Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Interior do Rio Grande do Sul, Serra dos Tapes... sul do
sul... para os migrantes europeus, acostumados aos gelos do Tirol... aquele
frio era nada... No inverno, às seis horas não havia mais sol... minha avó
acendia uma lamparina de querosene e começava a ler suas preces... ora em
latim... ora em alemão... ora em italiano... se repetiam pelo tempo afora...
Eu olhava a pequena chama que tremulava à procura do
oxigênio do ar... de quando em vez, eu abria a porta da rua e contemplava as estrelas
tão alto... passava pela cozinha... aquecia as mãos no fogão a lenha onde um braseiro
fazia chiar a água numa chaleira preta do fogo...
Minha mãe, cochilando, aguardava pacientemente pelo meu
pai, que jogava cartas numa venda de campanha... vez por outra, bebia um mate
doce... beijava-a e retornava para minha caminha no quartinho da vovó...
A lamparina, sobre uma toalhinha branca, com flores
bordadas a mão no centro... bordadinhos enfeitando os quatro cantos... Nojos...
gostos... coisa boa... coisa ruim... concluí muito depois que tudo isso vem de
um jeito de olhar a vida e o mundo... não percebia o odor forte do
combustível... era muito barato... um litro durava dias... eu buscava... sem calçado... as pedras machucando os pés...
era assim com todos... Quando ainda não havia rádio... o tempo era um tempão
que não passava nunca... o ano... era como muitos dos de hoje...
O pão era gostoso... e como era... leite era leite... o café,
uma delícia incomparável... o pão no forno de lenha da rua... a lenha, se
buscava no mato... todo mundo... e a fumaça subia da chaminé marcando o céu de
branco tisnado...
E Deus sempre olhava pra gente... nada preocupava
ninguém... os sonhos tão pequenos... ninguém tinha nada e nada faltava a
ninguém... mais, pra quê? Não havia ladrão... roubar o quê? Ninguém tinha nada
que prestasse... e como tudo era bom... No sétimo dia, criou o homem e viu que
tudo era perfeito... a gente era completamente perfeitos... E o sol de cada dia
a todos abençoava... o calor das cobertas era tão terno... o beijo de minha avó em
meus cabelos era uma bênção divina... corria do cabelo para a alma... eu era
santo e não sabia...
Nenhum comentário:
Postar um comentário