Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Tarde ensolarada...
final de setembro... vale de ladeiras contrapostas... Oeste, sol caindo no poente... larga
sombra partia do topo e vagarosamente encobria a face da colina toda... No aclive oposto, na sua completude, os raios solares iluminavam tudo até o derradeiro
momento em que o astro se escondia por trás do topo, a luminosidade esmaecendo vagarosamente à medida que a tarde morria...
Nesses momentos fugazes, sentado numa pedra embutida entre
as ramagens coladas na encosta sul, eu observava a exuberância dos pomares de
pessegueiros, em plantas alinhadas, cujo esquadrejamento perfeito contrastava
com a desordem aparente do mato contíguo...
Ao nascente, num aclive mais íngreme, o pomar terraceado
acompanhava a curvatura do morro... pelo
poente... do lado oposto, numa inclinação menos acentuada, a chácara delineava-se de forma muito mais
geométrica...
No entanto, o que diferenciava aquela tarde era
a floração dos pomares que, em ambas as faces da serra, resplandecia ao sol que
sucumbia no poente... um aclive contrastava com o outro... Enquanto as flores
do poente exibiam um tom de rosa mais escuro pelo menor grau de luminosidade
que recebiam, as do nascente rebrilhavam aos milhares conferindo a impressão de
um certo tremeluzir diante do olhar do observador...
No final do dia, mesmo estando o sol encoberto por entre os topos dentados
dos morros, uma luminosidade avermelhada ainda pairava sobre as colinas e
perdia-se na imensidão do céu. Ao fixar as plantas à distância, delineavam-se
os espíritos da natureza nos contornos mais definidos da floresta, em que as
plantas individualmente perdiam sua identidade para conformarem-se na imagem da
grande deusa das matas. Contornos enegrecidos projetavam-se no horizonte,
deixando, aqui e ali, resquícios de azul, por entre ramagens esquálidas.
Uma cúpula de
trevas aos poucos cobria a natureza toda...
Por fim, tudo enegrecera... desci pela encosta, sentindo as flechadas dos arbustos
nas canelas desprotegidas pela calça semi-arregaçada...
No olhar envolto pelas trevas, carregava ainda as cores abundantes
da natureza e os vaga-lumes incendiavam-me o trilho que me conduzia ao fundo do
vale... o vento levemente frio trazia-me para o mundo real... No espírito, abrigava
raios de efusiva felicidade...
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