domingo, 11 de maio de 2014

OS GALOS... OS GALOS DA MANHÃ... OS DESTINOS HUMANOS



Tecendo a Manhã – João Cabral de Melo Neto


"Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.”





As Moiras, as filhas do Destino, na mitologia grega, teciam os destinos humanos da mesma forma como os galos do João Cabral tecem a manhã...  O galo... o galo do terreiro... o galo da torre dos ventos... o galinho de Barcelos... o galo de rinha... o símbolo do machismo... 






As Moiras eram três irmãs que determinavam os destinos humanos, especialmente a duração da vida e seu quinhão de atribulações e sofrimentos.

Os galos da minha infância... sempre cantando... por anos sem conta... noite por noite... tecendo os destinos humanos... o Rudinei morreu jovem... um caminhão... uma tragédia... a Beta, não sei... sei lá da Gisele, tão delicada,... o Ivo, já foi... o José, foram muitos Josés, haverá algum vivo? Não lembro... quem sabe? O Carlinhos... morreu. Dos poucos que restam, o Juca, está rico... a Verônica, velhinha... a Cleni... em Brasília... o Joãozinho... imitava o Repórter Esso... dele nada mais sei... ninguém fala... a Mariazinha... ah, a Mariazinha... dizem que ela sonhava comigo... mas, me fui para sempre... ganhei o mundo... e os galos... eles sempre marcando as manhãs... dia após dia, no tempo sem conta...


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