ROMA - CAPITÓLIO - LA CORDONATA
"Escuta, preceptor do amor libertino:
Conduz os teus alunos ao meu templo.
Verão eles ali uma inscrição
cuja fama aos confins do universo
levou este conselho: Conhece-te a ti mesmo.
Só o homem que a fundo se conheça
pode amar sabiamente
porque é em relação às próprias forças
que mede cada empresa."
Ovídio- Arte de amar
O primeiro século da era cristã foi o período mais fecundo da literatura latina. Gerou os três poetas mais importantes de toda a cultura romana: Virgílio, Horácio e Ovídio.
Politicamente, a personagem mais destacada nesse período é o imperador Augusto. Nascido Gaius Octavius Thurinus, passando a ser Gaius Iulius Caesar Octavianus, ao ser adotado por seu tio-avô Gaius Iulius Caesar, finalmente, tornou-se o primeiro imperador romano, adotando o título de Gaius Iulius Caesar Octavianus Augustus.
Pois o papel de Augusto na literatura foi de fundamental importância. No início de sua administração de quase cinquenta anos, nomeia seu ministro da cultura Gaius Cilnius Mecenas, homem de vasta cultura e de grandes posses. Esse ilustre cidadão instituiu o costume de os homens ilustres e ricos manterem a suas expensas os artistas. Augusto, para prestigiar o mecenato, adotou o poeta Virgílio.
Acontece que os poderosos patrocinam, mas fazem suas exigências. Virgílio, apesar de genial, foi um lacaio de Augusto. Primeiramente o poeta mantuano escreve suas Geórgicas, colaborando com a campanha de levar ao campo os soldados desmobilizados das campanhas militares. Por fim, em sua magistral obra Aeneis, Eneida, a grande obra épica dos romanos, inclui uma árvore genealógica da família dos césares, que vai permitir a Augusto de intitular-se divino.
Horácio era detentor de tamanho renome que escreveu uma obra criticando seus patrocinadores, Littera ad Pisones (Carta aos Pisões), conhecida como Arte Poética, pois constitui-se um conjunto de normas para a criação literária.
Ora, Ovídio, o mais inspirado de todos os poetas romanos e o mais precioso deles, não se submete ao falso moralismo do imperador. O cruel Augusto, que não perdoaria as próprias filha e neta do exílio, jamais se apiedaria de um simples poeta. E exilou-o no Oriente Médio, a uma distância impossível de retorno nesse tempo.
POETA OVÍDIO |
Era o início da nossa era. Um édito de Augusto bane para sempre da grandiosa Roma o seu poeta mais genial, cujos versos amorosos encantavam a todos, especialmente a juventude. Porém, era, por outro lado, poeta de vasta cultura que escreveu As Metamorfoses, o poema tratado, o mais completo estudo das mitologias grega e romana produzido por escritor de seu tempo.
Veja o que diz dele e sua obra o poeta e crítico brasileiro José Paulo Paes, em artigo na Folha de São Paulo:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs190110.htm.
No ano 8 da nossa era, um édito imperial baniu para sempre de Roma o seu poeta mais festejado, aquele cujos versos galantes eram cantados em festins, rabiscados nos muros das encruzilhadas e pintados nas paredes das casas de Pompéia. Está-se falando de Públio Ovídio Nasão, autor da ``Arte de Amar'' e das ``Metamorfoses'', e último grande poeta da época de Augusto. Ele foi contemporâneo de Virgílio, Propércio, Horácio e Tibulo, e seu desaparecimento, no ano 17 d.C., assinalou o fim dessa época de ouro da literatura latina.
Ovídio morreu desterrado em Tomos, uma vila à beira do mar Negro ou Ponto Euxino, no local onde hoje se ergue a cidade de Constanza, na Rumânia. Àquela época, era uma região totalmente inóspita, de longos e rigorosos invernos, habitada por bárbaros getas e sármatas que viviam em pé de guerra contra os dominadores romanos. Longe dos belos jardins da sua mansão de Roma, afastado para sempre do aconchego de seus familiares e amigos da alta roda, o poeta lá viveu os seus últimos anos, encurtados pelas privações e provações de um modo de vida primitivo que não tardou a lhe combalir a saúde.
Até hoje permanecem obscuras as verdadeiras causas que levaram Augusto a exilar para os confins do império um poeta a quem vinha distinguindo com os seus favores e a quem acolhia em seu palácio. O pretexto para o intempestivo édito de banimento teria sido a imoralidade da "Arte de Amar", cujos conselhos de sedução amorosa induziriam seus leitores ao adultério. Isso num momento em que o todo-poderoso imperador de Roma estava empenhado, baldadamente embora, em moralizar os costumes do patriciado.
Como a "Arte" já circulava havia vários anos e não era mais imoral que outras obras livremente lidas naqueles tempos de relaxamento, aventaram-se razões agravantes para o édito. Uma delas seria Ovídio ter acobertado os amores clandestinos de uma neta do imperador, que acabou sendo também exilada pelo avô. Outra seria a malevolência de Lívia, esposa de Augusto, contra o poeta, por ele estar ligado a um círculo palaciano contrário a Tibério, filho do primeiro casamento de Lívia, a qual ambicionava para ele o trono do império.
Fossem quais fossem as razões do rancor de Augusto contra Ovídio, o certo é que nem as reiteradas súplicas do poeta, nem as de sua mulher ou de amigos seus influentes, conseguiram induzi-lo a revogar o édito ou mudar para região menos inóspita o lugar de banimento. As súplicas de Ovídio estão perpetuadas em duas coletâneas, as "Tristes" e as "Pônticas", que lhe reúnem os poemas do exílio. O lastro autobiográfico e os acentos do tocante desespero que galvanizam esses poemas dão-lhes um vigor expressivo e um interesse humano raros de encontrar-se na lírica da Antiguidade, em que o gosto da imitação e o recurso sistemático a um elenco de motivos mais ou menos fixos continham as efusões da subjetividade dentro dos quadros do convencional. Os poemas ovidianos do exílio rompem os limites desse enquadramento para fazer soar, numa antecipação de séculos, a voz do Eu romântico e pós-romântico que, no desfrute dos "seus juízos subjetivos, alegrias e admirações, dores e sensações" -a citação é de Hegel-, toma consciência de si e do seu próprio estar-no-mundo.
Para se ter uma idéia da distância que separa a arte graciosamente maliciosa e frívola dos poemas de juventude de Ovídio da dramática gravidade dos seus últimos poemas é instrutivo comparar a peça dos ``Amores'' (I: 5) com as das "Tristes" (V: 7) e das "Pônticas" (I: V) para aqui trazidas em tradução. Os "Amores", escritos quando o poeta ainda não contava 20 anos de idade, estão compostos no verso de eleição da poesia erótica latina, o chamado "dístico elegíaco", formado de dois versos de medidas diferentes. Esse verso procede da antiga poesia grega, onde era usado nas inscrições funerárias; mais tarde, desvinculou-se dessas conotações entre fúnebres e lamentosas. Estas, entretanto, vão reaparecer nos dísticos dos poemas ovidianos de exílio, a cujo tom de desalento e tristeza quadra bem o adjetivo "elegíacos".
Enquanto a peça dos "Amores" versa um tópico tradicional da lírica amorosa, qual seja a descrição dos encantos do corpo feminino, a elegia das "Tristes" mostra-nos Ovídio a fazer da poesia escrita em Tomos seu canal de comunicação com a pátria que fora forçado a abandonar para sempre; daí falar ele em "carta" logo no verso de abertura e confessar mais adiante que no "estudo", ou seja, no exercício da atividade intelectual, encontra o único lenitivo ao seu alcance: "Nos versos busco olvido das misérias que me afligem". Além da breve, mas viva descrição da aparência física e dos costumes selváticos dos bárbaros entre os quais habita, há nessa elegia um pormenor altamente expressivo da dramática do exílio: a perda progressiva da língua-mãe pelo "descostume" de usá-la; para não a perder e à falta de interlocutores, o poeta fala consigo próprio e se esforça por lembrar "palavras dessuetas" a fim de manter viva sua identidade de "poeta romano".
Se, a despeito de serem cartas versificadas, as "Tristes" se designam ainda como "elegias" por causa dos dísticos em que estão vazadas, as "Pônticas", embora compostas no mesmo tipo de verso, já se declaram "epístolas" e trazem amiúde, logo abaixo do título, o nome de seu destinatário. A que adiante se vai está endereçada a Fábio Máximo, um dos poucos amigos que permaneceu leal a Ovídio. Tanto assim que, na viagem para Tomos, acompanhou-o pessoalmente até Brindes, sem medo de comprometer-se aos olhos de Augusto pela sua lealdade ao poeta, a quem muitos outros supostos amigos voltaram as costas tão logo o viram cair em desgraça. Nessa epístola a Máximo, discute Ovídio o porquê de continuar escrevendo e justifica a espontaneidade ("Contento-me em compor o que me venha facilmente"), tanto quanto a rudez dos seus versos, pelas adversidades de sua condição de exilado, de que eles seriam o reflexo ou o homólogo fiel.
José Paulo Paes é poeta, tradutor e ensaísta, autor de ``Prosas Seguidas de Odes Mínimas'' e ``A Aventura Literária''.
Leia o poema abaixo que dá origem a todas as nossas canções de exílio. Embora tenha repetidas vezes solicitado perdão a Augusto e a revogação do édito de exílio, o imperador jamais se compadeceu dele, deixando-o morrer no Oriente.
Um poeta entre os bárbaros
JOSÉ PAULO PAES especial para a Folha
TRISTIUM
Ovidio
- Libro 1
Capitolo
Par. 3
Cum
subit illius tristissima noctis imago,
quae
mihi supremum tempus in urbe fuit,
cum
repeto noctem, qua tot mihi cara reliqui,
labitur
ex oculis nunc quoque gutta meis.
iam prope
lux aderat, qua me discedere Caesar
finibus
extremae iusserat Ausoniae.
nec
spatium nec mens fuerat satis apta parandi:
torpuerant
longa pectora nostra mora.
non
mihi seruorum, comitis non cura legendi,
non
aptae profugo uestis opisue fuit.
non aliter
stupui, quam qui Iouis ignibus ictus
uiuit
et est uitae nescius ipse suae.
ut
tamen hanc animi nubem dolor ipse remouit,
et
tandem sensus conualuere mei,
alloquor
extremum maestos abiturus amicos,
qui
modo de multis unus et alter erant.
uxor amans
flentem flens acrius ipsa tenebat,
imbre
per indignas usque cadente genas.
nata
procul Libycis aberat diuersa sub oris,
nec
poterat fati certior esse mei.
quocumque
aspiceres, luctus gemitusque sonabant,
formaque
non taciti funeris intus erat.
femina
uirque meo, pueri quoque funere maerent,
inque
domo lacrimas angulus omnis habet.
si
licet exemplis in paruis grandibus uti,
haec
facies Troiae, cum caperetur, erat.
iamque
quiescebant uoces hominumque canumque
Lunaque
nocturnos alta regebat equos.
hanc
ego suspiciens et ad hanc Capitolia cernens,
quae
nostro frustra iuncta fuere Lari,
'numina
uicinis habitantia sedibus,' inquam,
'iamque
oculis numquam templa uidenda meis,
dique
relinquendi, quos urbs habet alta Quirini,
este
salutati tempus in omne mihi.
et
quamquam sero clipeum post uulnera sumo,
attamen
hanc odiis exonerate fugam,
caelestique
uiro, quis me deceperit error,
dicite,
pro culpa ne scelus esse putet.
ut quod
uos scitis, poenae quoque sentiat auctor:
placato
possum non miser esse deo.'
hac
prece adoraui superos ego, pluribus uxor,]
singultu
medios impediente sonos.
illa
etiam ante Lares passis adstrata capillis
contigit
extinctos ore tremente focos,
multaque
in auersos effudit uerba Penates
pro
deplorato non ualitura uiro.
iamque morae
spatium nox praecipitata negabat,
]uersaque
ab axe suo Parrhasis Arctos erat.
quid
facerem? blando patriae retinebar amore,]
ultima
sed iussae nox erat illa fugae.
a!
quotiens aliquo dixi properante 'quid urges?
uel quo
festinas ire, uel unde, uide.'
a!
quotiens certam me sum mentitus habere
horam,
propositae quae foret apta uiae.
ter
limen tetigi, ter sum reuocatus, et ipse
indulgens
animo pes mihi tardus erat.
saepe
'uale' dicto rursus sum multa locutus,
et
quasi discedens oscula summa dedi.
saepe
eadem mandata dedi meque ipse fefelli,
respiciens
oculis pignora cara meis.
denique
'quid propero? Scythia est, quo mittimur', inquam,
]'Roma
relinquenda est, utraque iusta mora.
uxor in
aeternum uiuo mihi uiua negatur,
et
domus et fidae dulcia membra domus,
quosque
ego dilexi fraterno more sodales,
o mihi
Thesea pectora iuncta fide!
dum
licet, amplectar: numquam fortasse licebit
amplius;
in lucro est quae datur hora mihi.'
nec
mora sermonis uerba inperfecta relinquo,
complectens
animo proxima quaeque meo.
dum
loquor et flemus, caelo nitidissimus alto,
stella
grauis nobis, Lucifer ortus erat.
diuidor
haud aliter, quam si mea membra relinquam,
et pars
abrumpi corpore uisa suo est.
sic
doluit Mettus tum cum in contraria uersos
ultores
habuit proditionis equos.
tum
uero exoritur clamor gemitusque meorum,
et
feriunt maestae pectora nuda manus.
tum
uero coniunx umeris abeuntis inhaerens
miscuit
haec lacrimis tristia uerba suis:
'non
potes auelli: simul ah! simul ibimus', inquit,
'te sequar
et coniunx exulis exul ero.
et mihi
facta uia est, et me capit ultima tellus:
accedam
profugae sarcina parua rati.
te
iubet e patria discedere Caesaris ira,
me
pietas: pietas haec mihi Caesar erit.'
talia
temptabat, sicut temptauerat ante,
uixque
dedit uictas utilitate manus.
egredior
(siue illud erat sine funere ferri?)
squalidus
inmissis hirta per ora comis.
illa
dolore amens tenebris narratur obortis
semianimis
media procubuisse domo,
utque
resurrexit foedatis puluere turpi
crinibus
et gelida membra leuauit humo,
se
modo, desertos modo complorasse Penates,
nomen
et erepti saepe uocasse uiri,
nec
gemuisse minus, quam si nataeque meumque
uidisset
structos corpus habere rogos,
et
uoluisse mali moriendo ponere sensum,
respectuque
tamen non potuisse mei.
uiuat
et absentem, quoniam sic fata tulerunt,
uiuat
ut auxilio subleuet usque suo.
|
OS
TRISTES
Quando
me vem à mente a tristíssima imagem daquela noite,
Que foi
para mim o último instante na Cidade,
Quando
recordo a noite em que deixei tantas coisas queridas,,
Corre
ainda agora uma lágrima dos meus olhos.
Já estava
próxima a luz do dia em que César tinha ordenado
Que eu
me retirasse dos territórios da extrema Ausônia.
Não
tinha tido nem o tempo necessário
Nem o
espírito suficientemente apto para me preparar:
Meu
coração se tinha entorpecido com a longa demora.
Não
tive o cuidado de escolher meus escravos,
Nem de
escolher um companheiro, nem a indumentária
Ou
coisas necessárias a um banido. Não fiquei menos atordoado
Do que
aquele que, Ferido pelos raios de Júpiter ainda vive
E está,
ele mesmo, inconsciente de sua vida.
Quando,
porém, a própria dor removeu esta nuvem do meu espírito,
E,
finalmente, os meus sentidos se restabeleceram, falo,
Pela
última vez antes de partir, aos amigos tristes ,
Que
dentre muitos, há pouco tempo, eram um ou dois.
A minha
afetuosa esposa chorando, abraçava-me, eu que também chorava,
Com
amargura, mais ainda corriam-lhe as lágrimas copiosamente
Pelas
faces não merecedoras disso.
A minha
filha estava longe, afastada pelas plagas da Líbia,
Nem sequer
podia saber do meu destino.
Por
qualquer lugar que olhasse havia um gemido, dentro da casa,
Havia o
aspecto de um sentido funeral: Mulheres, homens, crianças mesmo
Estão
desolados com a minha morte, e na casa, em cada canto há uma lágrima.
Se for
lícito usar de grandes exemplos em pequenas coisas,
Este é
o aspecto de Troia, quando foi tomada.
E já
calavam-se as vozes as vozes dos homens e dos cães,
E a
alta lua dirigia os seus cavalos noturnos. olhando-a
E
observando desde ela o Capitólio,
Que em
vão estava junto ao nosso lar, eu exclamo:
“Ó
divindades habitantes nestes lugares vizinhos e templos que jamais
Serão
vistos por meus olhos, e deuses que deverão ser deixados,
Os
quais possui a soberba cidade de Quirino,
Senti
minha saudação para todo sempre!
E
embora apanhe tarde o escudo após os ferimentos,
Contudo
livrai esta fuga de ódios,
E dizei
ao homem celeste (Augusto) que erro me enganou,
Para
que não pense existir crime em lugar de uma simples falta,
Para que
o autor do meu castigo julgue também o que vós sabeis;
Aplacado
esse deus, posso não ser infeliz.”
Eu pedi
aos deuses com esta prece, a minha esposa com preces mais numerosas,
Entrecortando
o soluço as suas palavras pela metade.’’
Ela
também prostrada ante os deuses lares
Com os
cabelos desgrenhados tocou o fogo extinto com a boca trêmula,
Dirigiu
aos penates adversos muitas palavras,
Que não
valeriam nada em favor do seu deplorado marido.
E já a
noite avançada negava o tempo para a demora,
Em a
Ursa de Parrásia estava desviada de su eixo:
Que
fazer? Eu era retido pelo deoce amor da pátria,
Mas
aquela era última noite da fuga ordenada.
Ah!
Quantas vezes eu disse quando alguém se apressava:
Por que
te apressas?
Vê ou
para onde te apressas a ir, ou de onde vens!
Ah!
Quantas vezes fingi ter uma hora fixada,
Que
fosse própria à viagem projetada.
Três
vezes toquei o limiar, três vezes voltei e o próprio pé,
Indulgente
para com a alma, era lento para mim.
Muitas
vezes, depois de dizer adeus, falei novamente muitas coisas,
E quase
saindo, Dei os derradeiros beijos.
Muitas
vezes dei as mesmas ordens, e eu próprio me enganei,
Olhando
com meus olhos os objetos caros.
Por fim
exclamo: “Por que me apresso? Existe a Cítia para onde eu sou mandado;
Roma
deve ser deixada; uma e outra demora é justa.
A
esposa viva é negada para sempre a mim vivo,
E a
minha casa, e os doces membros da minha fiel casa
E vós
companheiros que amei de modo fraternal,
Ó
corações unidos a mim pela lealdade de Teseu! Enquanto é lícito,
abraçar-vos-ei: Talvez nunca mais seja lícito: a hora que me é dada é de
grande proveito.
E não
há demora; deixo incompletas as palavras de minha conversa,
Abraçando
os que estão próximos do meu coração.
Enquanto
falo e choramos, Lúcifer brilhantíssimo no alto céu,
Estrela
fatal para nós, tinha surgido.
Separo-me
não de outra forma que se deixasse meus membros,
E uma
parte pareceu ser arrancada do seu corpo.
Assim
sofreu Mécio então, quando teve como vingadores de sua traição
Os
cavalos voltamos em direções contrárias.
Então
sim, levantaram-se o clamor e o choro dos meus,
E as
mãos aflitas ferem os peitos nus.
Então
sim a minha esposa, apoiando-se nos ombros do que partia,
Misturou
estas tristes palavras às minhas lágrimas:
“Não
podes ser arrancado de mim! Sairemos daqui juntamente,
Ambos
ao mesmo tempo; seguir-te-ei; esposa de um exilado, exilada serei.
Também
para mim o caminho do exílio foi feito e a longínqua terra me recebe.
Acrescentar-me-ei
como pequena bagagem à embarcação que parte.
A ira
de César ordena que saias da pátria; a mim, o amor conjugal;
Este
amor será César para mim.”
Tentava
tais coisas, assim como tentara antes,
E na
custo deu-se por vencida por causa do nosso interesse.
Saio,
ou melhor, aquilo era como ser levado sem pompa,
Esquálido
com os cabelos pelas faces ásperas
Afirma-se
que ela louca de dor, sobrevindo as trevas,
Semimorta
caiu no meio da casa.
E assim
que acordou com os cabelos sujos de pó imundo
E
levantou do chão os gélidos membros,
Diz-se
que ela ora chorava os penates abandonados,
Ora
chorava muitas vezes o nome do marido perdido.
E não
chorou menos do que se tivesse visto
As
fogueiras erguidas para receber o meu corpo,
E
afirma-se que ela quis morrer e morrendo perder o sentimento
E não
perdeu, contudo, em consideração a mim.
Que
viva! E viva para que console sempre com sua ajuda
Ao marido
ausente, porque assim os fados o quiseram.
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