Até
1385, reinava em Portugal a família de Borgonha, de origem francesa. O décimo
rei do país funda a Dinastia de Avis. O que propiciou uma era de progresso no
reino foi a mudança na família regente, no século XIV.
D.
Fernando I, último rei da dinastia de Borgonha, era casado com D. Leonor Teles
de Mendonça. A única filha do casal, D. Beatriz, casara-se com D. João I de
Castela. Com a morte do rei Fernando, o país ficaria sob o domínio estrangeiro.
D.
Pedro I de Portugal, pai de Fernando, tivera com uma amante, D. Teresa
(Tareija, segundo o cronista Fernão Lopes), um filho, João, que, portanto, seria
meio irmão de D. Fernando.
D.
João, aos 6 anos, é nomeado Mestre da Ordem de Avis, uma antiga ordem de
cavalaria de Portugal. Com a possibilidade da anexação de Portugal, ao reino de
Castela, o bastardo é lembrado e forma-se a dinastia de Avis, de homens cultos
que vai dar início, através do Infante D. Henrique, filho de D. João I e irmão
do rei D. Duarte, aos estudos técnicos de navegação.
Esses
reis dedicavam-se, eles próprios, aos estudos e incentivaram a cultura no país.
O primeiro grande processo de recuperação da cultura regional iniciou com o patrocínio
dos primeiros grandes cronistas. Fernão Lopes foi o primeiro deles, seguido
Gomes Eanes de Azurara. Em seguida veio a Escola de Sagres, que propiciou
conhecimentos para que se fizessem as navegações de grande curso.
As
grandes navegações portuguesas têm uma forte relação com alguns sábios judeus.
É preciso retornar à Roma antiga e ao ano 70 d. C., quando o general romano
Tito, filho do imperador Vespasiano Flávio, destruiu a cidade e o templo de
Jerusalém, levou uma multidão de judeus como escravos para Roma e dispersou os
demais pelo mundo, proibindo-os de permanecerem em seu país.
Na
maior parte dos países para os quais emigraram, foram perseguidos e maltratados,
de modo especial no Império Franco e no poderoso Sacro Império Romano Germânico,
porém, na Espanha eles não eram molestados e por 1400 anos criaram uma
comunidade rica e progressista. Durante os setecentos anos de dominação árabe
na Península Ibérica, do século VIII à primeira metade do século XV, como povos
do Oriente Médio, conviveram muito bem com os invasores.
Porém,
com a progressiva implantação do cristianismo, que culminou com a poderosa
corte dos reis católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão, a riqueza dos
judeus atraiu a cobiça dos poderosos. Foram-se criando restrições aos empreendimentos
judaicos e acabaram pela expulsão deles.
Em
31 de março de 1492, em Alhambra (Por isso Decreto de Alhambra), uma fortaleza na
comunidade da Andaluzia, próxima a Granada, foi assinado um decreto condenando
à morte todos os judeus da Espanha. As alternativas eram a conversão ao
cristianismo ou a fuga do país. Milhares foram executados e seus bens
confiscados. Os vizinhos já invadiam suas propriedades e as pilhavam mesmo
antes das execuções.
Pois,
nessa ocasião, alguns sábios judeus refugiaram-se em Portugal. O Infante Dom
Henrique, filho do rei D. João I e irmão de D. Duarte, já por volta de 1417,
havia fundado o povoado de Sagres, onde fomenta e desenvolve um centro de estudos
das ciências da navegação, que daria origem à Escola de Sagres. Essa escola vai
colher seus melhores frutos com D. Manuel, conhecido como o venturoso, que
reina em Portugal na segunda metade do século XV e início do século XVI.
Voltando
aos judeus, Judá Cresques, fugido de Barcelona, auxiliou os portugueses no
desenvolvimento da ciência cartográfica. Tornou-se chefe do Observatório
Náutico de Sagres. Trouxe para essa escola um grupo de sábios na área da
astronomia e tecnologia. Ensinou também aos portugueses o emprego da bússola.
A
bússola e o quadrante são muito úteis às navegações, mas a grande novidade a
bordo dos nossos navios neste começo de século é o astrolábio. É um disco,
metálico ou de madeira, de 360 graus no qual estão representados todos os
astros do zodíaco. Desde a Antiguidade era usado em terra firme, para calcular
a posição e o movimento dos astros no céu. O que os portugueses fizeram com a
ajuda dos sábios estrangeiros foi simplificá-lo e adaptá-lo para uso em
alto-mar. O astrolábio permite calcular a latitude pela passagem meridiana do
Sol, ou seja, ao meio-dia, quando o astro se encontra no seu ponto mais elevado
no céu. Para isso, é necessário enquadrar o raio solar em dois orifícios
existentes no aparelho e, em seguida, fazer alguns cálculos matemáticos.
Uma
contribuição decisiva para a aventura portuguesa nos mares foi dada, nos
últimos anos, por um sábio judeu de origem espanhola. Abraham-ben-Samuel
Zacuto, chamado Abraão Zacuto, é o autor de Almanaque Perpétuo, obra de
astrologia (como se chamava a astronomia nessa época) que, adaptada ao uso náutico,
se tornou fundamental nas expedições do descobrimento. Com 316 páginas e 56
tabelas, o almanaque de Zacuto fornece todas as informações necessárias para a
determinação da latitude, incluindo as chamadas declinações, que são as
diferentes posições do Sol no zodíaco a cada dia do ano. Redigido originalmente
em hebraico, o almanaque foi traduzido para o latim por outro estudioso judeu,
José Vizinho, médico do rei dom João II.
Natural de Salamanca, a cidade
do saber na Espanha, Zacuto teve de partir depois da expulsão dos judeus pelos
reis católicos, em 1492. Imediatamente foi convidado a trabalhar em Portugal
como conselheiro de dom João II e, depois, de dom Manuel. Deu instruções
pessoais a Vasco da Gama antes da partida da expedição que descobriu o caminho
das Índias.
Pedro
Álvares Cabral, que ao descobrir o Brasil chamava-se Pedro Álvares Gouvêa, notável
sobrenome de sua mãe judia o que pode explicar a razão de ter ele selecionado
para a viagem ao Brasil uma tripulação constituída basicamente de
cristãos-novos (judeus convertidos ao cristianismo) também conhecidos como marranos,
ou seja, convertidos à força.
Seu
sobrenome era Gouvêa, o da mãe, porque havia, em sua pátria, a lei do morgado.
Assim eram chamados os primogênitos de cada família. O morgado herdava os bens
da família para que não houvesse partilha e o consequente empobrecimento. Como
não havia previdência estatal, o morgado responsabilizava-se pela manutenção
dos pais.
Ora,
Pedro Álvares era o segundo filho, dessa forma recebeu apenas o sobrenome da
mãe, situação em que se encontrava em1500 quando descobriu o Brasil. Somente em
1502, com a morte de seu irmão mais velho João Fernandes Cabral, ele recebeu o
sobrenome Cabral. Cabral viajou para a América e, a seguir, para o oriente em
caravelas.
“As
caravelas são um prodígio da nossa tecnologia e a vanguarda das expedições. São
navios velozes e relativamente pequenos. Uma típica caravela portuguesa tem de
20 a 30 metros de comprimento, de 6 a 8 de largura, 50 toneladas de capacidade
e é tripulada por quarenta ou cinquenta homens. Com vento a favor, chega a
percorrer 250 quilômetros por dia. Utiliza as chamadas velas latinas,
triangulares, erguidas em dois ou três mastros. Elas permitem mudar de curso
rapidamente e, em zigue-zague, velejar até mesmo com vento contrário.” “A grande vantagem das caravelas sobre os
pesados navios mercantes utilizados no Mediterrâneo por genoveses e catalães é
a versatilidade. Ideais para navegação costeira, podem entrar em rios e
estuários, manobrar em águas baixas, contornar arrecifes e bancos de areia. E
também zarpar rapidamente, no caso de um ataque imprevisto de nativos hostis.”
“As naus são barcos
maiores e mais lentos. A capitânia de Pedro Álvares Cabral é um navio de 250
toneladas e, ao partir, levava 190 homens. Elas são a ferramenta essencial no
comércio já estabelecido com a África e no nascente intercâmbio com as Índias.
Na longa viagem de ida, transportam produtos para a troca, provisões,
guarnições militares, armas e canhões. Na volta, trazem as mercadorias
cobiçadas pela Europa. Suas velas redondas são menos versáteis que as das
caravelas, mas permitem uma impulsão muito maior com vento favorável. As
caravelas, ao contrário das naus, levam pouca carga. Nem é necessário. Nessa
época de grandes descobertas, a carga mais preciosa que elas podem transportar
é a informação sobre as rotas marítimas e as terras recém-contatadas – um
produto que não pesa nada, mas é vital para as conquistas no além-mar.”
“O
grande mérito de Portugal não está na descoberta de novidades científicas, mas
na assimilação de conhecimentos, recentes ou antigos, e sua aplicação com
propósitos bem definidos, que é abrir rotas de comércio e agregar terras
produtivas, onde não haja governo cristão, às propriedades da coroa. As
técnicas que hoje permitem aos nossos navios cruzar o Mar Oceano, dobrar o Cabo
da Boa Esperança e chegar às Índias são herança dos fenícios, dos egípcios, dos
gregos e de várias outras civilizações antigas, guardadas e aprimoradas pelos
mouros nos últimos séculos. A vela latina, que equipa nossas caravelas, foi
trazida pelos árabes do Oceano Índico, depois de conquistarem o Egito. O uso do
compasso para anotar a direção e a trajetória do navio chegou ao Ocidente no
começo do século XIII. A confecção de cartas náuticas os italianos também
aprenderam dos árabes, um século atrás. O astrolábio, um revolucionário instrumento
de localização utilizado pela esquadra de Cabral na Terra de Santa Cruz, existe
desde a Antiguidade e foi recuperado pelos astrólogos medievais para observar,
em terra, o movimento e a posição dos astros no firmamento. Mesmo a bússola,
fundamental nos descobrimentos, já é usada no Mediterrâneo há muito tempo por
genoveses, venezianos e catalães.”
“São muitos os
desafios científicos que os descobrimentos impuseram a Portugal. O maior deles,
evidentemente, é sair ao mar alto e voltar para casa com segurança. Até pouco
tempo atrás, a navegação se restringia aos portos europeus e da área em volta
do Mediterrâneo, todos mapeados e bem conhecidos do mundo civilizado desde a
época dos romanos. Navegava-se mais por experiência – que em Portugal chamamos
de "conhecenças" – do que por instrumentos. O único tipo de carta
náutica disponível até anos atrás
eram os mapas do Mediterrâneo desenhados pelos italianos no século XII.
Conhecidos como carta-portulano, forneciam direções e distâncias aproximadas
entre os principais portos europeus e africanos.” (http://veja.abril.com.br/idade/descobrimento/p_040.html)
A
grande façanha marítima portuguesa teve como uma de suas maiores e mais bem
sucedidas conquistas a descoberta do Brasil. Sabe-se hoje que não se tratava
propriamente de uma descoberta. Outros navegadores já haviam aportado por aqui,
mas guardavam isso em segredo por não terem condições de tomarem posse de áreas
tão vastas.
Veja-se
que D. Manuel gastou o orçamento de um ano da corte portuguesa para fazer sem
empreendimento. Sorte dele é que os produtos levados do oriente no retorno
cobriram com lucro imenso essas despesas.
Os
turcos otomanos haviam impedido as caravanas europeias em direção ao oriente de
passarem por seus territórios. Estava, portanto, o continente europeu carente
dos principais produtos orientais como pimenta e temperos. Isso proporcionou
aos portugueses a receberem por suas cargas de pimenta um lucro de mais de mil
por cento.
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