IMORTAL ASBL

Oscar Brisolara - Imortal da Academia Sul-Brasileira de Letras


Discurso de posse de Oscar Luiz Brisolara na Academia Sul-Brasileira de Letras


Senhoras e senhores acadêmicos, caros amigos que me prestigiam neste momento,

Em não sendo orador, por vezes profiro peças oratórias;

Em não sendo poeta, visita-me, por vezes, a poesia;

Porém, na essência, busco a narrativa. E, dentro deste gênero, garimpo histórias, precisamente as que me chegaram aos ouvidos das formas mais inusitadas, desde as curiosidades surpreendidas nas falas durante a infância, retomadas das narrativas de amigos e conhecidos, até as das classes escolares e as dos livros, muitas...umas surpreendidas no modo como aconteceram, outras reinstauradas no modo como poderiam ter sido ou até mesmo como deveriam ter sido, até mesmo as que nunca foram, mas cuja plausibilidade a existência permite... Dessa intrincada dialética, surgem meus textos, meus livros, e até mesmo, atrever-me-ia a dizer, meu modo de ser no mundo...

Neste momento, sinto-me profundamente agradecido, primeiramente a todos aqueles que me prestigiam neste instante, de modo especial sou grato aos colegas do sodalício acadêmico, que me distinguiram com este convite. Agradeço à presidente desta instituição, ASBL, que engloba os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná;agradeço, digo, à presidente, a psicóloga NEUSA MARILÚ DUARTE. Agradeço, também,à minha madrinha acadêmica, a Profa. Dra. Beatriz Mecking, a quem devo profunda gratidão e um carinho muito especial.

Cumprimentos fraternos a meu colega, neófito comigo nesta instituição, o escritor e advogado GILBERTO STANIESKI FILHO, cuja companhia honra-me sobejamente.

Coube-me a cadeira nº 16, que tem como patrono o ilustre poeta Raul de Leoni, cujo nome e produção literária muito me apraz honrar.

Nascido no Rio de Janeiro, no final do longínquo século XIX, mais precisamente, em 1895, teve curta existência, apenas 31 anos. Porém, isso não lhe impediu uma profícua e prestigiosa produção literária. Dedicou-se, em sua carreira acadêmica, às lides das Ciências Jurídicas, tendo concluído o Curso Livre de Direito, já em 1916, com apenas 20 anos, área em que já atuava desde sua fase estudantil, a partir de 1914.

Nesse ano também, passa a colaborar com a imprensa de modo especial, divulgando seus poemas na afamada revista Fon-Fon, órgão de divulgação dos artistas da época, especialmente pintores e literatos. Seu nome FON-FON é uma onomatopeia da buzina dos automóveis, que começavam a circular em nossas grandes cidades, nesses anos iniciais do século XX.

Publicou também, como constante colaborador, no Jornal do Brasil, no Jornal do Comércio, em O Jornal, O Dia, do RJ, e na prestigiada revista Para Todos, que tinha como escopo a nova arte de então, o cinema.

Além do mais, foi desportista e admirador de esportes e participou de uma prova de natação e remo,tendo sido vencedor, pelo Clube Itaraí.

Outro destaque em suas atuações foi a diplomacia. Fez parte do corpo diplomático brasileiro no Uruguai, tendo-se transferido para Montevidéu em 1918.No entanto, foi em 1919 que publicou seu livro de maior prestígio, “Luz Mediterrânea”.

Quanto a sua participação na literatura brasileira, principia sob os moldes parnasianos, que influíram sua formação acadêmica. Migrou, depois, para o simbolismo cujos moldes pautaram a maior parte de seus poemas, sem jamais deixar de ser um tanto parnasiano. Produzia, de modo especial, sonetos, sob cuja arte e métrica produziu versos perfeitos.

Recebeu também influência filosófica dos modernistas de 1922. Como bom parnasiano, era profundo admirador de Bilac, em honra doqual compôs e dedicou o famoso poema Ode a um poeta morto, publicado em 1919, ano seguinte à morte do Príncipe dos Poetas Brasileiros.

Seus últimos poemas revelam abstrações filosóficas, apresentando modulações simbólicas. Como faleceu muito jovem, sua produção literária foi pequena. Contraiu tuberculose, mal que o levou à morte, em 1926.

De métrica modelar, seus versos revelam, também, grande erudição e cultura. Usa ricas metáforas e povoa seus versos de alusões pertinentes aos mitos gregos clássicos e à história da antiguidade.

VEJA-SE ESTE CLÁSSICO EXEMPLO DE SUA MAGNÍFICA POESIA:

Aos que sonham

Não se pode sonhar impunemente
um grande sonho pelo mundo afora,
porque o veneno humano não demora
em corrompê-lo na íntima semente...

Olhando no alto a árvore excelente,
que os frutos de ouro esplêndidos enflora,
o sonhador não vê, e até ignora
a cilada rasteira da serpente.

Queres sonhar? Defende-te em segredo,
e lembra, a cada instante e a cada dia,
o que sempre acontece e aconteceu:

Prometeu e o abutre no rochedo,
o calvário do filho de Maria
e a cicuta que Sócrates bebeu!

OBRIGADO A TODOS.


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