Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
Universidade de Heidelberg |
Continuando meus comentários sobre a mitologia grega, trago hoje à discussão o papel de "As Três Graças", divindades menores no quadro mitológico do panteão divino da Grécia, mas que tiveram enorme influência sobre os artistas plásticos, mormente os do Renascimento.
As três graças, em grego clássico Χάριτες (Hárites ou Cárites), são
concebidas como a deusa do banquete, da concórdia e do encanto, ou também da
gratidão, da prosperidade familiar e da sorte. Na versão clássica, seriam
filhas de Zeus (Ζεύς) com Eurínome
(Εὐρυνόμη). Seus nomes eram Aglaia ou Aglae (Ἀγλαΐα), Tália (Θάλεια) e Eufrosina (Ευφροσύνη).
Segundo Pausânias, a
mãe das três graças, Eurínome, era cultuada no Peloponeso, onde havia um templo
que lhe era dedicado. Situado próximo a Phigalia, estava em um lugar de muito
difícil acesso. De acordo com alguns historiadores e mitólogos, o nome Eurínome
seria uma designação da deusa Ártemis, a deusa virgem da mitologia grega, protetora
da caça e das florestas, associada também à lua e à magia.
Esse santuário, consagrado à deusa Eurínome, permanecia fechado o ano
todo, abrindo apenas um dia por ano, em uma data fixa; neste dia eram
oferecidos sacrifícios pelo Estado e por indivíduos. Ainda segundo Pausânias,
nesse templo, havia uma estátua da deusa cuja imagem, da cintura para cima
seria de mulher, e da cintura para baixo, de peixe.
Pausânias que foi especialmente geógrafo e a que devemos muitas
informações sobre templos, construções e cidades antigas, pois viveu entre 115
e 180 d. C., não concorda que Eurínome fosse um dos nomes dados a Ártemis,
devido à grande diferença de atributos ente as deusas.
O nome Eurínome significa aquela que governa de longe e sua imagem se
associa sempre ao mar. Foi cultuada em todo o Mediterrâneo, de modo especial,
nas cidades costeiras. Há descrições em que ela é representada como mulher e
serpente da cintura para baixo.
O mito de Eurínome retrata bem a humanidade no período Paleolítico,
quando o ato sexual ainda não era associado à gravidez e as culturas humanas
não tinham conhecimento sobre o papel reprodutor do macho. A humanidade
acreditava que as mulheres geravam os bebês por si próprias, espontaneamente.
Outros criam que elas eram engravidadas ao serem picadas por alguns insetos, ou
por comerem determinados alimentos ou por se exporem ao vento norte ou ao orvalho.
Outros atribuíam a gravidez a banhos em determinados rios.
Em seu mito, Eurínome é o reflexo dessa crença, pois a partir do vento
criou tudo o que existe no planeta. Porém, com o surgimento do culto das
Graças, a devoção à deusa foi perdendo interesse no panteão grego.
Segundo Homero, elas faziam parte da comitiva de Afrodite, por toda a
parte onde essa deusa se dirigisse. Também, por causa de seus encantos e
beleza, seriam também companheiras na comitiva da suprema Hera. Seriam também
dançarinas nas festas elegantes dos deuses no monte Olimpo.
Seriam também confundidas com as musas, devido ao seu ofício de dançar
e terem predileção pelas danças corais. Mesmo quanto ao nome delas não há uma
unanimidade. Na Ilíada de Homero há apenas uma Cárite, Aglaia.
Os nomes mais citados são: Tália, ou seja, a que faz brotar as flores;
Eufrosina, a alegria, esposa e de Hypnos (o deus do sono); e Aglaia, a claridade,
esposa de Hefesto (era o deus da tecnologia, dos ferreiros, artesãos,
escultores e mesmo dos vulcões).
Na mitologia clássica, eram divindades de segunda grandeza, porém foram
grandes inspiradoras dos artistas a partir do renascimento, tendo servido de
inspiradoras de escultores e pintores.
As primeiras representações as reproduziam vestidas, mas consagraram-se
nos principais artistas como jovens desnudas, de mãos dadas, dançado.
Talvez, a pintura mais antiga de "As Três Graças", que chegou até nós seja a que sencontra em um afresco nas ruínas da cidade de Pompeia, atingida pelo Vesúvio, nos primeiros anos da era cristã. mais precisamente, no ano 79 d. C.
As Três Graças. Fresco de Pompeia, cidade destruída em 79 D.C. | por uma erupção vulcânica |
Sandro Botticelli (1445-1510) representa-as em seu famoso quadro “A
Primavera”, junto a outras personagens. A peça encontra-se na Galleria degli
Uffizi, na cidade de Florença, Itália.
A Primavera - Sandro Botticelli |
Já o pintor barroco flamengo Peter Paul Rubens (1577-1640) as apresenta
sós, nuas dançando. O quadro de Rubens encontra-se no Museu do Prado, em Madri,
na Espanha.
As Três Graças. Óleo sobre tela de Pieter Paul Rubens (1577-1640). Museu do Prado, Madrid, Espanha |
Por seu lado, o pintor alemão Lucas Cranach der Ältere (1472-1553) as
reproduz com apenas um colar ao pescoço, sendo que a do meio está de chapéu.
As Três Graças. Óleo sobre tela de Lucas Cranach, o Velho
(1472-1553) – Louvre, Paris, França.
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O pintor italiano Rafael Sanzio (1483-1520) também fez sua reprodução de “As Três Graças”.
Muitas outras muitas representações de "As Três Graças" foram produzidas por célebres artistas em diversos centros culturais. Vejam-se mais os seguintes exemplos:
As Três Graças. Desenho de Rafael (1483-1520). Coleção da rainha de Inglaterra |
As Três Graças. Gravura de Carracci (1557-1602). | Städel, Frankfurt am Main, Alemanha |
As Três Graças. Carle van Loo (1705-1765). Castelo de Chenonceau, França |
As Três Graças. Óleo sobre tela de Hans Baldung (1484-1545).
Museu do Prado, Madrid, Espanha
As Três Graças. Óleo
de Emile Vermon (1872-1920)
As Três Graças. Afresco de Correggio (1489-1534). Mosteiro de São Paulo, Parma, Itália |
As Três Graças coroadas de flores. Litografia de Pablo Picasso (1881-1973 |
As Três Graças. Desenho de Pablo Picasso (1881-1973) |
As Três Graças. Gravura a água forte de Pablo Picasso (1881-1973) |
As Três Graças. Óleo sobre tela de Pablo Picasso (1881-1973) |
Vejamos agora algumas esculturas representado essas divindades gregas:
As Três Graças dos banhos romanos de Cirene, Líbia
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As Três Graças e Cupido. Escultura em mármore de Bertel Thorvaldsen (1770-1844). Museu Thorvaldsen, Copenhaga, Dinamarca |
As Três Graças. Escultura em mármore de Antonio Canova (1757-1822). Hermitage, Sampetersburgo, Rússia |
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