terça-feira, 22 de abril de 2014

AS GRANDES NAVEGAÇÕES - PORTUGAL - BRASIL - ORIENTE -TECNOLOGIA DOS JUDEUS ESPANHÓIS




         Até 1385, reinava em Portugal a família de Borgonha, de origem francesa. O décimo rei do país funda a Dinastia de Avis. O que propiciou uma era de progresso no reino foi a mudança na família regente, no século XIV.
         D. Fernando I, último rei da dinastia de Borgonha, era casado com D. Leonor Teles de Mendonça. A única filha do casal, D. Beatriz, casara-se com D. João I de Castela. Com a morte do rei Fernando, o país ficaria sob o domínio estrangeiro.
         D. Pedro I de Portugal, pai de Fernando, tivera com uma amante, D. Teresa (Tareija, segundo o cronista Fernão Lopes), um filho, João, que, portanto, seria meio irmão de D. Fernando.
         D. João, aos 6 anos, é nomeado Mestre da Ordem de Avis, uma antiga ordem de cavalaria de Portugal. Com a possibilidade da anexação de Portugal, ao reino de Castela, o bastardo é lembrado e forma-se a dinastia de Avis, de homens cultos que vai dar início, através do Infante D. Henrique, filho de D. João I e irmão do rei D. Duarte, aos estudos técnicos de navegação.
         Esses reis dedicavam-se, eles próprios, aos estudos e incentivaram a cultura no país. O primeiro grande processo de recuperação da cultura regional iniciou com o patrocínio dos primeiros grandes cronistas. Fernão Lopes foi o primeiro deles, seguido Gomes Eanes de Azurara. Em seguida veio a Escola de Sagres, que propiciou conhecimentos para que se fizessem as navegações de grande curso.
         As grandes navegações portuguesas têm uma forte relação com alguns sábios judeus. É preciso retornar à Roma antiga e ao ano 70 d. C., quando o general romano Tito, filho do imperador Vespasiano Flávio, destruiu a cidade e o templo de Jerusalém, levou uma multidão de judeus como escravos para Roma e dispersou os demais pelo mundo, proibindo-os de permanecerem em seu país.
         Na maior parte dos países para os quais emigraram, foram perseguidos e maltratados, de modo especial no Império Franco e no poderoso Sacro Império Romano Germânico, porém, na Espanha eles não eram molestados e por 1400 anos criaram uma comunidade rica e progressista. Durante os setecentos anos de dominação árabe na Península Ibérica, do século VIII à primeira metade do século XV, como povos do Oriente Médio, conviveram muito bem com os invasores.
         Porém, com a progressiva implantação do cristianismo, que culminou com a poderosa corte dos reis católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão, a riqueza dos judeus atraiu a cobiça dos poderosos. Foram-se criando restrições aos empreendimentos judaicos e acabaram pela expulsão deles.
         Em 31 de março de 1492, em Alhambra (Por isso Decreto de Alhambra), uma fortaleza na comunidade da Andaluzia, próxima a Granada, foi assinado um decreto condenando à morte todos os judeus da Espanha. As alternativas eram a conversão ao cristianismo ou a fuga do país. Milhares foram executados e seus bens confiscados. Os vizinhos já invadiam suas propriedades e as pilhavam mesmo antes das execuções.
         Pois, nessa ocasião, alguns sábios judeus refugiaram-se em Portugal. O Infante Dom Henrique, filho do rei D. João I e irmão de D. Duarte, já por volta de 1417, havia fundado o povoado de Sagres, onde fomenta e desenvolve um centro de estudos das ciências da navegação, que daria origem à Escola de Sagres. Essa escola vai colher seus melhores frutos com D. Manuel, conhecido como o venturoso, que reina em Portugal na segunda metade do século XV e início do século XVI.
         Voltando aos judeus, Judá Cresques, fugido de Barcelona, auxiliou os portugueses no desenvolvimento da ciência cartográfica. Tornou-se chefe do Observatório Náutico de Sagres. Trouxe para essa escola um grupo de sábios na área da astronomia e tecnologia. Ensinou também aos portugueses o emprego da bússola.
         A bússola e o quadrante são muito úteis às navegações, mas a grande novidade a bordo dos nossos navios neste começo de século é o astrolábio. É um disco, metálico ou de madeira, de 360 graus no qual estão representados todos os astros do zodíaco. Desde a Antiguidade era usado em terra firme, para calcular a posição e o movimento dos astros no céu. O que os portugueses fizeram com a ajuda dos sábios estrangeiros foi simplificá-lo e adaptá-lo para uso em alto-mar. O astrolábio permite calcular a latitude pela passagem meridiana do Sol, ou seja, ao meio-dia, quando o astro se encontra no seu ponto mais elevado no céu. Para isso, é necessário enquadrar o raio solar em dois orifícios existentes no aparelho e, em seguida, fazer alguns cálculos matemáticos.
         Uma contribuição decisiva para a aventura portuguesa nos mares foi dada, nos últimos anos, por um sábio judeu de origem espanhola. Abraham-ben-Samuel Zacuto, chamado Abraão Zacuto, é o autor de Almanaque Perpétuo, obra de astrologia (como se chamava a astronomia nessa época) que, adaptada ao uso náutico, se tornou fundamental nas expedições do descobrimento. Com 316 páginas e 56 tabelas, o almanaque de Zacuto fornece todas as informações necessárias para a determinação da latitude, incluindo as chamadas declinações, que são as diferentes posições do Sol no zodíaco a cada dia do ano. Redigido originalmente em hebraico, o almanaque foi traduzido para o latim por outro estudioso judeu, José Vizinho, médico do rei dom João II. 
         Natural de Salamanca, a cidade do saber na Espanha, Zacuto teve de partir depois da expulsão dos judeus pelos reis católicos, em 1492. Imediatamente foi convidado a trabalhar em Portugal como conselheiro de dom João II e, depois, de dom Manuel. Deu instruções pessoais a Vasco da Gama antes da partida da expedição que descobriu o caminho das Índias.
          Pedro Álvares Cabral, que ao descobrir o Brasil chamava-se Pedro Álvares Gouvêa, notável sobrenome de sua mãe judia o que pode explicar a razão de ter ele selecionado para a viagem ao Brasil uma tripulação constituída basicamente de cristãos-novos (judeus convertidos ao cristianismo) também conhecidos como marranos, ou seja, convertidos à força.
         Seu sobrenome era Gouvêa, o da mãe, porque havia, em sua pátria, a lei do morgado. Assim eram chamados os primogênitos de cada família. O morgado herdava os bens da família para que não houvesse partilha e o consequente empobrecimento. Como não havia previdência estatal, o morgado responsabilizava-se pela manutenção dos pais.
         Ora, Pedro Álvares era o segundo filho, dessa forma recebeu apenas o sobrenome da mãe, situação em que se encontrava em1500 quando descobriu o Brasil. Somente em 1502, com a morte de seu irmão mais velho João Fernandes Cabral, ele recebeu o sobrenome Cabral. Cabral viajou para a América e, a seguir, para o oriente em caravelas.
         “As caravelas são um prodígio da nossa tecnologia e a vanguarda das expedições. São navios velozes e relativamente pequenos. Uma típica caravela portuguesa tem de 20 a 30 metros de comprimento, de 6 a 8 de largura, 50 toneladas de capacidade e é tripulada por quarenta ou cinquenta homens. Com vento a favor, chega a percorrer 250 quilômetros por dia. Utiliza as chamadas velas latinas, triangulares, erguidas em dois ou três mastros. Elas permitem mudar de curso rapidamente e, em zigue-zague, velejar até mesmo com vento contrário.”  “A grande vantagem das caravelas sobre os pesados navios mercantes utilizados no Mediterrâneo por genoveses e catalães é a versatilidade. Ideais para navegação costeira, podem entrar em rios e estuários, manobrar em águas baixas, contornar arrecifes e bancos de areia. E também zarpar rapidamente, no caso de um ataque imprevisto de nativos hostis.”
         “As naus são barcos maiores e mais lentos. A capitânia de Pedro Álvares Cabral é um navio de 250 toneladas e, ao partir, levava 190 homens. Elas são a ferramenta essencial no comércio já estabelecido com a África e no nascente intercâmbio com as Índias. Na longa viagem de ida, transportam produtos para a troca, provisões, guarnições militares, armas e canhões. Na volta, trazem as mercadorias cobiçadas pela Europa. Suas velas redondas são menos versáteis que as das caravelas, mas permitem uma impulsão muito maior com vento favorável. As caravelas, ao contrário das naus, levam pouca carga. Nem é necessário. Nessa época de grandes descobertas, a carga mais preciosa que elas podem transportar é a informação sobre as rotas marítimas e as terras recém-contatadas – um produto que não pesa nada, mas é vital para as conquistas no além-mar.”
         “O grande mérito de Portugal não está na descoberta de novidades científicas, mas na assimilação de conhecimentos, recentes ou antigos, e sua aplicação com propósitos bem definidos, que é abrir rotas de comércio e agregar terras produtivas, onde não haja governo cristão, às propriedades da coroa. As técnicas que hoje permitem aos nossos navios cruzar o Mar Oceano, dobrar o Cabo da Boa Esperança e chegar às Índias são herança dos fenícios, dos egípcios, dos gregos e de várias outras civilizações antigas, guardadas e aprimoradas pelos mouros nos últimos séculos. A vela latina, que equipa nossas caravelas, foi trazida pelos árabes do Oceano Índico, depois de conquistarem o Egito. O uso do compasso para anotar a direção e a trajetória do navio chegou ao Ocidente no começo do século XIII. A confecção de cartas náuticas os italianos também aprenderam dos árabes, um século atrás. O astrolábio, um revolucionário instrumento de localização utilizado pela esquadra de Cabral na Terra de Santa Cruz, existe desde a Antiguidade e foi recuperado pelos astrólogos medievais para observar, em terra, o movimento e a posição dos astros no firmamento. Mesmo a bússola, fundamental nos descobrimentos, já é usada no Mediterrâneo há muito tempo por genoveses, venezianos e catalães.”
         “São muitos os desafios científicos que os descobrimentos impuseram a Portugal. O maior deles, evidentemente, é sair ao mar alto e voltar para casa com segurança. Até pouco tempo atrás, a navegação se restringia aos portos europeus e da área em volta do Mediterrâneo, todos mapeados e bem conhecidos do mundo civilizado desde a época dos romanos. Navegava-se mais por experiência – que em Portugal chamamos de "conhecenças" – do que por instrumentos. O único tipo de carta náutica disponível até anos atrás eram os mapas do Mediterrâneo desenhados pelos italianos no século XII. Conhecidos como carta-portulano, forneciam direções e distâncias aproximadas entre os principais portos europeus e africanos.” (http://veja.abril.com.br/idade/descobrimento/p_040.html)
         A grande façanha marítima portuguesa teve como uma de suas maiores e mais bem sucedidas conquistas a descoberta do Brasil. Sabe-se hoje que não se tratava propriamente de uma descoberta. Outros navegadores já haviam aportado por aqui, mas guardavam isso em segredo por não terem condições de tomarem posse de áreas tão vastas.
         Veja-se que D. Manuel gastou o orçamento de um ano da corte portuguesa para fazer sem empreendimento. Sorte dele é que os produtos levados do oriente no retorno cobriram com lucro imenso essas despesas.

         Os turcos otomanos haviam impedido as caravanas europeias em direção ao oriente de passarem por seus territórios. Estava, portanto, o continente europeu carente dos principais produtos orientais como pimenta e temperos. Isso proporcionou aos portugueses a receberem por suas cargas de pimenta um lucro de mais de mil por cento. 

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