Prof. Dr. Oscar Luiz
Brisolara
O povo judeu
tem uma saga histórica e geográfica milenar, envolvendo laços com praticamente
todos os povos e países. Segundo a vertente mais consensual, o povo judeu, mais
especificamente o povo hebreu, origina-se de Abraão, um migrante da
Mesopotâmia. O termo judeu origina-se de Judá, um dos filhos de José, que dava
nome a um dos reinos em que esse povo se dividiu na antiguidade: o Reino de
Judá e o Reino de Israel, como se verá melhor mais adiante.
Hebreu etnônimo possivelmente oriundo do nome próprio Héber.
Segundo o Livro do Gênesis, capítulo 10, versículo 21: “ Noé gerou a Sem; este gerou
a Arfaxade, que gerou Salá, que gerou Héber; este gerou a Pelegue, que gerou
Reú, que gerou Serugue, que gerou Naor, que gerou Tera, que então gerou a Abrão...”
(Gen. 10: 21 e seg.).
Segundo diversos outros textos antigos, alguns deles
bíblicos, Abraão teria migrado de Ur da Caldeia, na Mesopotâmia, atualmente
Iraque. Ur situa-se ao sul da cidade da Babilônia, na margem direita do Rio
Eufrates, nas proximidades do Golfo Pérsico. Vide mapa abaixo:
MAPA DA MESOPOTÂMIA |
Diz o livro do Gênesis ainda:
“Taré tomou seu filho Abraão, sua nora (...) e partiu com eles de Ur da Caldeia
(...)”. (Gen. 11: 30-32) Isso mostra que os antigos hebreus consideravam-se de
origem caldaica, da cidade-estado de Ur.
Segundo ainda o texto bíblico,
Abraão parte para Canaã: “... partindo de Ur da Caldeia, indo para a terra de
Canaan.” (Gen. 11: 31).
ROTA DE ABRAÃO |
Este lugar corresponde ao
território onde hoje se situa Israel, vale do Rio Jordão. Observando o mapa
acima, percebe-se que Abraão faz um longo trajeto, tendo de ir para o norte e
depois voltar para o sul, porque era impossível atravessar o Deserto da Arábia.
No mapa abaixo, veja-se o tamanho
de Israel em relação aos demais países do Oriente Médio:
ORIENTE MÉDIO |
Veja-se agora apenas Israel, a faixa de gaza, o vale do rio
Jordão e a Jordânia, com o Egito (região do monte Sinai) antes do rio Nilo
abaixo:
ISRAEL, GAZA, EGITO |
Abraão saiu da Mesopotâmia, de terras férteis entre o rio
Tigre e o Eufrates, sobe para o norte para evitar o Deserto da Arábia,
atravessa parte da Síria, descendo depois para Canaã, que vai se chamar de
“terra onde corre leite e mel”, evidente metáfora da abundância de alimentos.
Por que essa metáfora? Observe-se que, entre tantos
desertos, há uma terra que tem um rio que nasce no norte, desce até o sul do
país. No meio, vai formar um grande lago (grande para a região), que têm em
torno de 19 km de comprimento e uma largura máxima de 13 km, chamado por uns de
Mar da Galileia, por outros de Mar de Tiberíades e ainda de Lago de Genesaré.
LAGO DE GENESARÉ |
Esse mesmo rio segue até o sul do país, desaguando na maior
depressão geográfica da Terra, formando o Mar Morto, que se situa a mais de 400
m abaixo do nível do mar. Como esse mar não tem saída e a região é muito quente
suas águas através dos milênios se foram tornando tão densas e pesadas que o
banhista flutua sem afundar.
BANHISTA FLUTUANDO |
Antes de voltar-me para a palestina pré-cristã, vou fazer um
intervalo para me situar em duas regiões atualmente importantes nos conflitos
do Oriente Médio: a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. A Faixa de Gaza, que recebe
essa denominação por estar situada nela a cidade histórica de Gaza, também
conhecida como Palestina.
A Palestina, na antiguidade era conhecida como Filistina ou
Terra dos Filisteus, inimigos constantes dos hebreus. Continua hoje como região
de conflito. Situa-se na fronteira como o Egito, às margens do Mar
Mediterrâneo.
A Cisjordânia é uma faixa de terra pertencente à Jordânia
que se situa na margem direita do Rio Jordão no sentido em que ele desce para o
Mar Morto.
O País de Israel pré-romano situava-se de ambas as margens
do Jordão. Porém, Israel moderno, criado pela ONU a partir do pós-guerra
mundial de 1939/45, restringe-se à margem esquerda do Jordão. Mas ainda assim,
contém, próximo a Jerusalém, uma porção de terras do lado direito do rio,
pertencentes à Jordânia, conhecidas como Cisjordânia, de cis (do lado de cá) do
Jordão. Logicamente, esse posicionamento do lado de cá esta em relação aos
falantes judeus, cujo país esta todo do lado de cá. Os grandes conflitos dos
judeus com os povos de origem árabe estão justamente nestes territórios.
Observe isso no mapa abaixo, prestando atenção nas regiões cobertas por linhas:
ISRAEL, CISJORDÂNIA, FAIXA DE GAZA |
Voltando-nos agora para o passado histórico, vejamos abaixo
o primitivo mapa de Israel dos tempos pré-romanos, do período em que havia doze
tribos, na linha do tempo, em torno de 1200 a. C. portanto, após o êxodo do
Egito:
AS DOZE TRIBOS |
Nesse período antigo, sem datas muito precisas, começaram as
primeiras narrativas, registrando em textos escritos a história e as crenças do
povo judeu. Primeiramente o Torá, conhecido também como Pentateuco. Pente (πέντε), em
grego, cinco, e teucos (τεῦχος) rolo, ou
sejam, cinco rolos. Acontece que os livros antigos não eram encadernados como
os atuais e sim enrolados em bastonetes de madeira ou metálicos, conforme os modelos
abaixo:
LIVRO PRIMITIVO |
LIVRO PRIMITIVO |
O Torá estava contido em um Pentateuco, ou seja, estava
dividido em cinco rolos dos tipos acima, contendo os textos dos livros bíblicos
do Gênesis, do Êxodo, do Levítico, dos Números e do Deuteronômio.
Voltemos agora a Abraão, estabelecido já em Canaã. Como sua
esposa Sara contasse já 60 anos e não lhe tivesse dado filhos, julgou-se
estéril e permitiu ao marido que gerasse um descendente com Hagar, serva
egípcia do casal. Hagar gerou, então, Ismael. Deus, porém, anunciou que Sara
daria um filho a Abraão. No ano seguinte nasceu, de Sara e Abraão, um menino
que recebeu o nome de Isaac.
Isaac desposa Rebeca e dela tem dois filhos gêmeos: Esaú e
Jacó. Jacó, o primogênito, o primeiro a sair do ventre materno, como ainda
havia poligamia, casa-se com duas irmãs, Lia e depois Raquel. Camões, cantando
o amor de Jacó por Raquel, escreve este primoroso soneto:
Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: — Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!
Jacó teve doze filhos: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Dan,
Neftali, Gad, Aser, Issacar, Zabulon, José e Benjamim, os dois últimos da amada
Raquel. Seus filhos dariam origem às 12 tribos de Israel.
Houve tempos difíceis para a agricultura em Israel, com
muitos anos sucessivos de seca, o que obrigou Jacó e seus filhos a migrarem
para o Egito. Acredita-se que os judeus tenham permanecido no Egito por volta
de 200 ou 215 anos, no período em que esse país estava sob o domínio dos reis
pastores denominados de Hicsos. Teriam permanecido, portanto, esses 200 ou 215
anos no país do Nilo, entre 1800 e 1500 a. C. Então se teria dado o longo
retorno a Israel.
Moisés e seu irmão Aarão teriam guiado o povo hebreu para
sua terra. Moisés, segundo diversas narrativas, fora criado na corte do faraó
Tutmés III. O povo hebreu vivia, a esse tempo no Egito, como escravo. O menino,
encontrado às margens do Nilo, havia sido criado pela filha do faraó, educado
de acordo com os conhecimentos de uma das civilizações mais avançadas daquele
tempo, sendo, inclusive sofisticadamente alfabetizado.
Não há precisão de datas, mas é possível que o êxodo Egito
se tenha iniciado por volta de 1450/47 a. C e a chegada de retorno ao seu país
por volta de 1410 a. C. Há antropólogos, arqueólogos e historiadores que situam
todos esses fatos no século XIII a. C.
William Dever, que é arqueólogo estadunidense, especialista
em história de Israel e do Oriente Próximo, professor da Universidade do
Arizona, em 2003, publicou um livro intitulado Who Were the Early Israelites and Where Did They Come From?
Nessa obra, ele afirma que, segundo algumas interpretações
do Livro do Deuteronômio, os judeus que saíram do Egito seriam em torno de dois
milhões de pessoas a caminho, enquanto a população egípcia a esse tempo seria
de três a três milhões e meio de cidadãos. Marchando em dez lado a lado, formariam
uma fila de 150 quilômetros. Acrescente-se a eles o gado que levariam consigo,
seria uma caravana inimaginável. Há quem diga que não seriam tantos, seriam
apenas seiscentas famílias. Outros falam de seiscentas mil pessoas.
De qualquer maneira, a saída dos judeus do Egito representou
uma perda irreparável de mão-de-obra para o faraó num período em todas as
atividades dependiam essencialmente da mão humana.
Surge, então o período áureo da civilização hebreia, segundo
um grande número de historiadores e antropólogos, com os reis Davi e seu filho,
o sábio e rico Salomão.
Após o retorno do Egito, vagavam os israelitas como nômades,
na busca das regiões onde melhor pudessem apascentar seus rebanhos e obter água
para si e para os gados, montando suas tendas de vale em vale por muitos anos.
Não possuíam um monarca que os governasse. Os juízes
executavam o papel de reger o povo nas questões em que fosse necessário.
Segundo afirmam alguns historiadores, teriam sido 349 anos o período em que
governaram os Juízes, tendo sido Samuel o último deles. Após, foi escolhido
Saul para a função de primeiro rei de Israel. Saul foi sucedido pelo rei poeta
e salmista Davi, considerado o maior rei de Israel, teria reinado entre 1010 e
970 a. C. Primeiramente, governou apenas sobre o reino de Judá. A partir de
1002, com a unificação de Israel, assumiu todo o reino.
DAVI - NICOLAS CORDIER - BASILCA STA. MARIA MAGUIRE |
Depois de construir o palácio real e fazer o projeto do grande templo, faleceu e foi substituído por seu filho Salomão.
Salomão assumiu o trono de Davi e se constituiu no mais rico
dos reis de Israel Salomão assumiu o trono de Davi e se constituiu no mais rico
dos reis de Israel. Foi considerado o homem mais sábio de todos os tempos. E construiu
o famoso templo de Jerusalém. Fez fama como grande amante acumulando em seu
harém mais de setecentas esposas, tendo, ainda, em torno de trezentas
concubinas. Uma de suas mais famosas amadas foi a rainha de Sabá, que foi a
Jerusalém para conhecê-lo. Ele, se tendo apaixonado por ela escreveu o mais
lindo poema de amor de toda a Bíblia conhecido como Cântico dos Cânticos, ou,
sob outra versão, Cantares.
Osculetur
me osculo oris sui; quia meliora sunt ubera tua vino, fragrantia unguentis optimis.
Oleum effusum nomen tuum; ideo adolescentulæ dilexerunt te. Trahe me, post te curremus
in odorem unguentorum tuorum. Introduxit me rex in cellaria sua; exsultabimus et
lætabimur in te, memores uberum tuorum super vinum. Recti diligunt te. Nigra sum,
sed formosa, filiæ Jerusalem, sicut tabernacula Cedar, sicut pelles Salomonis. (Ct.:
2,5).
Tradução:
Ah! Beija-me com os beijos de tua boca! Porque os teus
amores são mais deliciosos que o vinho, e suave é a fragrância de teus
perfumes; o teu nome é como um perfume derramado: por isto amam-te as jovens.
Arrasta-me após ti; corramos! O rei introduziu-me nos seus aposentos.
Exultaremos de alegria e de júbilo em ti. Tuas carícias nos inebriarão mais que
o vinho. Quanta razão há de te amar! Sou morena (negra), mas sou bela, filhas
de Jerusalém, como as tendas de Cedar, como os pavilhões de Salomão. (Ct. I:
2,5).
Veja-se uma reconstituição por arqueólogos do majestoso
templo de Jerusalém, construído por pelo rei Salomão:
Durante a monarquia hebraica, com os constantes
desentendimentos e separações entre o Reino de Israel e o reino de Judá,
ocorreu a deportação dos judeus para a Babilônia.
O período foi conhecido como Cativeiro Babilônico designa a
deportação em massa e exílio dos judeus do antigo Reino de Judá para
a Babilônia pelo rei Nabucodonosor II. Abaixo está o mapa antigo de
Israel, apresentando a divisão do país em dois reinos, ao sul, o Reino de Judá
e, ao norte, o Reino de Israel:
Este período histórico foi marcado pela atividade dos
profetas Jeremias, Ezequiel e Daniel que seguiram para o exílio com o povo.
Daniel é colocado em uma caverna cheia de leões famintos que lhe lambem as mãos
e Jeremias escreve suas tristes lamentações.
Essa deportação é conhecida também como Primeira Diáspora,
tendo início em 598 a. C., ano em que Jerusalém é cercada, e Joaquim, rei de
Judá, rende-se. Grande parte da elite da sociedade judaica, os oficiais
militares e grande parte da população, juntamente como o rei são levados como
escravos para a poderosa babilônia. Por fim, havendo ainda revoltas em
Jerusalém, onze anos mais tarde, em 587 a. C., Nabucodonosor manda destruir o
grandioso templo de Salomão e fazer uma segunda deportação de mais levas de
judeus para seu reino. As topas de Nabucodonosor destoem o templo de Salomão e
a cidade de Jerusalém.
Porém, Ciro II, o Grande, rei da Pérsia da dinastia dos
Aquemênidas, conquista a Babilônia e permite que o povo judeu retorne a sua
pátria, em 539 a. C.
É preciso destacar que tanto o período de mais ou menos 200
anos em que o povo judeu viveu no Egito, bem como os quase 60 anos em que
estiveram na Babilônia, foram importantes para os judeus. Embora fossem tempos
de sacrifício, levando em consideração que os dominadores eram povos de
culturas muito mais evoluídas do que os conquistados, tiveram grande
importância na formação cultural e religiosa dos hebreus.
A relação de Alexandre Magno com os hebreus é inusitada. O
imperador macedônio, que dominara a Grécia e colocara sob seu cetro o poderoso
e sábio império grego, varria o Oriente Próximo montado em seu cavalo Bucéfalo.
Ao se aproximar de Jerusalém, temendo que ele destruísse a cidade, o Sumo
Sacerdote do templo revestiu-se de gala e saiu ao encontro do vigoroso imperador.
O jovem rei
macedônio, desceu de seu cavalo e inclinou-se diante dele, gesto que o
orgulhoso dominador raramente fazia. Segundo a narrativa de Flávio Josephus,
quando seu general Parmerio lhe perguntou o porquê de sua atitude, Alexandre
respondeu: “Eu não me inclinei perante ele, mas perante aquele Deus que o
honrou com o Sumo Sacerdócio; pois eu vi esta mesma pessoa num sonho, com esta
mesma roupa.”
Ainda segundo o historiador judeu citado acima, ele
interpretou a visão do Sumo Sacerdote como um bom presságio e anexou as terras
de Israel a seu império sem nenhum combate e, como agradecimento a sua bondade,
os Sábios prometeram que o primeiro menino que nascesse na cidade receberia o
nome de Alexandre. Essa anexação se deu em 333 a. C.
Depois da morte precoce do jovem imperador, houve uma grande
disputa para a divisão do Oriente Médio entre seus sucessores, os Ptolomeus do
Egito e os Selêucidas da Síria. Somente em 198 a. C. Antíoco III da Síria
conquistou Israel e outorgou autonomia nacional e religiosa aos hebreus.
Acontece, no entanto, que em 175 a. C. sobe ao poder Antíoco
IV, cognominado Epífanes, que implantou a obrigatoriedade do culto grego
inclusive no templo de Jerusalém. Houve revolta popular esmagada pelo exército
grego.
As humilhações e dominações estrangeiras estavam longe de
acabar, para o povo hebreu. No primeiro século antes de Cristo, ocorre a
dominação romana. Em 63 a. C., o general romano Pompeu conquista a Judéia e a
anexa ao domínio romano. Em 40 a. C., Marco Antônio e Caio Otávio, o futuro
imperador Augusto, sob o domínio do qual Jesus Cristo irá nascer, nomeiam
Herodes rei da Judéia.
Herodes fez obras esplendorosas, apoiado pelos romanos,
principalmente, reformou o templo de Jerusalém. Templo de Herodes:
Em 04 a. C. morre Herodes o Grande e é sucedido por seus
filhos: Arquelau, Herodes Ântipas e Filipe. Porém, a partir de 6 d. C.,
tornou-se a província romana da Judéia, sob o domínio do rei da Síria, sendo
Arquelau mandado para o exílio.
O povo judeu passou a criar pequenos focos de revolta até
que em 66 d. C. iniciou-se uma revolta geral contra do domínio romano. Então,
as legiões romanas comandadas pelo general Vespasiano e depois por seu filho
Tito invadiram a região, cercaram e destruíram Jerusalém no ano 70 d. C.
As recusas judaicas ao culto aos deuses e imperadores
romanos de há tempo irritavam os administradores de Roma. Com suicídio de Nero
em Roma, em junho de 68, e os sucessivos assassinatos dos imperadores Galba,
Otão e Vitélio no malfadado 69 d. C., obrigaram Vespasiano a retornar para a
capital do império, assumir o trono e restabelecer a ordem.
Flávio Josepho, então prisioneiro dos romanos, narra que
Tito cercou a cidade que estava repleta de peregrinos para a Páscoa, cortou o
abastecimento de água externo. O historiador judeu afirma que Tito desejava
preservar o templo, coforme costume romano em todas as guerras. Segundo o mesmo
Josepho, 1.100.000 morreram durante o cerco, a grande maioria judeus, sendo que
97.000 foram escravizados.
Em 132, com novas revoltas judaicas na região, o imperador
Adriano promove grandes massacres de judeus e decreta a expulsão do povo judeu
da Palestina. Desde esse tempo da chamada segunda diáspora, os judeus se
disseminaram por todo o mundo. Denomina, o imperador, toda essa região de
Palestina, o que vai gerar uma confusão, entre a Palestina Romana e a antiga
Palestina, pequena região habitada pelos Filisteus, hoje Faixa de Gaza.
Esse imperador renomeou Jerusalém como Élia Capitolina,
passando a região toda a denominar-se de Síria Palestina. É preciso salientar
que sempre permaneceram remanescentes judeus nessa região.
Depois, com os impérios que se seguiram: o Romano do
Oriente, o Bizantino e o Otomano, Israel fez parte de cada um deles, sem
autonomia. Os cristãos investiram muito no local depois da cristianização do
Império Romano com o imperador Constantino. Foram construídas muitas igrejas e
basílicas. Mapa da Judeia romana:
Desde os tempos romanos do reinado de Vespasiano e depois de
Adriano os judeus marcaram presença em muitos países. Surgem os Sefaradim,
termo originado de Sefarad, que significa Espanha, em hebraico.
Esse grupo judeu migrou, primeiramente para o norte da
África, originados dos judeus do exílio da Babilônia que preferiram não retonar
a Israel. Aí encontraram os berberes, povos árabes mais acolhedores e se
fixaram na região em que hoje estão a Argélia, o Marrocos, o Saara Ocidental e
a Mauritânia. Com a migração árabe para a Espanha no século VIII d. C.,
migraram com eles. Originaram um idioma, o Ladino, com vocábulos do espanhol
medieval e do hebraico. Juntando-se aos mouros e ciganos, os judeus deram
origem ao flamenco, que até hoje é tocado e bailado como um hino à liberdade.
Porém, no século XV, os reis católicos Fernando II de Aragão
e Isabel I de Castela, casando-se, e tendo a proteção eclesiástica em Roma de
um papa espanhol, Alexandre VI (Rodrigo Borja), instigados pelas riquezas de
muitos judeus, incentivaram a Sagrada Inquisição a persegui-los, executá-los em
autos-de-fé e apoderarem-se de seus bens.
Muitos judeus migraram para Portugal e tiveram papel
importante como mentores da Escola de Sagres, na medida em que tinham
conhecimentos científicos que possibilitaram o desenvolvimento das navegações
portuguesas. Porém, a ganância lusitana voltou-se para os bens deles. D.
Manuel, o venturoso navegador, intensificou um processo de perseguição a eles.
Condenou muitíssimos à morte, especialmente no famoso Massacre de Lisboa, em
que centenas de judeus foram mortos em praça pública.
Desse grupo Sefaradim, originário dos judeus da Babilônia,
houve migrações menores para todos os países da Europa. Deles fazem parte os
mais antigos judeus disseminados pelo mundo.
No reinado franco de Carlos Magno, no século VIII d. C., houve
um incentivo por parte desse imperador para que outro grupo de judeus migrasse
pelo vale do Rio Reno, o longo rio do norte europeu. Simultaneamente ao Grupo
Sefaradim, esse grupo que se denominou ashkenazim, cujo nome provém do termo hebraico
Ashkenaz, que significa Alemanha.
Foram convidados por se dedicarem a funções essenciais como
a fabricação de vinhos e ao comércio e por serem excelentes conhecedores das
rotas do mar Mediterrâneo e do Oriente Médio. Do vale do Reno, migraram mais
para o leste, para a região da Polônia atual, onde, no século XVII, foram
atacados pelos cossacos.
Já havia ocorrido conflitos entre judeus e outras regiões:
haviam sido expulsos da Inglaterra no final do século XIII e da França, no
início do século XIV. Assim, gradativamente, o antissemitismo vai-se
disseminando por diversos países.
Tratava-se de uma nação sem estado e sem território. Esse
povo tinha de recorrer a outras estratégias para constituir uma identidade
nacional. Criaram para isso parâmetros religiosos e mais especificamente
étnicos. Em qualquer país, eram sempre estrangeiros, apenas tolerados, quando
não abertamente rejeitados. Buscavam segurança no desenvolvimento das
capacidades pessoais para sobreviver em qualquer parte como excelentes profissionais
e, mais especificamente nas reservas monetárias e capitalistas.
Assim como os Sefaradim haviam criado o Ladino, os ashkenazim criaram o Ídiche, que é uma mescla
de alemão medieval com termos hebraicos e eslavos. Eles foram migrando para o
leste, chegando à Lituânia, Ucrânia, Moldávia e Rússia. Gradativamente foram
sendo isolados em guetos que recebiam nomes diversos de acordo com cada país.
Tendo vivido em regiões muito diferentes de sua região nativa original por
quase dois milênios, a própria natureza encarregou-se de transformá-los
fisicamente, de acordo com os países nos quais passaram a viver.
Sendo o Sefaradim e o ashkenazim grupos de origem judaica
espanhol e alemão, não foram, contudo, os únicos. Muitos judeus migraram para a
Itália, de modo especial depois da destruição de Jerusalém, com Tito e Adriano,
uns escravizados e outros migrantes voluntários. Também migraram para a Itália
muitos sefaradins.
Outro grupo conhecido por Mizrahim desenvolveu-se na Síria,
no Egito e outros países do Oriente Médio. Falam idiomas árabes e têm nomes
árabes. No Iraque há ainda judeus descendentes dos escravizados por
Nabucodonosor. Muitos foram expulsos depois da criação do moderno estado de
Israel.
Os Teimarem são judeus que vivem no Iêmen possivelmente
desde os tempos de Salomão. Têm pele escura como a maioria dos árabes e usam o
idioma árabe. Também, na esmagadora maioria, foram expulsos após 1948.
Há ainda os judeus etíopes, em parte negros, segundo uma
tradição, parcialmente descendentes de Salomão e a rainha etíope de Sabá,
repatriados a Israel, nas décadas de 1980 e 90. Por esses séculos todos
mantiveram as tradições judaicas e o shabat.
Essa é apenas uma demonstração da presença de judeus pelo
mundo. Poder-se-ia encontrá-los em todos os países do mundo em maior ou menor
número. Não o faremos, pois não é o escopo deste estudo.
Quanto ao antissemitismo, é preciso destacar que o próprio
cristianismo teve papel importante nos movimentos racistas contra o povo judeu,
incentivando s ganância de muitos reis e administradores públicos a
persegui-los, condená-los e executá-los, muitas vezes com interesses menos
nobres. O próprio papa João Paulo II pediu-lhes perdão por esse pecado.
Com a Revolução Francesa e os subsequentes movimentos de
igualdade racial, os judeus puderam sair dos guetos e receber a cidadania dos
países em que viviam. Assim, personalidades importantes Albert Einstein e
Sigmund Freud, apenas como um pequeno exemplo, receberam nacionalidades de
países europeus.
Porém, no século XIX, o racismo antissemita recrudesceu em
todo mundo, de modo especial na Europa, de modo especial como o teórico radical
francês Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) e o inglês naturalizado alemão
Houston Stewart Chamberlain (1855-1929), grandes defensores da superioridade da
raça ariana. Portanto eram partidários da superioridade de uma raça e da
inferioridade de outros.
Esses teóricos, com suas obras, aliados a muitos outros,
geraram o retorno a movimentos racistas generalizados que, novamente atingiram
o povo judeu, voltando-se aos guetos separatistas e aos extremismos, chegando
às perseguições e extermínios nazistas que é desnecessário comentar, devido à
grande divulgação que já tiveram.
Finalmente, terminada a Segunda Guerra Mundial,
encontrava-se grandíssimo número de judeus refugiados nos mais diferentes
países, com famílias desbaratadas, sem teto e sem pátria, o que intensificou o
movimento sionista, que exigia um território para essa nação.
Então, fundada a ONU em 1945, usaram desse foro
internacional para apresentar suas reivindicações. Depois de quase dois mil
anos apátridas, em maio de 1948 a ONU destinou-lhes uma parte da antiga pátria
e o direito de retornarem ao Oriente Médio.
Em 1947 houve um plano de partilha da Palestina em que o
Brasil teve papel fundamental. O gaúcho Osvaldo Aranha chefiava a delegação
brasileira na recém-fundada Organização das Nações Unidas e presidiu II Assembleia
Geral da ONU, que votou o plano para a partição da Palestina.
Já desde 1917, com a declaração dos britânicos que
administravam uma parte da região conhecida como Declaração de Balfour, havia
uma manifesta intenção de repatriar judeus para a Palestina. Em 1922, criara-se
o Emirado da Transjordânia. Em 1947, o
Estado de Israel. No dia 14 de maio de 1948, o líder sionista David Ben Gurion
proclama a independência de Israel. No dia quinze, já de prontidão, tropas do
Egito, da Transjordânia, da Síria, do Líbano e do Iraque invadem o país. Lutando
até a paz de 1949, os judeus vencem a guerra. Mapa de partilha da Palestina de
1947:
Terminado o conflito de 1947, sucessivas guerras se deram na
região envolvendo judeus e árabes, sendo as mais importantes a Guerra dos Seis
Dias, de 5-10 de junho de 1967 e a Guerra do Yom Kippur de 6-26 de outubro de
1973. Porém, os embates foram muito mais frequentes, quase que constantes,
desde a fundação do Estado de Israel em 1948.
As reflexões apresentadas aqui não têm a intenção de
defender ponto de vista algum, mas apenas buscam ajudar a quem não acompanhou
esse povo em sua peregrinação pela história e pelo espaço geográfico por
milênios para que consigam compor uma síntese dessa saga.
Desculpe a demora da resposta. Na realidade, ai nda não consegui ler seu com entário sobre a obra de Bart. Devo fazer isso em breve e retorno com uma resposta mais consistente. Obrigado pela participação em meu blog.
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