Hesíodo, cujo nome em grego era Ἡσίοδος, foi o grande responsável para
que chegasse até nós grande parte dos mitos dessa civilização que mais
profundamente marcou a cultura ocidental. O poeta viveu no século VIII a. C.,
portanto, no século seguinte a Homero, precedendo a todos os demais grandes
poetas, mormente os trágicos.
Não há uma data precisa de seu nascimento, mas sabe-se que produziu
sua obra entre 750 e 650 a. C. Produziu duas obras de grande importância para
nós, a Teogonia e Os Trabalhos e os Dias. Para a mitologia, a que tem maior
interesse é a Teogonia. É dessa obra
que vamos tratar muito resumidamente a seguir, para que se possa entender a
mitologia grega em seu conjunto. Ocorre que Hesíodo era sistemático e tratou
dos deuses gregos e suas relações mútuas.
A Teogonia, Θεογονία no idioma grego clássico, etimologicamente, forma-se dos
termos gregos Θεός (theós), Θεοῦ (theú), conforme as
formas do nominativo e genitivo singular gregos, que tem o sentido geral de
deus, somado ao radical γονία,-ας, cujo sentido é origem,
nascimento. Portanto, a Teogonia
trata da origem dos deuses, no caso específico de Hesíodo, sua teogonia trata
da origem das divindades gregas. Por essa razão, há uma tradução portuguesa que
traz como subtítulo da obra: genealogia dos deuses, ficando o título assim: Teogonia ou genealogia dos deuses.
A obra é um poema mitológico, composto de 1022 versos
alexandrinos, ou seja, hexâmetros, formados de seis pés métricos, de acordo com
a métrica clássica grega. Trata-se de uma cosmogonia, isto é, uma narrativa da
origem do cosmo, de acordo com a visão daqueles tempos pré-cristãos.
Primeiramente, o autor desenvolve a origem progressiva dos
deuses através de famílias divinas, a que se seguem relações e hibridismos
humano-divinos. Aparecem os conceitos dos gregos dessa época de uma cosmogênese
bem como de uma cosmovisão.
Sua Teogonia consiste numa trajetória do caótico para o
ordenado. Parte da divindade primordial Caos (Χάος), o vazio primitivo no tempo
primordial, circular e indefinido. Esse deu origem aos primeiros princípios de
ordem, com as primeiras divindades como Gaia (Γαῖα),
a terra mãe, que primeiro gera e concede a vida a todos os viventes, depois,
nutre-os pelo tempo, na medida de cada um e, por fim, acolhe em seu ventre de
exéquias, os restos inertes e as cinzas de todos os mortos.
Depois Caos ainda gera o Tártaro, a escuridão primeva, nas profundidades,
mais abissais que o Hades infernal, morada de Hesfesto, Ήφαιστος, e de todos os mortos, depois de
atravessado e infernal Estige (Στυξ),
pelo remo do tétrico Caronte, Χάρων,
em grego clássico. Prosseguindo sua obra, Caos gera Eros (Ἔρως), o eterno desejo que tudo
modifica e conduz à renovação da vida, às descobertas da ciência e ao amor
infinito. Por fim, produz Hemera (Ἑμέρα),
o dia luminoso e sua eterna irmã Nix, a tenebrosa noite. Gaia une-se a Ponto e
gera Urano. Surgem, então, as três gerações divinas do Olimpo:
Gaia, a terra
mãe, e seu Urano (Οὐρανός), o céu infinito, vão
constituir a primeira geração de deuses do Olimpo (Όλυμπος). E todas as noites Urano cobria
Gaia com sua luminosidade e força. Deles se originaram os Titãs (Τιτάν), os Ciclopes (Κύκλωπες) e os Hecatônquiros (Έκατόνχειρες), seres gigantes de 50
cabeças e 100 braços. Urano aprisionou os filhos mais novos de Gaia no Tártaro,
nas entranhas da Terra, causando grande dor à mãe zelosa. Ela forjou uma foice
e pediu aos filhos para castrarem Urano. Apenas Cronos, o mais jovem dos Titãs,
concordou. Ele emboscou seu pai, castrou-o e lançou os testículos cortados ao
mar. Segundo outra versão, castrou-o enquanto se deitava sobre Gaia.
Cronos une-se a
sua irmã, a Titânide Rea, e com ela
forma a segunda geração divina. Porém, a seguir, devora cada filho que nasce. Assim,
Héstia, Deméter, Hera, Hades, Posídon, Prometeu etc. são devorados pelo pai, com
pavor de que o viessem a destronar. Até que, ao nascer Zeus, Rea o ludibria,
dando-lhe uma pedra enrolada em panos, que ele vorazmente engole. Zeus foi criado num bosque de Creta e
foi alimentado com mel e leite de cabra pelo centauro Quíron.
Zeus destrona seu
pai Cronos e une-se a sua irmã Hera
em mais uma adelfogamia e forma a terceira e última geração divina. Zeus era
promíscuo, teve várias amantes (deusas e mortais) e vários filhos destes
relacionamentos. Os filhos mais conhecidos de Zeus são: Apolo (deus da medicina
e da luz), Atena (deusa da sabedoria e da estratégia), Hermes (deus do comércio
e dos viajantes), Perséfone (deusa do mundo subterrâneo), Dionísio (deus do
vinho), Herácles (herói grego), Helena (princesa grega, rainha de Esparta),
Minos (rei de Creta) e Hefesto (deus do fogo e do Hades, a morada dos mortos).
Parece que Hesíodo e
Homero, quanto à idade, foram mais velhos do que eu em quatrocentos anos, e não
mais. Eles são os que compuseram teogonia para os gregos, deram os nomes aos Deuses,
distinguiram-lhes honras e artes, e indicaram suas figuras. (Heródoto, II,
53). A mitologia parece ter sido amais sábia forma de ler o universo e seus
segredos insondáveis.
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