Elêusis, em grego Ἐλευσίς, era uma pequena e agradável
cidadezinha, em que havia o suntuoso templo da deusa Deméter, Δημήτηρ, em grego. Ali se realizavam os Mistérios de Elêusis. Esses rituais seguiam os modelos de iniciação dos jovens ao culto das divindades do Antigo Egito e serviram de parâmetro para muitas sociedades secretas posteriores, mesmo as contemporâneas.
A pequena Elêusis situava-se a mais ou menos 30 km ao norte da cidade de Atenas, que, na época de Platão e Aristóteles, congregava uma população de mais de 400.000 habitantes. Essa era também uma região de campos de trigo e cevada.
A pequena Elêusis situava-se a mais ou menos 30 km ao norte da cidade de Atenas, que, na época de Platão e Aristóteles, congregava uma população de mais de 400.000 habitantes. Essa era também uma região de campos de trigo e cevada.
Acreditava-se que em Elêusis estivesse a estalagem de
Procusto, grotesco hospedeiro mítico que esticava ou mutilava seus hóspedes
para que se ajustassem perfeitamente ao leito que lhes era destinado. Hoje é
apenas um bairro de Atenas.
O Retorno de Perséfone de Frederic Leighton (1891). |
Pois era nesse local que se realizavam os rituais eleusinos,
também conhecidos como mistérios eleusinos. Eram ritos de iniciação anuais ao
culto das deusas Deméter e Perséfone. Todo o jovem ateniense que desejasse
participar da comunidade com direitos regulares, aos 18 anos, deveria participar
desse ritual de iniciação. É preciso salientar que somente dez por cento dos
habitantes de Atenas tinham esse direito.
Dentre todos os
rituais sagrados da Grécia antiga, eram os de maior relevância. Tanto os ritos
como as demais adorações e mitos eram guardados no mais absoluto segredo.
Uniam-se nessas ocasiões adorações divinas a promessas de poderes especiais e
de recompensas para a vida após a morte.
Todos esses mistérios centravam-se no mito protagonizado pela
deusa Deméter e sua filha Perséfone, esta última, deusa da vegetação, das ervas, flores, plantas, frutos e perfumes. A filha fora sequestrada por Hades, a
divindade que custodiava os mortos e o mundo inferior e subterrâneo. Deméter,
no entanto, era a deusa da vida, da agricultura e da fertilidade. Era a
misteriosa mãe acolhedora e terna. No entanto, descuidou-se de seus deveres
enquanto buscava a filha raptada pela divindade
das trevas.
Templo dos Mistérios - Elêusis |
Em consequência disso, a terra congelou-se e os homens
passaram fome, surgindo, assim, o primeiro inverno numa terra paradisíaca de
eterna primavera. Nesse tempo, Deméter ensinou, então, os segredos da
agricultura Triptólemo, que percorreu toda a Grécia, ensinando ao povo a arte
do cultivo dos campos.
Finalmente Deméter recuperou a filha e a primavera retornou
à terra, enchendo novamente os campos e jardins das mais variadas flores. Assim,
surgem as estações do ano. Desafortunadamente, Perséfone não poderia mais
permanecer indefinidamente na terra dos vivos, pois havia comido algumas
sementes dos grãos que Hades lhe oferecera. Ora, os que provam do alimento dos
mortos já não podem mais regressar ao mundo dos vivos. Depois de muitas
negociações com Hades, Deméter chegou ao seguinte acordo: como na Grécia aniga
havia somente três estações no ano: o verão, o inverno e a primavera, Perséfone
ficaria com Hades, no reino dos mortos, um terço do ano, no inverno, período em que receberia o nome de Koré, e nas duas
restantes estações, primavera e verão permaneceria na terra com a mãe.
Rapto de Perséfone - Bernini |
Os mistérios eleusinos celebravam o retorno de Perséfone,
pois esse coincidia com a primavera e o retorno da vida na natureza. Perséfone
havia ingerido sementes, símbolos da vida, enquanto estivera nas profundezas da
terra com Hades, assim como as sementes ficam latentes no solo durante o
inverno. O retorno de Perséfone é um símbolo de ressurreição com o qual também
as sementes do campo se unem para celebrar da nova vida com a germinação da
vida latente nas sementes dos campos que estavam adormecidas no seio da terra,
como símbolos latentes de toda a vida sobre terra. Por essa razão, os mistérios
eleusinos celebravam-se sempre em meados de setembro, em que se prepara para o
inverno no hemisfério norte, e Perséfone se prepara para retornar ao mundo dos
mortos.
Nos rituais dos mistérios eleusinos, entoava-se um grandioso
Hino a Deméter, cuja autoria é
atribuída a Homero, o aedo cego do século IX a. C., isto é, o poeta cantor que
percorria as cidades entoando suas canções ao som da cítara e da lira. Havia um
corpo de sacerdotes e sacerdotisas responsáveis pelo preparo do ritual e dos
cultos.
Havia dois tipos de mistérios eleusinos: os maiores e os
menores. Os mistérios menores celebravam-se no mês de anthesterion (Ανθεστήριον), sem exatidão, uma
parte de março, era uma festa móvel. Os sacerdotes sacrificavam um porco a
Deméter e faziam libações e sacrifícios de purificação.
Os mistérios maiores ocorriam no mês de boedromion (Βοηδρομιών), correspondia ao
mês nosso de setembro. Essas celebrações duravam nove dias. Traziam-se os
objetos sagrados de Elêusis para o Eleusínion (Ἐλευσίνιον), um templo de Deméter localizado
na base da Acrópole ateniense e, no dia 15, os sacerdotes davam abertura aos
rituais. Os ritos propriamente ditos iniciavam-se no dia 16 numa cerimônia em que os celebrantes lavavam-se no mar e, a seguir, dirigiam-se
ao Eleusínion, onde sacrificavam o leitão.
Havia, a seguir, uma procissão que iniciava no Cerâmico (Κεραμεικος),
o cemitério ateniense de onde se caminhava até Elêusis pela Via Sagrada,
acenando com ramos chamados bakchoi, enquanto se avançava pelo caminho, rumo ao
templo de Deméter, em Elêusis. A certa altura do caminho, gritavam-se
obscenidades a Iambe, divindade do humor, que fazia anedotas picantes, com a
intenção de espantar a tristeza de Deméter, que sofria por não encontrar a
filha Perséfone.
Ao chegar a Elêusis, havia um dia de jejum para acompanhar
Deméter na busca de Perséfone. Quebrava-se o jejum com uma bebida especial de
cevada e poejo chamada Kykeon (Κυκεών). No dia seguinte ao jejum, os iniciantes entravam no Telesterion, sala onde se mostravam as relíquias sagradas de Deméter. Esta era um cerimônia reservada
aos mistérios sobre os quais o iniciado deveria manter o mais absoluto segredo,
sob cuja revelação pesava pena de morte.
Cerâmico - Cemitério de Atenas |
O Telesterion era um templo quadrangular de 21m de lado,
cujo teto era sustentado por 42 colunas em filas, havendo uma torre central com
entrada de luz para o interior. Estava cercado de grades, formando um espaço que
poderia abrigar em torno de três mil pessoas.
Quanto ao clímax dos mistérios, há diversidade de opiniões. Há
quem afirme serem os sacerdotes os que revelavam as visões da noite sagrada, diante
de um fogo que simbolizava a possibilidade da vida para além da morte. Havia
também a apresentação de diversos objetos sagrados. Esse ritual, segundo eles,
com as revelações sagradas, seria a essência dos mistérios eleussinos.
Outros, no entanto, afirmam que essa explicação seria
insuficiente para garantir tamanha longevidade aos mistérios. Acreditam as experiências
deveriam ser interiores, provocadas por algum alucinógeno altamente psicoativo
contido no Kykeon. Leve-se em consideração que essa bebida era oferecida aos
jovens após um dia de jejum e meditações, seguidas da sessão sagrada, sem que
lhes fosse oferecida antes qualquer espécie de alimentação.
Após a sessão dos mistérios, acontecia opannychis, uma refeição festiva que se
estendia pelo restante da noite com danças e diversões. As danças aconteciam no
Campo Rhario, um espaço de campo de onde se tinham colhido recentemente os
grãos. Possivelmente deveria ser uma resteva de trigo ou cevada, cereais muito
cultivados na região por esses tempos.
Acontecia também, nesse local, o sacrifício de um touro, que
se realizava ou na alta madrugada, ou pelo início da manhã seguinte. Faziam-se,
então, libações em memória e honra dos mortos.
No centro do Telesterion havia um pequeno palácio de pedra chamado
Anaktoron reservado exclusivamente ao hierofante, único sacerdote que aí poderia entrar. Era o lugar onde
se guardavam os objetos sagrados. Hierofante era o sacerdote da mais elevada
hierarquia.
Participavam dos mistérios eleusinos, primeiramente os
sacerdotes, as sacerdotisas e os hierofantes; a segunda categoria a participar
do cerimonial eram os jovens iniciados que participavam pela primeira vez do
rito; também podiam participar pessoas que já tivessem participado pelo menos
uma vez da cerimônia.
Elêusis hoje |
Os gregos afirmavam que durante os misteriosos ritos
eleusinos, contemplando os símbolos e participando dos rituais sagrados
poder-se-ia chegar à epopteia, isto é ao mais alto estágio de iniciação, a revelação
direta da verdade e da contemplação das formas e realidades divinas. Esse
estágio de epopteia poderia ser atingido por qualquer cidadão. Era uma esécie de êxtase que atingia alguns participantes.
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