre a filiação particular de
Saunière encontram-se na própria igreja de Rennes-le-Château. Apesar de
os céticos terem sugerido que toda a decoração aparatosa e peculiar
podia ser atribuída ao mau gosto ou a uma aberração mental de Saunière,
outra investigação mostra que há mais, muito mais, e não menos,
mistérios naquele «terrível» lugar.
Suspeitávamos de que a igreja e os seus arredores imediatos tinham sido planejados e projetados segundo um plano arcano (ocultista)
muito específico. Os seus motivos dominantes parecem ter sido a
inversão, imagens invertidas e o equilíbrio dos opostos: por exemplo, a
contrapartida da Torre de Magdala é a estufa, na outra extremidade dos
baluartes. Enquanto a primeira é construída de pedra sólida e tem vinte e dois
degraus, que conduzem ao topo do torreão, a segunda é de material
insubstancial e os seus vinte e dois degraus conduzem a uma sala
situada em baixo. E a disposição do jardim e o calvário, no exterior da
igreja, configuram um padrão geométrico preconcebido – e,
presumivelmente, significativo.
Estas
nossas observações foram confirmadas por Alain Féral, um famoso artista
que vive na aldeia – e que era protegido de Jean Cocteau. Féral, que
vive na aldeia desde o princípio dos anos 80, fez as mais
pormenorizadas medições dos planos da igreja e dos edifícios
circundantes e concluiu que eles revelam temas recorrentes. (Pode não
ter sido, evidentemente, o próprio Saunière o responsável por isso –
pode ter sido Henri Boudet ou o arquitecto que ele encarregou de fazer a
obra ou mesmo os superiores de qualquer grupo com que Saunière podia
estar envolvido.)
Reforçando
a nossa ideia do tema das imagens refletidas, Féral refere que o pilar
visigodo (que, anteriormente, sustentava o altar) ostenta uma cruz
esculpida, que Saunière colocou ao contrário, no exterior da igreja. Também
cita o significado do número vinte e dois: além das escadas da torre e
da estufa, o número aparece em toda a parte do domaine. Dois lances de escadas conduzem do jardim ao terraço, cada um deles com onze degraus. As duas inscrições da igreja que mais atraíram a atenção – “Terribilis est locus iste”, acima do pórtico, e “Par ce signe tu le vaincras”, acima da pia da água-benta – são ambas formadas por vinte e duas
letras. (A frase latina, que é mais usualmente transcrita como
Terribilis est locus iste, e o le que é estranho à frase francesa
parecem ter sido imaginadas para dar a cada uma delas vinte e duas letras. ) Há uma boa razão para a importância de onze e do vinte e dois: estes números são ambos «números básicos (mestres)» do ocultismo. Têm particular significado nos estudos cabalísticos.
Assim, há
um curioso padrão heterodoxo criado por quatro objetos, dois no interior
e dois no exterior da igreja: o confessionário, que está diretamente
voltado para o altar; o próprio altar; a estátua de Notre-Dame de
Lourdes (com a inscrição de «Penitência! Penitência!»), no exterior da
igreja, sobre o pilar visigodo invertido, e o «calvário» do pequeno
jardim, que o próprio Saunière construiu com todo o esmero. Estes quatro
elementos não só formam um quadrado perfeito como também transmitem
uma mensagem simbólica.
O
confessionário e a inscrição «penitência» referem-se ambos a
arrependimento e defrontam, respectivamente, o altar e o calvário, ambos
simbólicos de salvação da Alma. Assim, cada grupo de pares parece
simbolizar uma jornada, caminho ou iniciação espiritual – do
arrependimento ao perdão e daí à salvação. Isto foi tão cuidadosamente
concebido que devia ter transmitido alguma mensagem especial e oculta.
Saunière está tentando dizer que o perdão e a salvação também se
encontram fora da Igreja? E há aqui mais alguma indicação, alguma coisa
relacionada com figuras que representem arrependimento e penitência –
João Batista e Maria Madalena?
A frase
«Penitência! Penitência!» foi a que, supostamente, a Virgem Maria
proferiu durante as aparições de La Salette. Dos dois jovens
visionários, um era uma pastora, Melanie Calvet, que era parente de Emma
Calvé. (Emma alterou a grafia do seu nome quando se tornou cantora de
ópera.) Durante algum tempo, a visão de La Salette ameaçou rivalizar
com a de Lourdes, mas a Igreja Católica concluiu que ela era apenas uma
mistificação. A visão de La Salette, no entanto, foi defendida pelo
movimento joanino/Naündorff/Vintras (consultar o Capítulo 7). Saunière
também escreveu em defesa das visões de La Salette.
Como
vimos, é pouco provável que as célebres decorações da igreja sejam
sinais indicadores da localização de algum grande tesouro. Se Saunière
tivesse encontrado alguma coisa que o tornasse muito rico, dificilmente
iria decorar a sua igreja com instruções codificadas que conduzissem
ao lugar onde ela se encontrava. É mais provável que as decorações
tentem esconder alguma coisa ou, no mínimo, fazer uma comunicação que
seria óbvia apenas para um iniciado.
A melhor
analogia – e, nas circunstâncias, a mais apropriada – é com um espaço
de uma loja maçônica. Para um não-iniciado, os vários símbolos
empreguados nesses templos – os compassos, os esquadros e outras
insígnias – não podem ser «decodificados» para revelar qualquer quadro
coerente das intenções dos maçônicos. É preciso conhecer a filosofia, a
história e os segredos subjacentes que eles simbolizam, para
compreender a sua real função ali.
Muitos
observadores identificam símbolos de várias sociedades secretas e
ocultistas – os rosacruzes, os Cavaleiros Templários e os maçônicos – na
decoração da igreja. As rosas e as cruzes do tímpano referem-se
claramente aos rosacruzes. Uma das anomalias das Estações da Via Sacra,
que é citada com maior frequência, é a da Oitava Estação, em que Jesus
(carregando a cruz sem esforço) encontra uma mulher que usa o que
parece ser um véu de viúva e que tem o braço em volta de um rapazinho
envolto no que parece ser um manto axadrezado.
Isto é
tomado como uma referência aos maçônicos, que se auto-intitulam os
«Filhos da Viúva». (E talvez haja algum significado no fato de a Oitava
Casa astrológica reger os mistérios do sexo, da morte e da reencarnação –
e do oculto.) O pavimento da igreja, os quadrados brancos e pretos, e o
teto azul, com as suas estrelas douradas acima do altar, evocam as
decorações habituais de uma loja maçônica.
Em nossa
opinião, um dos elementos mais importantes de toda a igreja é o primeiro
com que o visitante depara ao entrar nela. O demônio, recentemente
vandalizado, foi sempre designado por «Asmodeus», aquele que
tradicionalmente guarda tesouros escondidos – embora não haja nada
nesta estátua que a associe explicitamente ao demônio daquele nome.
Discutimos
esta questão com Robert Howells, que, como gerente de uma das mais
famosas livrarias ocultistas de Londres, tem um conhecimento
extraordinariamente vasto do simbolismo esotérico e cujas investigações
sobre o mistério de Rennes-le-Château são doutas, sensatas e de grande
importância. Referiu a existência de uma antiga lenda judaica acerca da
construção do Templo de Salomão em Jerusalém, segundo a qual o rei
impediu vários demônios de interferir na obra, de várias maneiras
diferentes – um deles, Asmodeus, foi «submetido» obrigando-o a
transportar água, o único elemento que podia ser usado para o
controlar.
É
significativo que estas lendas tivessem sido incorporadas no saber
maçônico, e não é coincidência encontrar este quadro na igreja de
Saunière, onde Asmodeus está a ser controlado, carregando água, sob as
palavras «Por este sinal tu o vencerás». E as decorações da pia da
água-benta – anjos, salamandras, pia da água e demônio – representam os
quatro elementos clássicos em alquimia e ocultismo, saber, do ar,
fogo, água e da terra, que são essenciais em qualquer obra ocultista.
Se o elo
de ligação com Asmodeus está correto, então é muito curioso, porque o
quadro do demônio e o de Jesus estão claramente destinados a ser
considerados em conjunto. Como o demônio está sendo subjugado pela
água, está acontecendo a mesma coisa quando João derrama água sobre
Jesus durante o batismo do mesmo? Há também uma peculiar inversão da
ordem habitual das duas letras gregas alfa e ômega, a primeira e a
última, que são associadas a Deus e Jesus. Seria de esperar que alfa
estivesse representado sob João – o alegado precursor – e ômega sob
Jesus, a culminação. Mas, aqui, verifica-se o inverso.
A
prevalência de imagens que sugerem o Templo de Salomão, tanto no
interior como no exterior da igreja, podiam referir-se aos maçônicos ou
aos Cavaleiros Templários. O fato de as letras anômalas da citação
errada “Par ce signe tu le vaincras”, que se
encontra entre os quatro anjos e o demônio, serem a décima terceira e a
décima quarta (o «le» é completamente supérfluo e altera o significado
da frase) tem sido considerado como evocativo do ano de
1.314, quando Jacques de Molay, o último Grão Mestre da Ordem dos
Cavaleiros Templários foi queimado na fogueira em Paris.
Todo este
simbolismo ocultista tem sido laboriosamente analisado por dúzias de
investigadores competentes, ao longo dos anos, e os resultados têm sido
outras tantas interpretações diversas. Mas as respostas podem ser muito
simples e desanimadoramente óbvias. De fato, o simbolismo da igreja de
Rennes-le-Château nunca foi um mistério para os que são versados no
conhecimento maçônico.
É
simplesmente a indicação da filiação particular de Saunière, que era
maçônica. Isto é confirmado pela sua escolha do escultor para as
Estações da Via Sacra e das outras estátuas – um certo Giscard, que
vivia em Toulouse e cuja casa e estúdio, bizarramente decorados, ainda
se conservam na Avenue de la Colonne daquela cidade. Giscard era um
conhecido maçônico, embora reconhecidamente se especializasse em
decorações de igrejas e outros exemplos da sua obra se encontrem por
todo o Languedoc.
Curiosamente,
na igreja de João Batista, em Couiza, situada no sopé da colina abaixo
de Rennes, encontram-se idênticas Estações da Via Sacra, que foram obra
de Giscard – mas estas são versões monocromáticas e as anomalias, tão
visíveis na igreja de Saunière, estão ausentes. É quase como se as duas
igrejas, separadas apenas por dois quilômetros, se destinassem a ser
comparadas para pôr em relevo as excentricidades da versão de Saunière.
Jean
Robin, no seu livro sobre Rennes-le-Château, afirma que as filiações
maçônicas de Saunière são confirmadas pelos registros dos arquivos da
diocese. Como vimos, no entanto, a Maçonaria consiste em várias
“tradições” distintas. A qual delas pertencia Saunière? Também neste
ponto, investigadores franceses bem informados estão de acordo: a sua
filiação era no Rito Escocês Retificado, o ramo da Maçonaria «ocultista»
que, especificamente, se reclama descendente da Ordem dos Cavaleiros Templários.
Antoine
Captier, neto do sineiro de Saunière, que atua como foco de investigação
sobre Rennes-le-Château e o caso Saunière, disse-nos: «Sabíamos que
ele pertencia a uma loja maçônica. Foi enviado para um lugar onde havia
alguma coisa [importante]. Ele encontrou certas coisas. Mas, mais uma
vez, ele não estava sozinho. Ele não trabalhava sozinho.» Mais tarde,
no decorrer da conversa, Captier foi mais preciso: as ligações de
Saunière eram com o Rito Escocês Retificado; mas acrescentou: «Não é
segredo.» Foi esta também a conclusão a que chegou Gérard de Sède, que
investigou o caso durante trinta anos. De fato, De Sède pensa que algum
do simbolismo da Nona Estação da Via Sacra evoca o grau de Chevalier
Bienfaisant de la Cité Sainte – um eufemismo para «Cavaleiro Templário».
Há outra
indicação da possível filiação de Saunière. A sua escolha das estátuas
dos santos da sua igreja, à exceção das Madalenas, tem sido vivamente
debatida pelos investigadores: St. Germaine, St. Roch, dois Antônios –
de Pádua e o Eremita – e, por cima do púlpito, S. Lucas. Alain Féral
observou que, se as estátuas forem dispostas com a forma M sobre o
pavimento da igreja as suas iniciais formam a palavra Graal.
Com os
símbolos da Rosacruz nos tímpanos e a predominância de imagens do Templo
de Salomão, isto aponta na direção da Ordem da Rosacruz, do Templo e
do Graal – uma ordem fundada em Toulouse, por volta de 1850, mais tarde
presidida pelo próprio Joséphin Péladan, o padrinho dos grupos
ocultistas eróticos da época.
No
princípio da nossa investigação, tínhamos pensado que a tendência de
muitos investigadores para acreditar que todos os caminhos conduziam a
Rennes-le-Château era errada. Mas, em certo sentido, eles têm razão,
embora por motivos equivocados. Certamente, foi espantoso descobrir a
intrincada rede de grupos ocultistas e maçônicos, que já discutimos, e
seguir o seu rastro até Saunière e à sua aldeia. Isto não é
coincidência: faz parte de um complicado e meticuloso plano que já
estava bem implantado antes de Saunière nascer e que continua até hoje.
Vimos que
Saunière revelava grande interesse pelo túmulo de Marie de Nègre
d’Ables, senhora d’Hautpoul de Blanchefort, que foi erigido por Antoine
Bigou, pároco de Rennes- le-Château, em 1791. Marie foi a última da
descendência direta que detinha o título de Rennes-le-Château, embora
outros ramos da família tivessem continuidade. Marie de Nègre d’Ables
casara, em 1732, com o último marquês de Blanchefort, cujo nome derivava
do vizinho «château» (embora ele pareça ter sido apenas um gênero de
torre) de Blanchefort, cujas ruínas ainda existem.
A família
de Marie, no entanto, tinha algumas ligações muito interessantes. Já
discutimos o influente Rito de Mênfis da maçonaria, que, mais tarde, se
fundiu com o de Misraïm. Este foi fundado em 1838, por Jacques-Étiennes
Marconis de Nègre, que era da mesma família da Marie da história de
Rennes-le-Château. E foi um dos Hautpouls – Jean-Mane Alexandré – que
contribuiu para a criação do grau de Chevalier Bienfaisant de la Cité
Sainte, o eufemismo de Cavaleiros Templários do Rito Escocês Retificado,
em 1778.
Alguns
membros da mesma família tiveram um lugar de relevo na loja maçônica La
Sagesse, que teve origem na Ordem da Rosacruz, do Templo e do Graal. O
sobrinho e herdeiro de Marie de Nègre, Armand d’Hautpoul, estava
relacionado com indivíduos ligados ao Priorado, incluindo Charles
Nodier, que foi grão-mestre entre 1801-1844. Armand d’Hautpoul também
foi preceptor do conde de Chambord, cuja viúva foi tão generosa para
Saunière.
O Rito de
Mênfis da maçonaria de Marconis de Nègre estava intimamente ligado à
sociedade conhecida por Os Filadelfianos, que fora criada pelo marquês
de Chefdebien – um Rito Escocês Retificado maçônico – em Narbonne, em
1780. Esta é outra das sociedades maçônicas templaristas influenciada
pelas ideias do barão Von Hund: Chefdebien assistira à famosa Convenção
de Wilhelmsbad de 1872, que tentara resolver definitivamente a questão
das origens templárias dos maçônicos. Os
filadelfianos, como o Rito de Mênfis, estavam primordialmente
interessados na aquisição de conhecimento ocultista – ambos tinham graus
dedicados unicamente a esta missão.
Os
filadelfianos, além disso, pretendiam tentar esclarecer a complicada
história da maçonaria, com a sua proliferação de hierarquias, graus e
ritos rivais, numa tentativa de descobrir o seu objetivo e segredos
originais. Eles transformaram-se num repositório de informação sobre a
maçonaria e sociedades similares, que lhes foi transmitida de boa-fé ou
que foi obtida através de infiltração. Assim, é significativo que o
irmão de Saunière, Alfred (também sacerdote), fosse preceptor da família
– e que fosse despedido por ter roubado parte dos seus arquivos.
Alfred
Saunière é, indubitavelmente, uma figura-chave dos estranhos
acontecimentos em que o seu irmão mais velho – e mais famoso – estava
envolvido e merecia maior investigação. Contudo, é difícil descobrir
muita coisa a seu respeito, embora se saiba que foi amante da ocultista
marquesa de Bourg de Bozas, uma das pessoas que visitavam a Vila
Betânia em Rennes-le-Château. Alfred morreu em 1905, vítima de
alcoolismo, após ter sido excomungado.
Depois da
morte de Alfred, Saunière, numa carta ao seu bispo, referia-se a um
sentimento local de que «devia expiar os erros do meu irmão, o abade,
que morreu demasiado cedo». Logo que tivemos conhecimento das ligações
de Saunière com a maçonaria do Rito Escocês, grande parte do quadro
mais vasto começou a tornar-se mais claro. E, longe de ser uma obsessão
pessoal, a deferência especial de Saunière pela Madalena emergia
verdadeiramente como fazendo parte da Grande Heresia europeia. A chave
destas filiações residia nas pessoas que ele conhecia.
De fato, é
possível ir mais longe e associar Saunière a Pierre Plantard de
Saint-Clair, por intermédio de um só homem: George Monti. Também
conhecido sob os pseudônimos de conde Israel Monti e Marcus Vella, ele é
uma das mais implacáveis e poderosas figuras das sociedades secretas
do século XX – embora, de modo algum, a mais conhecida. À maneira
clássica destes “magos”, ele preferia exercer a
sua influência na sombra, em vez de procurar popularidade, ao
estilo do seu associado Aleister Crowley.
Ao longo
da vida, subiu nas hierarquias de muitas sociedades ocultistas, mágicas
e maçônicas, por vezes para se infiltrar nelas por conta de outros.
Foi também um agente duplo dos Serviços Secretos franceses e alemães;
como no caso de John Dee e, possivelmente, também de Leonardo, os dois
mundos da espionagem e do ocultismo andam frequentemente de mãos dadas.
Monti levou uma vida tão complexa que é impossível determinar onde
residia a sua fidelidade. Muito provavelmente, apenas nele próprio e no
seu amor pela intriga e pelo poder pessoal.
Quaisquer
que fossem os verdadeiros motivos de Monti, ele teve um êxito espantoso
na sua vida secreta, ocupando, por vezes, altos cargos em sociedades
que eram mutuamente hostis, ou porque uma desconhecia a existência das
outras ou porque cada uma acreditava que ele se infiltrara noutros
grupos em seu favor. Por exemplo, embora alguns desses grupos fossem,
como Monti, nitidamente anti-semitas, ele também conseguiu ocupar uma
alta posição na B’nai B’rith, uma fechada sociedade secreta judaica, fundada nos EUA – tendo-se mesmo convertido ao judaísmo com essa finalidade.
Monti
nasceu em Toulouse em 1880, tendo sido abandonado pelos seus pais
italianos e educado pelos jesuítas. Desde muito cedo interessou-se pelo
mundo misterioso das sociedades secretas ocultistas. Viajou muito pela
Europa e passou algum tempo no Egito e na Argélia. Entre as muitas
sociedades a que aderiu, contava-se a Holy Vehm, uma organização alemã
especializada em assassinatos políticos. Também se diz que ele «detinha
a chave» da maçonaria italiana. Entre as muitas pessoas que conhecia
encontrava-se Aleister Crowley – de fato, ele fora descrito como o
«representante francês» de Crowley e foi membro da O.T.O.(Ordo
Templi Orientis), quando o excêntrico inglês era grão-mestre. Não é
surpreendente que a vida duvidosa de Monti, eventualmente, o
comprometesse e ele fosse envenenado em Paris, em Outubro de 1936.
Ele figura
nesta investigação porque a sua primeira função no mundo ocultista
parisiense foi a de secretário de Joséphin Péladan e, por conseguinte,
íntimo do círculo de Emma Calvé. Como vimos, Saunière era conhecido por
ter ligações com Péladan e o seu grupo e por ter conhecido Emma Calvé,
portanto, devia ter conhecido Monti. Além disso, este era do Languedoc e
vivera, por vezes, em Toulouse ou em qualquer outro lugar do Midi (Sul
da França).
Em 1934,
Monti fundou a Ordem Alpha-Galates, da qual Pierre Plantard de
Saint-Clair se tornou grão-mestre em 1942, com a idade imatura – mas
talvez significativa – de 22 anos. E, embora Plantard tivesse apenas 16
anos quando Monti morreu, ele conhecia-o. Anne Léa Hisler, ex-mulher
de Plantard, num artigo de 1960, escreveu inequivocamente que ele
«conhecia bem o conde Georges Monti». Monti pode mesmo ter sido o seu
professor e mentor ocultista.
Assim,
parece que existia um claro elo de ligação entre Saunière e Plantard de
Saint-Clair, sob a forma de Georges Monti, talvez representando a
continuação de uma certa tradição secreta.
Então, que
conclusão podemos tirar da história de Saunière? Eliminar todas as
ofuscações, mitos e conjecturas não é tarefa fácil, mas parece que o
sacerdote andara a procurar alguma coisa e que não agia sozinho. As
provas apontam para a existência de um patrocinador secreto, muito
possivelmente ligado às influentes sociedades ocultistas de Paris e ao
Languedoc. Esta não é apenas a explicação mais lógica, é também a que o
próprio Saunière apresentou. Quando o sucessor de Billard, como bispo
de Carcassonne, exigiu que Saunière explicasse a sua extravagante
maneira de viver, o sacerdote respondeu vivamente:
Não sou obrigado… a divulgar os nomes dos meus doadores. Torná-los públicos, sem autorização, correria o risco de trazer a discórdia a certas famílias ou casas… CUJOS membros fizeram doações sem o conhecimento dos seus maridos, filhos ou herdeiros.
Mais
tarde, ele disse ao bispo que lhe revelaria os nomes dos seus doadores –
mas apenas em segredo de confissão. A redação de uma carta de apoio,
escrita a Saunière por um amigo íntimo, em 1910, emprega uma linguagem
mais sugestiva:
Recebeste o dinheiro. Não é qualquer pessoa que pode penetrar no segredo que guardas… Se alguém te deu o dinheiro, sob o compromisso de natural segredo, és obrigado a guardá- lo, e nada te pode libertar de guardar este segredo…
Parece que
Alfred, o irmão de Saunière, também conhecia o segredo. Ao ser
interrogado pelas autoridades sobre a sua extravagância, Saunière
respondeu:
O meu irmão, sendo pregador, tinha numerosos contatos. Servia de intermediário a estas almas generosas.
Mas,
embora a região de Rennes-le-Château possa ter sido o ponto de partida
da misteriosa investigação de Saunière – a qual, parece, foi
empreendida em nome destes ilusórios desconhecidos -, parece que o
objeto da pesquisa podia encontrar-se em outro lugar.
Continua …
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- http://thoth3126.com.br/a-revelacao-templaria-5a-os-guardioes-do-graal/
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