PESSOA
Poemas de
Alberto Caeiro
VII
- DA MINHA ALDEIA vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.
Alberto Caeiro, em "O Guardador
de Rebanhos".
Fernando Pessoa é o poeta mágico da língua, que misticamente cria "outros eus", aos quais chama de heterônimos. Um deles é Alberto Caeiro, a quem atribui o poemeto acima. Ele o caracteriza como o Mestre Ingênuo dos restantes heterônimos Ávaro de Campos e Ricardo Reis e outros de somenos importância. Além dos poemas atribuídos aos heterônimos, publicou poemas que os analistas costumam caracerizar como poemas de Fernando Pessoa, ele mesmo, cuja obra principal é "Mensagem", que se completa com poemas publicadas em revistas e jornais.
Albero Caeiro, na biografia que Fernando Pessoa faz dele, é o mestre dos demais, apesar de apenas ter concluído a instrução primária. Foi um poeta ligado à natureza, que despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosófico, afirmando que pensar obstrui a visão ("pensar é estar doente dos olhos"). Proclama-se assim um anti-,etafísico.
Afirma que, ao pensar, entramos num mundo complexo e problemático onde
tudo é incerto e obscuro. À superfície é fácil reconhecê-lo pela sua
objetividade visual.
Apresenta-se como um simples "guardador de rebanhos" que só se importa
em ver de forma objetiva e natural a realidade. É um poeta de completa simplicidade, e considera que a sensação é a única realidade.
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