Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Em anexo, encontra-se a tradução portuguesa do conto "Carta de um Louco", bem como esse conto no original em francês.
Guy de Maupassant foi um narrador e poeta francês do fim do
século XIX (1850-1893). Dedicou-se, de modo especial, à narrativa. E dentro do
gênero narrativo, dedicou-se muito à narrativa curta. Elegeu, para seus textos,
temas relacionados à crítica social, dedicando-se, no mais das vezes, às
realidades psicológicas.
Nesses contos, o ser humano constitui-se num estranho diante
de si mesmo e o outro se apresenta como um elemento perturbador. Suas fantasias
não apelam ao elemento religioso, muito comum nos autores românticos.
Diversamente deles, apela ao delírio, à alucinação, à própria perversão humana,
para lidar com as inquietações íntimas do psiquismo dos indivíduos.
Guy de Maupassant |
Ele mesmo foi vítima da alucinação, atingido pelo adiantado
grau de sífilis, que o levou à tentativa de suicídio, ao manicômio e à morte
prematura.
Um dos textos que mais elucida essa etapa de sua vida e de
sua produção literária é “Carta de um Louco”. O conto narra a carta de um
paciente a seu médico sobre o estranhamento que sente diante de si mesmo,
solicitando internação e tratamento. O sujeito identifica certas alterações que
se operam em seu espírito, reconhecendo-se como alucinado e reconhecendo se
estado patológico, necessitado de tratamento.
Crendo-se, antes de sentir os sintomas da demência, um ser
humano normal, percebe-se, desde então, em um estado de delírio. Passa a
questionar os limites dos próprios sentidos. Põe em dúvida sua própria visão.
Confunde os diferentes estados da transparência: confunde um copo com o ar,
ambos marcados pela transparência. Isso lhe marca as limitações dos sentidos e
do corpo humano como um todo.
Assim, o olfato, a gustação, a audição reduzem-se a
processos limitados de interação com o meio físico. Passa a discutir a ausência
de outros órgãos mais apurados que nos permitiriam uma percepção mais completa
do que nos circunda. Do modo como somos, vivemos rodeados pelo desconhecido.
Acabamos em um mundo ilusório, sendo-nos impossível desvendar o in sondável.
Esse estado gerava no alucinado paciente um estado de
insegurança e medo. Num determinado instante, passa a perceber um ser
transparente. Em duas noites seguidas, à mesma hora houve um ruído que lhe
garante a presença de algo invisível que o visita. Na terceira noite, ao
aproximar-se esse mesmo horário, ele está atento, aguardando o ruído, quando se
sente penetrado por um fluido que lhe atinge sucessivamente todas as partes do
corpo. Diante do espelho, é-lhe impossível perceber a própria imagem. Conclui que
é o ser invisível que se lhe interpõe entre o próprio corpo e a face do
espelho.
Quando, em seguida, consegue enxergar-se refletido no
espelho, fica aguarda longamente nova interposição do invisível diante do
espelho, o que não mais ocorre.
Conclui o conto com a seguinte afirmativa: “... nesse
espelho, começo a ver imagens loucas, monstros, cadáveres horrendos, todas as
espécies de animais horripilantes, de seres atrozes, todas as visões
inverossímeis que devem habitar o espírito dos loucos”.
Põe, assim, em questão a realidade dos sentidos. Quando me
vejo no espelho, o que realmente eu vejo? Meu estado de espírito interfere na
imagem que percebo no espelho.
Antologia:
Carta a um Louco (Tradução portuguesa e texto original em
francês).
CARTA DE UM LOUCO (Guy de Maupassant)
Meu caro doutor, eu me coloco nas suas mãos. Faça
de mim o que o senhor achar melhor.
Vou descrever-lhe, de maneira bem franca, o meu
estranho estado de espírito, e o senhor julgará se não seria melhor que
tratassem de mim durante algum tempo em uma casa de saúde, em vez de me deixar
sujeito às alucinações e sofrimentos que me perseguem.
Eis a história, longa e exata, do mal singular da minha alma.
Eu vivia como todo mundo, contemplando a vida com
os olhos abertos e cegos do homem, sem me espantar e sem compreender. Vivia
como vivem os animais, como vivemos todos, executando as funções da existência,
examinando e acreditando ver, acreditando saber, acreditando conhecer o que me
cercava, quando, um dia, percebi que tudo é falso.
Foi uma frase de Montesquieu que, bruscamente,
iluminou meu pensamento. Ei-la: “Um órgão a mais ou a menos em nossa máquina
teria feito de nós uma outra inteligência.
“... Enfim,
todas as leis estabelecidas sobre o que é nossa máquina que de um certo modo
seriam diferentes se nossa máquina não fosse dessa maneira”.
Refleti sobre isso durante meses e meses e, pouco
a pouco, uma estranha clareza penetrou em mim.
Com efeito – nossos órgãos são os únicos
intermediários entre o mundo exterior e nós. Quer dizer que o ser interior, que
constitui o 'eu', encontra-se em contato, por meio de alguns filetes nervosos,
com o ser exterior que constitui o mundo.
Ora, não só este mundo exterior nos escapa por
suas proporções, sua duração, suas propriedades infinitas e impenetráveis, suas
origens, seu porvir ou seus fins, suas formas longínquas e suas manifestações
infinitas, como nossos órgãos só nos fornecem informações incertas e pouco
numerosas sobre parte dele que nos é acessível.
Incertas, porque são apenas as propriedades de
nossos órgãos que determinam para nós as propriedades aparentes da matéria.
Pouco numerosas, porque sendo nossos sentidos
apenas em número de cinco, o campo de suas investigações e a natureza de suas
revelações se acham muito restritas.
Explico-me. - O olho nos indica as dimensões, as
formas e as cores. “Ele nos engana sobre esses três pontos”.
Só pode nos revelar objetos e seres de dimensão
média, proporcionais ao talhe humano, que nos levou a aplicar a palavra grande
a certas coisas e a palavra pequeno a outras, somente porque sua fraqueza não
lhe permite conhecer o que é muito grande ou pequeno para ele. De onde resulta
que ele não conhece e não vê quase nada, que o Universo quase todo lhe
permanece oculto, a estrela que habita o espaço e o animálculo que habita a
gota d'água.
Ainda que tivesse cem milhões de vezes a sua
potência normal, se percebesse no ar que respiramos todas as espécies de seres
invisíveis, como os habitantes dos planetas vizinhos, ainda existiriam um
número infinito de raças de animais menores e de mundos tão longínquos que ele
não os atingiria.
Portanto, todas as nossas ideias de proporção são
falsas, já que não há limite possível, nem para a grandeza nem para a pequenez.
Nossa apreciação sobre as dimensões e as formas
não tem nenhum valor absoluto, sendo determinada unicamente pela potência de um
órgão e por uma comparação constante com nós mesmos.
Acrescentemos que o olho é, ainda, incapaz de ver
o transparente. Um copo sem defeito o ilude. Ele o confunde com o ar que também
não vê.
Passemos à cor.ao cérebro, sob forma de cor, as
diversas maneiras como os corpos absorvem e decompõem, segundo sua constituição
química, os raios luminosos que o atingem.
Todas as proporções dessa absorção e dessa
decomposição constituem os matizes.
Este órgão, portanto, impõe ao espírito a sua
maneira de ver, ou melhor, a sua forma arbitrária de constatar as dimensões e
de apreciar as relações da luz e da matéria.
Examinemos o ouvido.
Mais ainda do que com o olho, nós somos as vítimas
ingênuas deste órgão fantasista.
Dois corpos que se chocam produzem um certo tremor
da atmosfera. Esse movimento faz vibrar em nossa orelha uma certa película que
transforma imediatamente em ruído o que, na realidade, é apenas uma vibração.
A natureza é muda. Mas o tímpano possui a
propriedade miraculosa de transmitir-nos sob a forma de sensações, e de
sensações diferentes segundo o número de vibrações, todos os rumores das ondas
invisíveis do espaço.
Esta metamorfose executada pelo nervo auditivo no
curto trajeto do ouvido ao cérebro permitiu-nos criar uma arte estranha, a
música, a mais poética e a mais precisa das artes, vaga como um sonho e exata
como a álgebra.
E o que dizer do gosto e do cheiro? Conheceríamos
os perfumes e as qualidades dos alimentos sem as estranhas propriedades do
nosso nariz e do nosso paladar?
Entretanto, a humanidade poderia existir sem a
audição, sem o paladar e sem o olfato, quer dizer, sem nenhuma noção do ruído,
do sabor e do odor.
Se tivéssemos, portanto, alguns órgãos a menos,
ignoraríamos coisas admiráveis e singulares, mas, se tivéssemos alguns órgãos a
mais, descobriríamos em torno de nós uma infinidade de outras coisas de que
nunca suspeitaremos por falta de meios de constatá-las.
Enganamo-nos, pois, julgando o Conhecido, e
estamos cercados pelo Desconhecido inexplorado.
Logo, tudo é incerto e apreciável de maneiras
diferentes.
Tudo é falso, tudo é possível, tudo é duvidoso.
Formulemos esta certeza servindo-nos do velho
ditado: “Verdade deste lado dos Pirineus, erro do outro”.
E digamos: verdade em nosso órgão, erro ao lado.
Dois e dois não devem mais ser quatro fora da nossa atmosfera.
Verdade sobre a Terra, erro mais além, donde
concluo que os mistérios entrevistos como a eletricidade, o sono hipnótico, a
transmissão da vontade, a sugestão, todos os fenômenos magnéticos, só nos
permanecem ocultos porque a Natureza não nos forneceu o órgão ou os órgãos
necessários para compreendê-los.
Depois de me convencer de que tudo o que os meus
sentidos me revelam só existe para mim tal como o percebo o que seria
totalmente diferente para outro ser organizado de outra maneira, depois de concluir
que uma humanidade concebida de uma maneira diversa teria sobre o mundo, sobre
a vida, sobre tudo ideias completamente opostas às nossas, pois o acordo das
crenças resulta apenas da similitude dos órgãos humanos e as divergências de
opinião provêm somente de ligeiras diferenças de funcionamento dos nossos
filetes nervosos, fiz um esforço sobre-humano para conjecturar o insondável que
me cerca.
Enlouqueci?
Disse a mim mesmo: “Estou cercado de coisas
desconhecidas.” Imaginei o homem sem ouvidos, conjeturando o som como
conjeturamos tantos mistérios ocultos, constatando fenômenos acústicos dos
quais não poderia determinar, nem a natureza nem a procedência. E tive medo de
tudo à minha volta, medo do ar, medo da noite. Já que não podemos conhecer
quase nada, já que tudo é ilimitado, o que resta? O vazio não existe? O que há
no aparente vazio?
E esse terror confuso do sobrenatural que habita o
homem desde o nascimento do mundo é legítimo, pois não é outra coisa senão
aquilo que nos permanece oculto.
Então compreendi o medo. Pareceu-me que tocava,
continuamente, na descoberta de um segredo do Universo.
Tentei estimular meus órgãos, excitá-los, fazê-los
perceber por momentos o invisível.
Disse a mim mesmo: “Tudo é um ser. O grito que
atravessa o ar é um ser comparável ao animal, porque nasce, produz um movimento
e transforma-se novamente para morrer. Ora, o espírito receoso que acredita em
seres incorporais não está enganado, então. Quem são eles?”
Quantos homens os pressentem, estremecem à sua
chegada, tremem ao seu misterioso contato? Sentem-nos perto de si, em torno de
si, mas não conseguem distingui-los, porque não possuímos o olho que os veria,
ou melhor, o órgão desconhecido que poderia descobri-los.
Nesse caso, mais do que ninguém, eu os sentia,
esses passageiros sobrenaturais. Seres ou mistérios? Será que sei? Não poderia
dizer o que são, mas poderia assinalar a sua presença. E eu vi – vi um ser
invisível -, tanto quanto se podem ver esses seres.
Passava noites inteiras imóvel, sentado diante da
mesa, a cabeça entre as mãos, pensando neles. Muitas vezes pensei que uma mão
intangível, ou melhor, um corpo imperceptível roçava-me levemente os cabelos.
Não me tocava, pois não era de essência carnal, mas de essência imponderável,
desconhecida.
Ora, uma noite, ouvi o assoalho estalar atrás de
mim. Ele estalou de um modo singular. Estremeci. Voltei-me. Nada vi. E não
pensei mais nisso.
Mas no dia seguinte, na mesma hora, o mesmo ruído
se produziu. Tive tanto medo que me levantei, certo, certo de que não estava
sozinho no meu quarto. Entretanto, não se via nada. O ar estava límpido,
transparente por toda parte. Meus dois candeeiros iluminavam todos os cantos.
O ruído não recomeçou, e eu acalmei-me pouco a
pouco; no entanto, permanecia inquieto e me virava muitas vezes.
No dia seguinte tranquei-me cedo, imaginando como
poderia chegar a ver o Invisível que me visitava.
Eu o vi. Quase morri de terror.
Tinha acendido minha
lareira e todas as velas do meu lustre. O aposento estava iluminado como para
uma festa. Meus dois candeeiros ardiam sobre a mesa]
Diante de mim, a minha cama, uma velha cama de
carvalho com colunas. À direita, a lareira. À esquerda, a porta cuidadosamente
fechada. Atrás de mim, um armário muito alto com um espelho. Estava diante
dele. Tinha olhos estranhos e as pupilas muito dilatadas.
Depois sentei-me, como todos os dias.
O ruído se produzira, na véspera e na antevéspera,
às nove horas e vinte e dois minutos. Esperei. Quando chegou o momento preciso,
senti algo indescritível, como se um fluido, um fluido irresistível tivesse penetrado
em mim por todas as partes do meu corpo, mergulhando a minha alma num terror
atroz. E o estalo ocorreu, bem perto de mim.
Levantei-me, virando-me tão depressa que quase
cai. Enxergava-se como em pleno dia, e eu não me vi no espelho! Ele estava
vazio, claro, cheio de luz. Minha imagem não estava lá, e eu estava diante
dele. Olhava-o com um olhar alucinado. E não ousava mais avançar, sentindo que
ele estava entre nós, ele, o Invisível que me ocultava.
Oh! Como tive medo! Depois, subitamente comecei a
avistar-me numa bruma no fundo do espelho, numa bruma como que através da água;
e me parecia que essa água deslizava da esquerda para a direita, lentamente,
tornando a minha imagem mais precisa a cada segundo. Era como o fim de um eclipse.
O que me ocultava não possuía contornos, mas uma espécie de transparência opaca
que ia clareando pouco a pouco.
Pude, enfim, distinguir-me completamente, assim
como faço todos os dias ao olhar-me.
Eu o tinha visto!
E não o vi de novo.
Mas eu o aguardo a todo momento, e sinto que minha
cabeça se perde nessa espera.
Fico diante do espelho durante horas, noites,
dias, semanas, para esperá-lo! Ele não
vem mais.
Percebeu que eu o vira. Mas sinto que o esperarei
sempre, até a morte, que o esperarei sem descanso, diante desse espelho, como
um caçador à espreita.
E, nesse espelho, começo a ver imagens loucas,
monstros, cadáveres horrendos, todas as espécies de animais horripilantes, de
seres atrozes, todas as visões inverossímeis que devem habitar o espírito dos
loucos.
Eis a minha confissão, meu caro doutor. Diga-me, o
que devo fazer?
TEXTO
ORIGINAL EM FRANCÊS
Guy de Maupassant
Lettre d’un fou
Mon
cher docteur, je me mets entre vos mains. Faites de moi ce qu'il vous plaira.
Je vais
vous dire bien franchement mon étrange état d'esprit, et vous apprécierez s'il
ne vaudrait pas mieux qu'on prît soin de moi pendant quelque temps dans une
maison de santé plutôt que de me laisser en proie aux hallucinations et aux
souffrances qui me harcèlent.
Voici
l'histoire, longue et exacte, du mal singulier de mon âme.
Je
vivais comme tout le monde, regardant la vie avec les yeux ouverts et aveugles
de l'homme, sans m'étonner et sans comprendre., Je vivais comme vivent les
bêtes, comme nous vivons tous, accomplissant toutes les fonctions de l'existence,
examinant et croyant voir, croyant savoir, croyant connaître ce qui m'entoure,
quand, un jour, je me suis aperçu que tout est faux.
C'est
une phrase de Montesquieu qui a éclairé brusquement ma pensée. La voici :
"Un organe de plus ou de moins dans notre machine nous aurait fait une
autre intelligence.
Enfin
toutes les lois établies sur ce que notre machine est d'une certaine façon
seraient différentes si notre machine n'était pas de cette façon."
J'ai
réfléchi à cela pendant des mois, des mois et des mois, et., peu à peu, une
étrange clarté est entrée en moi, et cette clarté y a fait la nuit.
En
effet, nos organes sont les seuls intermédiaires entre le monde extérieur et
nous. C'est-à-dire que l'être intérieur, qui constitue le moi, se trouve
en contact, au moyen de quelques filets nerveux, avec l'être extérieur qui
constitue le monde.
Or,
outre que cet être extérieur nous échappe par ses proportions, sa durée, ses
propriétés innombrables et impénétrables, ses origines, son avenir ou ses fins,
ses formes lointaines et ses manifestations infinies, nos organes ne nous
fournissent encore sur la parcelle de lui que nous pouvons connaître que des
renseignements aussi incertains que peu nombreux.
Incertains,
parce que ce sont uniquement les propriétés de nos organes qui déterminent pour
nous les propriétés apparentes de la matière.
Peu nombreux, parce que nos sens n'étant qu'au nombre de cinq, le champ de leurs investigations et la nature de leurs révélations se trouvent fort restreints.
Peu nombreux, parce que nos sens n'étant qu'au nombre de cinq, le champ de leurs investigations et la nature de leurs révélations se trouvent fort restreints.
Je
m'explique. - L'oeil nous indique les dimensions, les formes et les couleurs.
Il nous trompe sur ces trois points.
Il ne
peut nous révéler que les objets et les êtres de dimension moyenne, en
proportion avec la taille humaine, ce qui nous a amenés à appliquer le mot
grand à certaines choses et le mot petit à certaines autres, uniquement parce
que sa faiblesse ne lui permet pas de connaître ce qui est trop vaste ou trop
menu pour lui. D'où il résulte qu'il ne sait et ne voit presque rien, que
l'univers presque entier lui demeure caché, l'étoile qui habite l'espace et
l'animalcule qui habite la goutte d'eau.
S'il
avait même cent millions de fois sa puissance normale, s'il apercevait dans
l'air que nous respirons toutes les races d'êtres invisibles, ainsi que les
habitants des planètes voisines, il existerait encore des nombres infinis de
races de bêtes plus petites et des mondes tellement lointains qu'il ne les
atteindrait pas.
Donc
toutes nos idées de proportion sont fausses puisqu'il n'y a pas de limite
possible dans la grandeur ni dans la petitesse.
Notre
appréciation sur les dimensions et les formes n'a aucune valeur absolue, étant
déterminée uniquement par la puissance d'un organe et par une comparaison
constante avec nous-mêmes.
Ajoutons
que l'oeil est encore incapable de voir le transparent. Un verre sans défaut le
trompe. Il le confond avec l'air qu'il ne voit pas non plus.
Passons
à la couleur.
La
couleur existe parce que notre oeil est constitué de telle sorte qu'il transmet
au cerveau, sous forme de couleur, les diverses façons dont les corps absorbent
et décomposent, suivant leur constitution chimique, les rayons lumineux qui les
frappent.
Toutes
les proportions de cette absorption et de cette décomposition constituent les
nuances.
Donc
cet organe impose à l'esprit sa manière de voir, ou mieux sa façon arbitraire
de constater les dimensions et d'apprécier les rapports de la lumière et de la
matière.
Examinons
l'ouïe.
Plus
encore qu'avec l'oeil, nous sommes les jouets et les dupes de cet organe
fantaisiste.
Deux
corps se heurtant produisent un certain ébranlement de l'atmosphère. Ce
mouvement fait tressaillir dans notre oreille une certaine petite peau qui
change immédiatement en bruit ce qui n'est, en réalité, qu'une vibration.
La
nature est muette. Mais le tympan possède la propriété miraculeuse de nous
transmettre sous forme de sens, et de sens différents suivant le nombre des
vibrations, tous les frémissements des ondes invisibles de l'espace.
Cette
métamorphose accomplie par le nerf auditif dans le court trajet de l'oreille au
cerveau nous a permis de créer un art étrange, la musique, le plus poétique et
le plus précis des arts, vague comme un songe et exact comme l'algèbre.
Que
dire du goût et de l'odorat ? Connaîtrions-nous les parfums et la qualité
des nourritures sans les propriétés bizarres de notre nez et de notre
palais ?
L'humanité
pourrait exister cependant sans l'oreille, sans le goût et sans l'odorat,
c'est-à-dire sans aucune notion du bruit, de la saveur et de l'odeur.
Donc,
si nous avions quelques organes de moins, nous ignorerions d'admirables et
singulières choses, mais si nous avions quelques organes de plus, nous
découvririons autour de nous une infinité d'autres choses que nous ne
soupçonnerons jamais faute de moyen de les constater.
Donc,
nous nous trompons en jugeant le Connu, et nous sommes entourés d'inconnu
inexploré.
Donc,
tout est incertain et appréciable de manières différentes.
Tout
est faux, tout est possible, tout est douteux.
Formulons
cette certitude en nous servant du vieux dicton : "Vérité en deçà des
Pyrénées, erreur au-delà."
Et
disons : vérité dans notre organe, erreur à côté.
Deux et
deux ne doivent plus faire quatre en dehors de notre atmosphère.
Vérité
sur la terre, erreur plus loin, d'où je conclus que les mystères entrevus comme
l'électricité, le sommeil hypnotique, la transmission de la volonté, la
suggestion, tous les phénomènes magnétiques, ne nous demeurent cachés, que
parce que la nature ne nous a pas fourni l'organe, ou les organes nécessaires
pour les comprendre.
Après
m'être convaincu que tout ce que me révèlent mes sens n'existe que pour moi tel
que je le perçois et serait totalement différent pour un autre être autrement
organisé, après en avoir conclu qu'une humanité diversement faite aurait sur le
monde, sur la vie, sur tout, des idées absolument opposées aux nôtres, car
l'accord des croyances ne résulte que de la similitude des organes humains, et
les divergences d'opinions ne proviennent que des légères différences de
fonctionnement de nos filets nerveux, j'ai fait un effort de pensée surhumain
pour soupçonner l'impénétrable qui m'entoure.
Suis-je
devenu fou ?
Je me
suis dit : "Je suis enveloppé de choses inconnues." J'ai supposé
l'homme sans oreilles et soupçonnant le son comme nous soupçonnons tant de
mystères cachés, l'homme constatant des phénomènes acoustiques dont il ne
pourrait déterminer ni la nature, ni la provenance. Et j'ai eu peur de tout,
autour de moi, peur de l'air, peur de la nuit. Du moment que nous ne pouvons
connaître presque rien, et du moment que tout est sans limites, quel est le
reste ? Le vide n'est pas ? Qu'y a-t-il dans le vide apparent ?
Et
cette terreur confuse du surnaturel qui hante l'homme depuis la naissance du
monde est légitime puisque le surnaturel n'est pas autre chose que ce qui nous
demeure voilé !
Alors
j'ai compris l'épouvante. il m'a semblé que je touchais sans cesse à la
découverte d'un secret de l'univers.
J'ai
tenté d'aiguiser mes organes, de les exciter, de leur faire percevoir par
moments l'invisible.
Je me
suis dit : "Tout est un être. Le cri qui passe dans l'air est un être
comparable à la bête puisqu'il naît, produit un mouvement, se transforme encore
pour mourir. Or, l'esprit craintif qui croit à des êtres incorporels n'a donc
pas tort. Qui sont-ils ?"
Combien
d'hommes les pressentent, frémissent à leur approche, tremblent à leur
inappréciable contact. On les sent auprès de soi, autour de soi, mais on ne les
peut distinguer, car nous n'avons pas l'oeil qui les verrait, ou plutôt
l'organe inconnu qui pourrait les découvrir.
Alors,
plus que personne, je les sentais, moi, ces passants surnaturels. Etres ou
mystères ? Le sais-je ? Je ne pourrais dire ce qu'ils sont, mais je
pourrais toujours signaler leur présence. Et j'ai vu - j'ai vu un être
invisible - autant qu'on peut les voir, ces êtres.
Je
demeurais des nuits entières immobile, assis devant ma table, la tête dans mes
mains et songeant à cela, songeant à eux. Souvent j'ai cru qu'une main
intangible, ou plutôt qu'un corps insaisissable, m'effleurait légèrement les
cheveux. Il ne me touchait pas, n'étant point d'essence charnelle, mais
d'essence impondérable, inconnaissable.
Or, un
soir, j'ai entendu craquer mon parquet derrière moi. Il a craqué d'une façon
singulière. J'ai frémi. Je me suis tourné. Je n'ai rien vu. Et je n'y ai plus
songé.
Mais le
lendemain, à la même heure, le même bruit s'est produit. J'ai eu tellement peur
que je me suis levé, sûr, sûr, sûr, que je n'étais pas seul dans ma chambre. On
ne voyait rien pourtant. L'air était limpide, transparent partout. Mes deux lampes
éclairaient tous les coins.
Le
bruit ne recommença pas et je me calmai peu à peu ; je restais inquiet
cependant, je me retournais souvent.
Le
lendemain je m'enfermai de bonne heure, cherchant comment je pourrais parvenir
à voir l'invisible qui me visitait.
Et je
l'ai vu. J'en ai failli mourir de terreur.
J'avais
allumé toutes les bougies de ma cheminée et de mon lustre. La pièce était
éclairée comme pour une fête. Mes deux lampes brûlaient sur ma table.
En face
de moi, mon lit, un vieux lit de chêne à colonnes. A droite, ma cheminée. A
gauche, ma porte que j'avais fermée au verrou. Derrière moi. une très grande
armoire à glace. Je me regardai dedans. J'avais des yeux étranges et les
pupilles très dilatées.
Puis je
m'assis comme tous les jours.
Le
bruit s'était produit, la veille et l'avant-veille, à neuf heures vingt-deux
minutes. J'attendis. Quand arriva le moment précis, je perçus une
indescriptible sensation, comme si un fluide, un fluide irrésistible eût
pénétré en moi par toutes les parcelles de ma chair, noyant mon âme dans une
épouvante atroce et bonne. Et le craquement se fit, tout contre moi.
Je me
dressai en me tournant si vite que je faillis tomber. On y voyait comme en
plein jour, et je ne me vis pas dans la glace ! Elle était vide, claire,
pleine de lumière. Je n'étais pas dedans, et j'étais en face, cependant. Je la
regardais avec des yeux affolés. Je n'osais pas aller vers elle, sentant bien
qu'il était entre nous, lui, l'invisible, et qu'il me cachait.
Oh ! comme j'eus peur ! Et voilà que je commençai à m'apercevoir dans une brume au fond du miroir, dans une brume comme à travers de l'eau ; et il me semblait que cette eau glissait de gauche à droite, lentement, me rendant plus précis de seconde en seconde. C'était comme la fin d'une éclipse.
Oh ! comme j'eus peur ! Et voilà que je commençai à m'apercevoir dans une brume au fond du miroir, dans une brume comme à travers de l'eau ; et il me semblait que cette eau glissait de gauche à droite, lentement, me rendant plus précis de seconde en seconde. C'était comme la fin d'une éclipse.
Ce qui
me cachait n'avait pas de contours, mais une sorte de transparence opaque
s'éclaircissant peu à peu.
Et je
pus enfin me distinguer nettement, ainsi que je le fais tous les jours en me
regardant.
Je
l'avais donc vu !
Et je
ne l'ai pas revu.
Mais je
l'attends sans cesse, et je sens que ma tête s'égare dans cette attente.
Je
reste pendant des heures, des nuits, des jours, des semaines, devant ma glace,
pour l'attendre ! Il ne vient plus
Il a
compris que je l'avais vu. Mais moi je sens que je l'attendrai toujours,
jusqu'à la mort, que je l'attendrai sans repos, devant cette glace, comme un
chasseur à l'affût.
Et,
dans cette glace, je commence à voir des images folles, des monstres, des
cadavres hideux, toutes sortes de bêtes effroyables, d'êtres atroces, toutes
les visions invraisemblables qui doivent hanter l'esprit des fous.
Voilà
ma confession, mon cher docteur. Dites-moi ce que je dois faire ?
17 février 1885.
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