Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
O designativo de tempo verbal PARTICÍPIO tem esse nome visto
que participa da natureza do adjetivo e do verbo. Para entender melhor, observemos
as ocorrências de particípio passado no soneto “EU”, de Florbela Espanca:
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino, amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
Em perdida, há a força verbal de perder, mas
há também e fortemente a força do modificador adjetival de mulher sem direção,
mulher sem rumo, desviada do caminho, coincidindo parcialmente com o significado de infeliz, triste, melancólica, taciturna, miserável, desditosa, desgraçada, desaventurada, desafortunada, etc. O mesmo ocorre com as demais formas do
particípio presentes no poema: crucificada, a dolorida, esvaecida,
incompreendida. Crucificada traz em si a imagem de triste, aflita,
pesarosa, magoada, calamitosa, deplorável. Seguem os demais particípios no
mesmo tom como é o caso de esvaecida, que significa invisível; e incompreendida
é um adjetivo deverbal dificilmente substituível por outro que não seja também
particípio de verbo, como ignorada, desapercebida, ignorada.
Como se percebe, na prática, é fácil constatar a
dupla natureza do particípio verbal.
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