terça-feira, 8 de julho de 2014

SAUDOSISMO




  


     Nasci no campo. Meu corpo cresceu no campo. Mais... minha alma cresceu no campo. Fui crescendo com as coisas do campo... com a gente do campo. Tenho os campos e os campesinos para sempre na alma. Meus olhos, muitas vezes verdejam...
     ... a água fresca que nasce nas pedras... a fruta do pé... o leite gostoso... manteiga... e tantas coisas boas... o sol lindo da manhã... os pores de sol por dias sem conta entre as montanhas... e a chuva de verão... as enxurradas... as flores do tempo... a geada... tudo branco... o riacho descendo entre as pedras... 
      Porém, a dualidade da vida permeia tudo: criam-se pintinhos lindos... com amor... borreguinhos brancos e bezerros dóceis... ordenham-se as cabras e as vacas... as galinhas cacarejando... o canto saudoso dos galos pelas madrugadas... os leitõezinhos... grunhindo... 
     Depois... vinha a morte... frango... ainda guardo na retina os incontáveis tantos frangos pulando com o pescoço quebrado para o almoço de domingo... patos e gansos degolados... nunca se apagaram dos meus ouvidos os urros finos, horríveis, dos porcos com o peito aberto por um cutelo afiado... depois o boi... a veia do pescoço... o sangue pingando... aos poucos... silêncio... até que tombava calado e então se abria, esfolava e carneava...

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