domingo, 6 de setembro de 2015

PLAUTO – GRANDE DRAMATURGO DA LITERATURA LATINA – COMENTÁRIO DE SUA PEÇA ANPHITRUO


Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara


Titus Macius Plautus é um dramaturgo romano muito antigo. Viveu entre o século III e II a.C. Mais precisamente, nasceu em 230 a.C. e faleceu em 180 a.C.
Teve a ventura e desventura de viver no período republicano de Roma (iniciado em 509 a.C. e encerrado com o início do Império Romano, no reinado de Augusto, em 27 a.C.). Foi um período de grandes disputas entre a elite romana representada pelo PO (Partido dos Optimates) e a plebe, representada pelo PP (Partido Popular).
Houve as primeiras paralisações da plebe (uma espécie de greve). Em 494 a.C., houve a primeira paralisação da plebe, na primitiva Roma e assim iniciaram-se as primeiras conquistas sociais. Primeiramente o salarium, uma quota de sal a cada família.
Ocorre que os poderosos tinham seus clientes, os que neles votavam nos pleitos republicanos. Esses recebiam uma refeição diária por conta do nobre senhor a quem estavam vinculados. Essa refeição, gradativamente, foi-se transformando em uma quantia em dinheiro. O sal passou a ser também obrigação do senhor.
Plauto
A segunda conquista foi o código de leis escrito. Até então, as leis eram consuetudinárias. Seguiam antigos costumes. Eram aplicadas pelos sacerdotes que provinham sempre das elites. Somente eles conheciam esse emaranhado de tradições. Surgiu, por exigência da plebe, na paralisação, um código conhecido com Lex Duiodecim Tabularum (Lei das Doze Tábuas). Isso porque foram afixadas, gravadas a fogo, em doze tábuas.
Como o poder na república era exercido por dois indivíduos com poderes iguais, chamados de cônsules, cujo mandato era apenas de um ano, a plebe exigiu participação no poder.
Primeiramente, o senado romano concedeu um representante da plebe no senado. Foi designado como Legatus Populi (tribuno da plebe). A plebe exigiu, então, que ele tivesse o poder de veto sobre os projetos de lei votados na instituição.
Depois, a plebe exigiu uma reforma agrária. Ela demorou quase um século para acontecer, mas, no primeiro século a.C., houve uma comissão agrária liderada pelos irmãos Tibério e Caio Graco, que dividiu todos os latifúndios.
Porém, não foi uma ação pacífica. Primeiramente, o senado provocava guerra após guerra, mantinha os homens no exército, e os assentava em novas províncias conquistadas: Gália (França), Península Ibérica, Germânia.
No entanto, houve um momento em que a reforma agrária atingiu o próprio território da Itália. Todos os latifúndios foram divididos em pequenas propriedades que não podiam exceder a 127 hectares. Houve assassinatos. Os Gracos foram mortos. Mas a reforma ficou.
Veio, então a exigência maior. Um dos cônsules deveria provir da plebe. Sob ameaça de nova paralisação, o senado cedeu e a lei foi aprovada.
Pois Plauto viveu nesse período e escreveu suas peças abordando temas envolvendo temas próprios desse momento. Ele compunha essencialmente peças satíricas, fazendo humor sobre a vida e os conflitos desse tempo.
A lei permitia, por exemplo, que o credor pudesse reduzir a escravo seu devedor até quitar a dívida. Plauto, numa fase da vida, faliu. Assim, tornou-se escravo por dívidas, obrigado a trabalhar como moleiro. Escreveu, sobre esse fato, uma peça de teatro intitulada Captivi. Nela, faz humor sobre a própria situação.
Mas a obra que me parece mais engraçada é Amphitruo (O Anfitrião). Trata-se da história do príncipe Tirinto e sua esposa Alcmena.
Júpiter, o deus supremo na mitologia romana, ao observar o mundo, encantou-se com Alcmena. É preciso salientar que essa divindade, como também ocorria com o Zeus da Grécia, tinha muitos casos amorosos, tanto com deusas como com mulheres.
Como era o deus supremo, metamorfoseou-se no príncipe. Como esse estivesse na guerra, ao entardecer o deus chegou à casa de Alcmena. Essa, saudosa do marido, entregou-se longamente à farsante divindade. E Júpiter prolongou mais e mais a noite para gozar do amor de Alcmena pelo maior tempo possível.
Na porta da residência, estão os guardas que estranham a duração exagerada da noite. Não esqueçamos que não havia relógios. A certa altura, cheio de sono, o chefe da guarda afirma: “ – Nunca vi uma noite tão longa!”
Júpiter ordena a Mercúrio para que se metamorfoseie em um dos guardas da casa do príncipe. Ocorrem cenas hilariantes entre os dois. Por fim, Júpiter se cansa de sua paixão, encerra a noite e se vai.
Ao amanhecer, chega da guerra o marido, sequioso de desejo pela mulher. Essa, cansada de tanto amor com Júpiter, e acreditando ser o marido e o deus da noite anterior a mesma pessoa, grita ao desejoso marido: “ – Pode tirar as mãos de mim!”
Essa dupla situação provoca muitos risos nos espectadores. A leitura mesma da peça é muito agradável pelo humor que envolve.
Plauto, embora tenha vivido há mais de dois mil anos, é ainda muito atual. Suas peças abordam situações hilariantes ainda muito comuns na sociedade moderna. Existe na internet a obra à disposição dos leitores sem custo algum.

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