Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
No campo que pertenceu a meu avô |
Eduardo Frieiro, um ilustre professor da Universidade
Federal de Minas Gerais, já falecido escreveu um livro em que analisa a
Inconfidência Mineira, que culminou com a condenação de Tiradentes e muitos de
seus colegas. Em livro memorável, intitulado “O Diabo na Livraria do Cônego”,
aborda especialmente a presença de um cônego incluído entre os inconfidentes.
Trata-se do cônego Luís Vieira da Silva, condenado como conspirador. Pouco se sabe sobre esse pobre cônego. O que restou na devassa
feita pelos inspetores da rainha é quase um milheiro de livros. Era,
possivelmente, a maior biblioteca do Brasil. Para se entender melhor esse fato,
observemos que Immanuel Kant, o maior filósofo desses tempos, que vivia na
Alemanha culta, não possuía mais de trezentos livros.
Fazendo uma retrospectiva, era um período de grandes
transformações sociais. Vivia-se a época mais dura dos expurgos da Revolução
Francesa. Em 1776, houvera a declaração de independência dos Estados Unidos do
domínio inglês. E, certamente, havia um clima de insatisfação com a submissão
do Brasil a Portugal.
Aqui, as descobertas de ouro e diamantes geravam rendimentos
fantásticos a Portugal. Porém, a progressiva diminuição do produto das minas
conduziu ao aumento de impostos.
Esse aumento provocou um movimento conhecido
como Inconfidência Mineira. Seria um movimento que incluía mineradores,
intelectuais e escritores. Há mesmo quem afirme não ter havido uma inconfidência
formal, pelo menos, o movimento, se de fato aconteceu, teria sido de muito menor vulto do que aquele
apresentado pelos inspetores do reino. A rainha D. Maria I, sofria de ataques nervosos, sendo mesmo considerada demente por parte da corte lisboeta. Sentia-se insegura diante da administração de um reino tamanho. Por outro lado, crescia o papel do Marquês de Pombal junto à corte.
Concluem alguns que, de fato, havia uma insatisfação
generalizada com a administração portuguesa. Porém, há mesmo pesquisadores que
acreditam não ter havido inconfidência alguma. Tiradentes seria um líder muito
insignificante para congregar um grupo de intelectuais, juízes, advogados,
ricos proprietários de empresas de mineração, a elite local em prestígio e poder.
Numa tentativa de mostrar serviço à rainha, teriam juntado
em seus relatórios todos os potenciais conspiradores e colecionado provas reais
e outras tantas forjadas, como sói acontecer até hoje, de tal forma que a
grande conspiração tomou uma aparência de realidade. Depois, a condenação e
execução de Tiradentes, bem como o exílio de outros tantos, reprimiram, por
longo tempo, os movimentos separatistas.
Assim, o cônego Luís Vieira da Silva provavelmente tenha
sido apenas um intelectual e alfarrabista de seu tempo, cujo maior crime teria
sido possuir uma das maiores bibliotecas particulares de seu tempo. Como
intelectual, provavelmente não estivesse conformado com a administração
portuguesa. Mas daí até sua inclusão entre os inconfidentes formais, se é que
os houve, vai um exagero próprio dos sistemas arbitrários e opressores.
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