A Espanha se constitui em um reino
muito complexo, com sérias divisões. Há pelo menos duas regiões com tendências
separatistas: a Catalunha, cuja capital é Barcelona, o País Basco ou Euskadi,
cuja cidade mais populosa é Bilbao. Hoje, essas regiões estão mais calmas. A organização
radical ETA (Euskadi Ta Askatasuna), ou seja, Pátria Basca e Liberdade não tem
mais feito atentados terroristas. Em 2011, a organização informa a suspensão
definitiva de suas atividades. Desde então, não há atentado terrorista algum na
Espanha. Porém, há focos de conflito que podem explodir em atentados a qualquer
momento.
A Espanha toda está dividida, desde 1978, em 17
comunidades autônomas. Uma comunidade
autônoma constitui-se de uma unidade territorial que, no ordenamento
constitucional da Espanha, é dotada de autonomia legislativa e competências
executivas, bem como da faculdade de se administrar mediante representantes
próprios. Vide mapa abaixo que mostra as divisões autônomas:
Além dessas comunidades, há duas cidades
autônomas no
continente africano: Ceuta, situada no lado africano do Estreito de Gibraltar.
Também ao norte da África, há a cidade espanhola autônoma de Melilha, situada
na costa mediterrânea do Marrocos, por sinal reclamada por esse país como parte
de seu território. Essas comunidades são dividas em 52 províncias.
Vide mapa
das províncias espanholas:
O reino da Espanha tem uma longa trajetória da
pré-história, passando pelo colonização romana, e se estende até nossos dias.
Os romanos dominaram a região da Península Ibérica por motivos militares.
Os mais poderosos inimigos dos romanos na antiguidade foram
os cartagineses. O Reino de Cartago era governado pela poderosa dinastia dos
Barca. Amílcar e seu filho Aníbal Barca foram os líderes mais importantes dessa
dinastia. Eles protagonizaram guerras contra Roma conhecidas como Guerras
Púnicas, uma vez que os cartagineses eram denominados de puni pelos romanos.
Pois Cartago foi uma antiga cidade, originariamente fundada
pela cidade Fenícia de Tiro, ao norte do continente africano, que se
confrontava no Mar Mediterrâneo com a Sicília, que fazia parte do Império
Grego, fazendo parte da província grega do sul da Itália denominada de Magna Grécia.
A cidade de Cartago estava no continente africano, situando-se nas proximidades
da atual Tunis, capital da Tunísia.
Acontece que os cartagineses dominavam grande parte da
península ibérica que hoje integra do território espanhol. O próprio Aníbal
estivera nos primeiros anos de sua juventude em funções administrativas na península.
Roma - Cartago |
Roma e Cartago tiveram boas relações
por muito tempo. Foram aliadas contra Pirro, do reino grego da Sicília. Com a
derrota dos gregos, Cartago, que já dominava as Ilhas da Córsega e da Sardenha,
dominou também a Sicília. Os romanos sentiram-se cercados no mediterrâneo pela
poderosa frota naval cartaginesa que exercia ações de pirataria. Em 264 a. C.,
as tropas romanas tomaram Messina, cidade siciliana situada no canal que separa
a Itália da ilha que pertencia aos cartagineses. No Ano seguinte, tomam também Siracusa.
E tomaram aos poucos toda a ilha.
Instigados pelas vitórias na Sicília,
os romanos passaram a hostilizar a Sardenha e a Córsega. Como o exército
cartaginês era basicamente formado por mercenários, as tropas romanas rapidamente
conquistaram essas ilhas também.
Cartago, para compensar essas perdas
territoriais, passou a expandir seus domínios na Península Ibérica. Criam aí a
cidade de Nova Cartago, atual Cartagena. Temendo os efeitos da expansão
cartaginesa, os romanos declararam guerra a Cartago na primavera de 218 a. C.
Aníbal decidiu então atacar os romanos no território do inimigo. Seguiu pelo
território europeu. Atravessou a região em que hoje está o sul da França.
Levava consigo em torno de 80 elefantes.
Numa trajetória épica, com cordas,
içaram os animais pelas altitudes alpinas e, inesperadamente, cercaram a
poderosa Roma. Porém, invadir a cidade não era fácil. Além do mais, os romanos
tinham muitas tropas espalhadas pela então República Romana. Assim, o general Cipião,
em contragolpe, transpõe o Mediterrâneo e cerca Cartago. Apenas resumindo,
Aníbal obrigou-se a retornar para defender a pátria. É derrotado. Suicida-se.
Essa é a principal razão da conquista
da Península Ibérica pelos romanos. Como na capital, Roma, havia enorme demanda
por terras, os romanos enviaram muitos colonos para ocuparem a nova província.
Até o século V d. C., a Hispania fez
parte da República e depois do Império Romano. No período medieval, no longo
período feudal, se foram constituindo os diversos reinos que resultaram na
Espanha e Portugal.
No século VIII, quase toda a Península Ibérica acabou
dominada (711-718) pelos exércitos árabes provenientes
principalmente dos países do norte da África.. Essas conquistas fizeram
parte da expansão do que passou a denominar-se de Califado Omíada. Apenas uma
pequena área montanhosa no noroeste da península conseguiu resistir à invasão
inicial muçulmana.
Mesquita de Córdoba |
A comunidade muçulmana na Península Ibérica era
diversificada e atormentada por tensões sociais, especialmente pela rejeição
dos nativos da península majoritariamente cristãos, que não aceitavam a
religião islâmica. Ao longo do tempo, grandes populações árabes se
estabeleceram, especialmente, no vale do rio Guadalquivir, na região de
Valência, no vale do rio Ebro onde se situa Barcelona e na costa de Granada.
A capital do califado é Córdoba, a mais rica cidade da
Europa ocidental a esse tempo. Os muçulmanos intensificam o comércio e
incentivam um grande florescimento cultural que darão origem a sábios como
Averrois e Avicena, grandes médicos e estudiosos dos clássicos gregos,
especialmente Aristóteles.
Porém, no século XI, o califado se divide em taifas rivais
e enfraquece. O islã dividi-se em radicais e tolerantes e começa a ruir na
Europa. Os cristãos aproveitam-se desse enfraquecimento e, aos poucos, vão
encurralando os muçulmanos na região de Valência e Granada.
Os cristãos dos reinos de Aragão e Castela juntam-se com o
casamento de Fernando de Aragão, com Isabel, da poderosa Castela. Numa luta
final conhecida como Guerra de Granada, entre 1482 e 1492, os cristãos derrotam
definitivamente os muçulmanos na Europa ocidental.
Desse período em diante, a Espanha cristã, com as grandes
navegações, torna-se o reino mais poderoso da Europa. Elege o primeiro papa
espanhol, o cardeal Alonso Borja, torna-se Calisto III, mas o mais grandioso
vai ser o sobrinho de Alonso, Rodrigo Boja, mais arguto e sagaz. Italianiza-se
para Rodrigo Bórgia, cria uma dezena de filhos bastardos, com diversas amantes,
entre eles Lucrezia e Cesare Bórgia. Por fim, torna-se o Papa Alexandre VI, que
vai urdir o Tratado de Tordesilhas (deveria chamar-se de Decreto Papal de Tordesilhas),
concedendo imensas vantagens à corte espanhola.
Mapa do Império Espanhol |
Os italianos conseguiram livrar-se do papado espanhol,
envenenando Alexandre VI em 1505 e eliminando seu perverso filho, o todo
poderoso Condottiere dos exércitos papais Cesare Bórgia. Elegeram para o papado
o não menos poderoso Giuliano Della Rovere, que se tornaria o papa Júlio II,
que iniciou a construção da atual Basílica do Vaticano, que somente seria
concluída 120 anos mais tarde, devido a sua magnificência e arte.
A Espanha torna-se a terra dos mais imponentes castelos
medievais. A monarquia unificada cresce até o início do século XX. Dos meados do
século XVI ao século XVII (1521 a 1643), com a exploração do ouro da América e
as especiarias do oriente, o império espanhol não tinha limites. Suas princesas
e príncipes trocaram casamentos com as casas mais ilustres que se pudesse
pretender.
As guerras de religião, com o surgimento do
protestantismo, vão confrontando os impérios. Surgem revoltas internas, e a
guerra dos 30 anos basicamente entre os católicos e luteranos, levou a França
católica a apoiar os luteranos. Os católicos são derrotados com enormes perdas
para a Espanha que, a seguir, se envolve também com a Inglaterra em que é
derrotada sua famosa invencível armada. É uma nova derrota política e militar
da Espanha com novas e imensuráveis perdas.
Palácio Real de Madrid |
As colônias espanholas da América também contribuem para a
decadência do império hispânico com as lutas pela independência. Simon Bolívar,
Jose de San Matin
e tantos outros líderes poderosos começaram movimentos irreprimíveis e lá se
foi uma das maiores fontes da receita da corte espanhola.
O sucessivo absolutismo da corte e as acachapantes
derrotas militares levaram a revoluções internas, cujo resultado foi a Primeira
República Espanhola. Porém, foi de breve duração e restabeleceu-se a velha
monarquia. O novo rei Afonso XIII comandou o governo de a 1886 a 1931, ano em
que, debilitado politicamente, renuncia e vai para o exílio.
Madrid - Palácio Real |
Inicia-se, então, a Segunda República Espanhola nesse ano
de 1931 e estende-se até 1939. Foi um período em que a economia espanhola teve
um grande crescimento, tendência que já se prenunciava no fim do século XIX e
que se intensificou início do século XX. Com isso, fortaleceu-se também o
movimento trabalhista operário. Uma reação de direita iniciada em 1936
transforma-se em guerra civil em que o general Francisco Franco, apoiado por
Mussolini e especialmente pela força aérea de Hitler, derrota os considerados
esquerdistas e, em 1939, estabelece um regime ditatorial na Espanha. A guerra
civil foi cruenta, tendo deixado em torno de um milhão de mortos.
Franco, desde 1939, embora tenha sofrido forte oposição
durante alguns períodos, foi ditador absoluto. Sentindo aproximar-se o fim da
vida, Franco restaura a monarquia em 1966, e em 1969 traz, de seu exílio na
Itália, o herdeiro do antigo trono espanhol, o rei Juan Carlos de Bourbon,
evitando uma quebra de continuidade no regime administrativo espanhol. Assim,
com sua morte em 1975, aos 82 anos, o rei faz a transição.
Museu do Prado - Madrid 2011 |
Juan Carlos, com a morte de Franco, mantém Arias Navarro,
ministro do antigo ditador, como ministro provisório. Por fim, em 1977, promove
o processo eleitoral para o cargo, sendo eleito Adolfo Suárez para substituir
Navarro. Após isso, Juan Carlos, em 1978 consegue fazer aprovar pelo novo
congresso uma nova constituição. Em 2014, o rei Juan Carlos abdica em favor de
seu filho Felipe de Bourbon. Esta é a situação política em que se encontra a
Espanha neste momento. Estabeleci este pálido resumo de uma trajetória tão
complexa que se inicia na pré-história e
se desenvolve até o presente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário