JAMES JOYCE – (1882-1941)
Foi um
extraordinário contista, romancista e poeta irlandês. Teve profunda influência
na literatura do mundo inteiro.
OBRAS:
POESIA:
Música de Câmera (1907);
CONTOS:
Dublinenses (1914);
ROMANCES:
Retrato do Artista Quando Jovem (1916);
Ulisses (1922);
Finnegans Wake (1939).
Joyce viveu
grande parte de sua vida fora da Irlanda, mas foi sua experiência irlandesa que
ficou marcada em todos os seus livros. Seus contos, já pelo título, contêm as
marcas que a capital irlandesa e seus costumes deixaram na alma do autor.
Refletem as saudades e mágoas que trazia da própria pátria.
Teve uma vida
bastante atribulado. Primeiramente foi a falência financeira do pai, importante
homem de comércio. Depois, foi a morte da mãe, ocasião em que teve de abandonar
o curso de medicina que fazia em Paris.
Juntou-se
com Nora Barnacle, que foi sua companheira pelo resto de seus anos. O casal
foge para a Áustria-Hungria, fixando-se primeiramente onde hoje é a Croácia e
depois transferindo-se para o Triste, região que atualmente pertence à Itália.
Dedica-se, nesse período ao ensino de língua inglesa. É nessa época que começa
o importante trabalho de sua carreira literária.
No
final da primeira grande guerra mundial, muda-se primeiro para Zurique e depois
para Paris. No período em que vivia na Suiça aparece-lhe uma doença nos olhos,
iridite, doença ocular que consiste basicamente em inflamação da Iris. Em
Paris, conclui suas obras mais importantes: Ulisses e Finnegans Wake.
ULISSES
(comentários) – maravilhoso romance em que toda a ação se passa em um único
dia, o dia 16 de junho de 1904. Foi um marco do modernismo inglês. É uma
espécie de fluxo de consciência do autor, repleto de paródias, de chistes na
apresentação das personagens. Joyce trabalhou nessa obra entre os anos de 1914
e 1921. Começou a narrativa no Trieste, continuou em Zurique e concluiu-a em Paris.
O
autor toma como base a Odisseia de Homero. O Odisseu grego é rei da lendária
Ítaca, sua esposa é Penélope e seu filho chama-se Telêmaco. Ulisses (Odisseu) é
Leopold Boom, Penélope é Molly Bloom e Stephen Dedalus, filho do casal irlandês
é Telêmaco. Os dez anos do herói grego, reduzem-se a 18 horas de Leopold, das
8h da manhã do dia 16 de junho de 1904 às 2h da madrugada do dia seguinte. São
18 capítulos, um para cada hora do percurso histórico dessa odisseia, enquanto
a narrativa épica grega tem 24 capítulos.
A
obra de Joyce é uma rica paródia da Odisseia do magnífico poeta grego clássico
do século IX a. C, Homero. Leopold Bloom é um agente publicitário da cidade de
Dublin, capital da Irlanda. Para o narrador irlandês, o que mais interessa são
os conflitos psicológicos das personagens. Embora mantenham alguma semelhança,
as personagens de Joyce diferenciam-se substancialmente das de Homero.
Ulisses
é um rei. Leopold Bloom é um protótipo do homem da classe média de Dublin. Joyce
descreve-o como um desajeitado, chegando mesmo a ser engraçado, no entanto é
homem reflexivo e coloquial. Penélope é a própria imagem da mulher inquebrantavelmente
fiel, Molly Bloom é uma mulher adúltera. Telêmaco é um jovem príncipe herdeiro
do trono que parte pelo mundo à procura do pai. Stephen Dedalus é um jovem
erudito.
No
romance de Joyce, é Leopold que procura o filho Stephen Dedalus, enquanto Molly
trai o marido. Portanto, não há uma paráfrase de Homero, mas uma subversão do
sentido da obra original. Muda-se o cenário: na Grécia, trata-se da família da
corte real; na Irlanda, a família comum da classe média, em que ocorrem mesmo
as traições femininas.
FINNEGANS
WAKE (comentários) – precioso romance de James Joyce, também sua última
obra, publicado em 1939. Trata-se agora de romance experimental. É tremendamente
difícil de ser traduzido. O próprio autor despendeu 17 anos de trabalho para realizar
esta obra.
Nesse
romance, o autor trabalha com o sonho em seus extremos limites e mesmo com a
loucura e o delírio. O livro não se funda na lógica humana. O autor trabalha
com as palavras e os trocadilhos. Isso é uma tortura para os tradutores, pois
não usa os trocadilhos comuns da linguagem. Pelo contrário, cria trocadilhos novos todo instante.
O
leitor tem de aprender com o autor a criar sentidos. Emprega relações cruzando
idiomas, mais de oito idiomas diferentes. Isso instiga o leitor a procurar
leituras novas, sempre novas do mesmo texto. Emprega
uma linguagem em que os signos não apontam para o mundo. Fragmenta os signos,
que reordenados constroem sempre novas possibilidades de sentidos, nunca
únicos. São verdadeiros feixes de possibilidades, que, nas traduções
multiplicam-se ainda mais, a partir dos novos signos selecionados pelo
tradutor, num processo interminável.
As
personagens se fundem e se confundem entre elas e com a própria paisagem. Expandem-se
as personagens até tornarem-se a
humanidade toda.
O
entrecho parece girar em torno de um crime de natureza sexual e incestuosa. O criminoso
é julgado, condenado, morto, enterrado e ressuscita. Mas essa ressurreição se
dá através de seu filho bom, que toma seu lugar.
Há
cenas de desejo incestuoso de irmãos pela irmã. A ma, ao envelhecer é
abandonada. A narrativa assemelha-se a um discurso bêbado em que se misturam à
batalha de Waterloo, discussões filosóficas, narrativas históricas, muitas
piadas, passagens bíblicas, invocações muçulmanas a Alá, e textos literários,
sem que haja lógica temporal alguma.
Parece
um eterno retorno de loucuras em que as personagens parecem evocar a tipos
mutantes que apelam a argumentos filosóficos que podem ser sempre mudados em
outros com que o leitor pode estabelecer novas leituras e interpretações sempre
inusitadas. Ninguém nunca pode dizer desta obra que a leitura é esta ou aquela.
AH, professor... Sempre com tua notável apreciação da boa literatura e um olhar sempre novo sobre as obras! Brilhante...
ResponderExcluirObrigado por tuas palavras generosas, meu querido André.
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