Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Em Veneza |
Sanmartino é uma das maiores personalidades artísticas do
século XVIII italiano. É contemporâneo do magistral escultor Antonio Canova
(1759-1822). No entanto, é um escultor quase desconhecido, muito admirado por
seu conterrâneo Canova, que afirmava ter inveja de não ser o autor da estátua
do Cristo morto, da capela de Sansevero, de Nápoles, da autoria de Sanmartino.
Pouco se sabe de sua vida privada. Sabe-se que é autor de
muitas peças artísticas em túmulos de personalidades ilustres, como é o caso
dos irmãos Michele e Andrea Giovane, na Chiesa della Nuziatella, em Nápoles.
Nasceu em Nápoles, em 1720. Uma tradição afirma que ele
recebeu as primeiras instruções no trabalho com o mármore do príncipe
napolitano, o alquimista Raimondo di Sangro,
que lhe teria ensinado a técnica de “marmificar” tecidos.
Raimundo foi príncipe de
Sansevero, em Nápoles, dedicado à alquimia, mas foi também um amante das artes,
tendo restaurado muitas capelas. Como era estudioso das técnicas artísticas,
desenvolveu a técnica de marmificar tecidos. Esse neologismo refere-se à arte
de esculpir o mármore de tal modo que o observador tem a impressão de que há,
por baixo, uma imagem e, encobrindo-a, um tecido.
Há uma tradição segundo a qual Raimundo, em seus processos
alquímicos, teria desenvolvido um tipo de mármore líquido transparente com uma
cada do qual a escultura seria coberta. No entanto, não há nenhuma evidência dessa
invenção e o efeito do véu pode ser devido apenas à habilidade do escultor,
Giuseppe Sanmartino, amigo e discípulo do príncipe.
Em sua genialidade, Giuseppe
Sanmartino aprendeu e desenvolveu magistralmente essa técnica e produziu obras
primas. Porém, mais do qualquer outra obra, causa inenarrável admiração a estátua
do Cristo morto, posta sobre um manto de pórfiro, com uma finíssima mortalha,
descuidadamente jogada sobre o corpo, envolvendo os membros delicados, que
transparece por baixo.
No seu Cristo, a pele do cadáver confunde-se e desfaz-se
no sudário e a figura produz efeitos da pathos que inspirou a arte barroca. É
clara a influência do preciosismo barroco de Lorenzo Bernini na obra de
Sanmartino.
Cristo Velato - Napoli |
A escolha de mármore claro
acentua, no espectador, a sensação da palidez específica da morte. Notam-se,
sobre esta escultura as muitas influências do barroco de Fanzago, o Bottigliero
e Vaccaro e já aponta para uma inspiração Neoclássica. O neoclassicismo já
despontava no momento da execução dessa magnífica obra. No entanto, essa
característica fez com que esta escultura e outras de mesma inspiração fossem
depreciadas pela crítica dos analistas românticos posteriores.
Outro escultor italiano do século seguinte, Camillo
Torreggiani (1820 – 1896), especialista em bustos, executou, em mármore de
Carrara, a obra em que retrata Isabel II, rainha da Espanha, com o rosto
coberto por um véu, o que a associa à fé, à virtude e à religiosidade. A
escultura comprova o virtuosismo técnico do artista.
Isabel Velata |
A rainha aparece com o
rosto coberto por um véu, através do qual se pode ver, perfeitamente, sua
feição. Conseguir modelar um rosto sob a transparência de um véu num material
duro como o mármore é impressionante! O pedestal em que se encontra a obra, no Museo del Prado, em Madrid, foi
executado também por Torreggiani.
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