quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

LITERATURA ALEMÃ - RAINER MARIA RILKE - DEUTSCHE LITERATUR - EINSAMKEIT -





Rainer Maria Rilke


RAINER MARIA RILKE



Die Einsamkeit ist wie ein Regen.
Sie steigt vom Meer den Abenden entgegen;
von Ebenen, die fern sind und entlegen,
geht sie zum Himmel, der sie immer hat.
Und erst vom Himmel fällt sie auf die Stadt.

Regnet hernieder in den Zwitterstunden,
wenn sich nach Morgen wenden alle Gassen
und wenn die Leiber, welche nichts gefunden,
enttäuscht und traurig von einander lassen;
und wenn die Menschen, die einander hassen,
in einem Bett zusammen schlafen müssen:

dann geht die Einsamkeit mit den Flüssen…

Tradução

Solidão

A solidão é como a chuva.
Levanta-se do mar em rumo à lua;
das mais remotas planícies flutua
desejando os céus, seu lar de verdade.
E cai enfim dos céus sobre a cidade.

Chove naquelas horas oscilantes,
quando as ruas o amanhecer encaram,
e quando os corpos frios dos amantes,
tristes e desiludidos, se separam;
quando duas pessoas que brigaram
dividem uma cama contrafeitos:
é quando a solidão flui para os leitos…



Biografia

Rainer Maria Rilke nasceu em Praga, na Boémia, (actual República Checa), então pertencente ao Império Austro-Húngaro, e mudou seu nome, originalmente René, para Rainer.
Rilke fez seus estudos nas universidades de Praga, Munique e Berlim. Em 1894 fez sua primeira publicação, uma coleção de versos de amor, intitulados Vida e canções (Leben und Lieder). Não exerceu nenhuma
profissão, tendo vivido, sempre, à custa de amigas nobres.
Alguns anos depois, em 1899, Rilke viajou para a Rússia a convite de Lou Andreas-Salomé, a escritora e depois psicanalista, filha de um general russo, e que foi sua amante por longos anos. Sua passagem pela
Rússia imprimiu uma inspiração religiosa em seus poemas. Rilke passou a enxergar a natureza, dadas as dimensões e exuberância das paisagens russas, como manifestação divina presente em todas as coisas. Sobre este aspecto publicou em 1900 a coleção Histórias do bom Deus.
Em 1901 casou com Clara Westhoff, da qual logo se separou. O século XX trouxe para a poesia de Rilke um afastamento do lirismo e dos simbolistas franceses com os quais ele se identificara. Em 1905,
publicou O Livro das Horas de grande repercussão à época. Nesta obra, seus poemas já apresentavam um estilo concreto, bem característico desta sua fase.
Em 1902 foi para Paris, onde trabalhou como secretário do escultor Auguste Rodin entre 1905 a 1906. Rodin exerceu grande influência sobre o poema de Rilke, que se reflete em suas publicações de 1907 a 1908.
Quando estourou a Primeira Guerra Mundial, em 1914, Rilke morava em Munique e lá permaneceu durante todo o conflito. Antes de se mudar para Munique, ele viveu na região do Trieste e publicou, em 1913, a A vida de Maria (Das Merien Leben) e iniciou a redação de Elegias de Duíno (Duineser Elegien), texto que só viria a ser publicado em 1923. Duíno era um castelo na região de Trieste, Itália, onde Rilke morou por dois
anos antes da Guerra, a convite da princesa Maria von Thurn und Taxis.
Após o conflito na Europa, Rilke mudou-se para a Suíça, a última de suas pátrias de eleição, onde viveu seus últimos anos.

LA MUSA

(Delmira Agustini - Montevidéu, 24 de outubro de 1886 — idem, 6 de
julho de 1914)
Yo la quiero cambiante, misteriosa y compleja;
con dos ojos de abismo que se vuelvan fanales;
en su boca, una fruta perfumada y bermeja
que destile más miel que los rubios panales.

A veces nos asalte un aguijón de abeja:
úna raptos feroces a gestos imperiales y sorprenda en tu risa el dolor
de una queja;
¡En sus manos asombren caricias y puñales!

Y que vibre, y desmaye, y llore, y ruja, y cante,
y sea águila, tigre, paloma en un instante,
que el Universo quepa en sus ansias divinas.

Tenga una voz que hiele, que suspenda, que inflame,
y una frente que, erguida, su corona reclame ¡de rosas, de diamantes,
de estrellas o de espinas!
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Delmira Agustini nasceu e foi criada em uma família de origem italiana que, apesar de conservadora, mimava-a muito. Seu pai era o uruguaio Santiago Agustini (morto em 1925) e sua mãe, a argentina María Murtfeld Triaca (morta em 1934). Além de compor versos já aos dez anos de idade, Delmira realizou estudos de francês, música e pintura.
Colaborou com a revista La Alborada, bem como na Apolo do poeta Manuel Pérez y Curis. Agustini se tornou parte da chamada Geração de 1900, ao lado de Julio Herrera y Reissig, Leopoldo Lugones e Rubén Darío. Este último ela o considerava seu mestre. Darío chegou a compará-la com Santa Teresa, dizendo que ela era única, desde a santa, a expressar-se como mulher.
Agustini especializou-se na sexualidade feminina em uma época em que o mundo estava dominado pelos homens. Seu estilo pertence à primeira fase do Modernismo, e seus temas tratam da fantasia e de matérias exóticas.
Eros, deus do amor, é a fonte de inspiração para os poemas de Agustini sobre os prazeres carnais, sendo protagonista de muitas obras literárias da escritora. Além disso, Los cálices vacíos (1913), sua terceira obra, foi dedicada a Eros e significou sua entrada ao movimento de vanguarda modernista.
No dia 14 de agosto de 1913, Delmira Agustini contraiu matrimônio com Enrique Job Reyes. Porém, devido às inúmeras desavenças conjugais, ela o abandonou apenas um mês e meio depois, divorciando-se em 5 de junho de 1914. Em julho do mesmo ano, ela morreu assassinada por seu ex-marido, que depois cometeu suicídio.

LOS AMANTES

(JULIO CORTAZAR - 1914 – 1984)


Quién los ve andar por la ciudad
si están todos ciegos?
Ellos se toman de la mano: algo habla
entre sus dedos, lenguas dulces
lamen la húmeda palma, corren por las falanges,
y arriba está la noche llena de ojos.

Son los amantes, su isla flota a la deriva
hacia muertes de césped, hacia puertos
que se abren entre sábanas.
Todo se desordena a través de ellos,
toda encuentra su cifra escamoteada;
pero ellos ni siquiera saben que mientras ruedan en su amarga arena
hay una pausa en la obra de la nada,
el tigre es un jardín que juega.

Amanece en los carros de basura,
empiezan a salir los ciegos,
el ministerio abre sus puertas.
Los amantes rendidos se miran y se tocan
una vez más antes de oler el día.

Ya están vestidos, ya se van por la calle.
Y es sólo entonces
cuando están muertos, cuando están vestidos,
que la ciudad los recupera hipócrita
y les impone los deberes cotidianos.

AMOR

(Delmira Agustini - 1886 - 1914)


Lo soñé impetuoso, formidable y ardiente;
hablaba el impreciso lenguaje del torrente;
era un mar desbordado de locura y de fuego,
rodando por la vida como un eterno riego.

Luego soñélo triste, como un gran sol poniente
que dobla ante la noche la cabeza de fuego;
después rió, y en su boca tan tierna como un ruego,
soñaba sus cristales el alma de la fuente.

Y hoy sueño que es vibrante y suave y riente y triste,
que todas las tinieblas y todo el iris viste,
que, frágil como un ídolo y eterno como Dios,

sobre la vida toda su majestad levanta:
y el beso cae ardiendo a perfumar su planta
en una flor de fuego deshojada por dos....

GOETHE - DA DOVE SIAM NATI?

(Goethe)

 
Da dove siamo nati?
Dall'amore.
Come saremmo perduti?
Senza amore.
Cosa ci aiuta a superarci?
L'amore.
Si può trovare anche l'amore?
Con amore.
Cosa abbrevia il pianto?
L'amore.
Cosa deve unirci sempre?
L'amore.

VICTOR HUGO - À UNE FEMME

(Victor Hugo - 1802 -1885)
Enfant ! si j'étais roi, je donnerais l'empire, Et mon char, et mon
sceptre, et mon peuple à genoux Et ma couronne d'or, et mes bains de
porphyre, Et mes flottes, à qui la mer ne peut suffire, Pour un regard
de vous !

Si j'étais Dieu, la terre et l'air avec les ondes, Les anges, les
démons courbés devant ma loi, Et le profond chaos aux entrailles
fécondes, L'éternité, l'espace, et les cieux, et les mondes, Pour un
baiser de toi !

HOMOSSEXUALIDADE: RELAÇÕES HOMOAFETIVAS MASCULINAS NA ANTIGA GRÉCIA - ONE OLDER MAN’S RELATIONSHIP WITH A YOUNGER MAN

A Sexualidade no Mundo Antigo

As relações homoafetivas masculinas entre os gregos, na antiguidade, eram muito comuns e recebiam o nome de pederastia (παιδεραστία), termo que não possuía a conotação pejorativa que tem hoje. O termo pederasta forma-se de dois elementos mórficos gregos: pedo ou pede, originado da palavra grega (παῖς, παιδός), cuja pronúncia é pais, paidós (nominativo e genitivo singular do termo grego), que significa criança. Desse radical se formam muitos termos como pedagogia, pediatra, pedofilia, etc. O segundo radical é erastés, erastu (ἐραστής, ἐραστοῦ), cujo sentido é amante.

Desde a época arcaica, período concebido entre 880 e 500 a. C., era uma relação entre um jovem adolescente (ἐρώμενος, erōmenos, 'amado’) e um homem adulto que não pertencesse a sua família próxima, que era chamado de (ἐραστής, erastēs, 'amante'). Surgiu como uma tradição aristocrática educativa e de formação moral.

Os gregos considerava esse tipo de relacionamento essencial em sua cultura desde os tempos de Homero. É importante salientar que a diferença de idade entre o erōmenos e o erastēs é paralela à que se dava entre os que contraíam matrimônio: um homem que tivesse em torno de trinta anos contraía matrimônio com uma jovenzinha que tivesse em torno de quinze anos e dezoito anos.

Destaque-se que o erōmenos era um adolescente já entrando na puberdade e não uma criança. Era o que se chamava de amor erótico entre adolescente e adulto. Os gregos consideravam normal que um homem se sentisse atraído pela beleza de um jovem, tanto ou mais que pela beleza e erotismo de uma mulher.

A pederastia ligava-se muitas vezes à tradição atlética dos ginásios em que os exercícios eram feitos em completa nudez. Aliás, o próprio termo ginásio provém do termo nu, em grego (γυμνός, nu). Da mesma forma, o termo palestra provém desses costumes gregos. Palaestra é uma palavra latina derivada do grego (παλαίστρα) que por sua vez deriva do verbo (παλαίω) significando "lutar". De fato, a palestra (como pode ser grafada modernamente) era, na Grécia e na Roma antigas, uma construção que abrigava uma escola de luta corporal. Há quem afirme que esses costumes da nudez atlética, associados, posteriormente às termas romanas, onde os banhos públicos eram praticados também em absoluta nudez estimularam os relacionamentos homossexuais.

Os gregos antigos foram os primeiros a descrever, estudar e sistematizar os hábitos de pederastia entre suas cidades e comunidades. Acreditavam que a pederastia grega havia evoluído dos ritos de iniciação à idade adulta dos indo-europeus, que, por sua vez, provinham das tradições xamanísticas neolíticas. 

Cena de um cortejo pederasta. (Detalhe de um vaso do século V a. C.) O homem com barba está acariciando o outro imberbe, que caracteriza o adolescente.

Segundo outra tradição, a pederastia haveria surgido na antiga ilha de Creta, por volta de 630 a. C., como forma de controle da natalidade, retardando, assim, a idade matrimonial masculina para depois dos 30 anos.

Uma outra teoria, de concepção profundamente machista, que tinha as mulheres como uma categoria inferior, considerava a relação entre pessoas do sexo masculino como relação entre iguais, contrapondo-se à relação com mulheres que seria uma relação com seres inferiores. Uma relação verdadeiramente amorosa somente se daria entre iguais. 
Zeus e Ganimedes. Anton Raphael Mengs. 1758-59

Zeus em forma de águia rapta a Ganimedes
Os primeiros textos literários gregos, especialmente os poemas homéricos, escritos no século IX a. C., não mencionam de forma explícita prática pederástica, embora o mito de Ganimedes encontre-se na Ilíada e apareça também o velado homossexualismo de Aquiles e Pátroclo.

Os gregos foram os primeiros e descrever, estudar e sistematizar os procedimentos homoafetivos masculinos de seus povos. Como a federação grega era formada de cidades-estados independentes, com legislações e costumes um tanto diferenciados, havia também, no que diz respeito à sexualidade masculina, procedimentos diversos.

Na tentativa de explicar a origem da homossexualidade masculina, afirmavam que ela evoluiu dos rituais de passagem para a idade adulta indo-europeus, que, por sua vez, tinham raízes nas tradições xamanísticas neolíticas.

Outros afirmam que esses hábitos teriam surgido na antiga Creta, em torno de 630 a. C., como um meio de controle da natalidade, retardando a idade do matrimônio para depois dos trinta anos.

Uma outra teoria machista afirma que, por considerarem a mulher como ser inferior, o verdadeiro amor somente poderia realizar-se entre dois seres iguais: dois homens, portanto.

A pederastia não se praticava do mesmo modo em toda a Grécia antiga, pois havia uma grande diversidade de formas de acordo com as regiões e o período onde ocorria. Em algumas regiões, como a Beócia, o homem e o rapaz uniam-se formalmente e passavam a conviver como um casal.

Em outras, como em Atenas, mantinha-se uma relação sustentada com presentes. Somente em raros lugares, como na Jônia as relações homossexuais masculinas eram completamente proibidas. Por outro lado, entre os espartanos, as relações homoafetivas praticavam-se de uma maneira quase casta, de tal forma que, um homem livre podia enamorar-se de um jovem,

declará-lo publicamente, cortejá-lo e, se esse o aceitasse, viverem como um casal. Poetas como Teógnis (Θέογνις,Théognis) de Mégara foi um poeta lírico grego do Século VI a. C.) e Anacreonte (Άνακρέων, na Anakréōn (Teos, 563 a. C. - Teos,478 a. C.), foi um poeta lírico grego.) se autodefiniam como pederastas. Anacreonte diferencia-se de Teógnis basicamente por ser defensor do hedonismo, tanto no sentido erótico, quanto na acepção espiritualista do termo.

Sócrates, Platão e Xenofonte descreveram os poderes inspiradores do amor entre varões, embora tenham deixado de lado sua expressão física. Após a morte de Platão, a direção da sua Academia passou de amante em amante. Há também o caso do amor de Sócrates por Alcibíades, que foi amplamente correspondido.

Platão, um convicto defensor do homossexualismo afirma no Diálogo Fedro:
“Pelo que sei, não há maior bênção para um jovem que está começando a viver que um amante virtuoso, ou para um amante, que um jovem amado. Por princípio, digo que nenhum laço, honra, riqueza, nem nenhuma outra coisa é mais digna de implantar-se, do que o amor. De que estou falando? Do sentida da honra e da desonra, sem o qual nenhum estado ou indivíduo poderia ter feito alguma obra grande ou boa. E se pudesse se inventar algo que um estado ou um exército...” (O Banquete, Platão)



ODES ANACREÔNTICAS


Mas tens além disso um temperamento 
medroso, tu que dos rapazes tens o rosto mais belo! 
Que te mantém firmemente em casa 
é o que pensa a tua mãe,
mas tu fugiste...
para os campos cobertos de jacintos,
onde Cípris soltou do jugo
os seus cavalos.
...no meio te lançaste,
..e muitos dos cidadãos
sentiram o coração a esvoaçar.
Eu andava no pugilato com um adversário difícil,
...mas levanto a cabeça...
e devo muita gratidão...
por ter fugido do Amor...
e das suas amarras...
terríveis, por causa de Afrodite.
Que me tragam vinho,
que me tragam água a borbulhar.

Fragmento n° 2

Ó divino – com quem, enquanto percorre
os altos cimos dos montes, folgam
as ninfas dos olhos azuis,
a purpúrea Afrodite
e o indomável Eros –
rogo-te que benévolo
venhas para escutar
minha grata prece.
Infunde sábio conselho
em Cleóbulo: que ele aceite,
ó Dionísio, o meu amor.

Fragmento n° 4

Rapaz de olhar virgíneo,
desejo-te, mas tu m’evitas,
não sabendo que de minha
alma governas as rédeas.

Fragmento n° 5  - Para Safo  
Novamente c’uma toga púrpura
provocando-me, Eros dos cabelos louros
convida-me a brincar junto
d'uma moça de sandálias jaspeadas.
Mas ela – que provém da florida
Lesbos – despreza minha cabeleira
já branca, enquanto, de boca aberta,
fica maravilhada diante d'outra.


Fragmento n° 27

Traz-me água, traz-me vinho, ó rapaz, traz-me coroas
entrelaçadas de flores pois quero lutar com Eros.

Nota: estes dois versos foram encontrados em um mosaico do Século II d. C. no qual há uma figura que representa Anacreonte.
Fragmento n° 43

Eia rapaz, traz-me o cálice
para qu'eu beba d’um alento,
mescla na taça dez partes de água
e cinco de vinho, pois quero
de novo embebedar-me
sem tantas histórias.
Eia, não façamos como
os Cítas que bebem do vinho
entre brigas e gritarias,
mas calmos brindemos entoando
belos cantos em louvor aos deuses.

Fragmento n° 44

Cinzentas já estão minhas
têmporas e branca a cabeça,
já está perdida
a amável juventude
e os dentes têm cáries.
Da doce vida não me resta muito tempo,
por isso me lamento,
temendo o Tártaro horrendo.
Com efeito, é terrível o abismo do Hades
e penoso o caminho dos infernos.
E é certo o dito:
o que caiu não mais se levanta.

BRASÍLIA

J. Antonio d’Ávila
 
Aos homens de couro entregaram o aço, o cristal e o mármore e isso os
deslumbrou! 
Pensavam outra vez brincar de criança, quando viram saltar
de suas mãos humildes e pobres um mundo de formas e coisas fantásticas!
Depois entenderam que tinham um poder. 
Todos sentiam que eram, agora,
em vez de devotos implorando milagres nas cidades incendiadas de sol,
nas estradas de fogo, de ossos e pó, eram eles, agora, os santos, os
santos senhores dos poderes divinos! 
Mas a luz do cristal, a força do
aço, a frieza, a dureza do mármore causavam cansaço e o encantamento
dos santos de couro se apagava, morria, e renascia o anseio de, outra
vez, serem homens. A solidão esmagava! 
Os olhos não viam uma jurema em
flor!... 
E regressaram ao país dos angicos, mas lá já chegaram
estranhos, sem nada entender. 
E ninguém os reconhecia! 
Voltaram, outra vez, para trabalhar nos milagres. 
Então, os milagres surgiram com força
maior. Estrelas enormes cravaram no chão. Pedaços de nuvens amarraram
para sempre no lugar que escolheram. Longas tiras de nada viravam tudo
em suas mãos. 
E as tiras imensas esticaram no espaço. 
Blocos de ar e de água viravam flor, num momento – para sempre! 
Paravam o vento onde bem entendiam e, num instante, com um gesto, lhe davam formato, lhe davam
uma cor. Um deus os guiava. Um deus ordenava que assim tudo fosse. E
assim foi. Onde os santos homens de couro Puseram a mão a vida passou a
existir! 
Um dia chegaram os homens de pano. Eram os donos. Os donos do
aço, do cristal e do mármore. E apenas ficou prometido que, só
transcorridos mil milagres daqueles, os filhos dos filhos de um homem
de couro poderiam ser donos de uma estrela no chão, de uma nuvem
cativa, da água e do ar transformados em flor! 
As cidades incendiadas
de sol, as estradas de fogo, de ossos e de pó, esperam... esperam e
sorriem perversas... 
Elas sabem que os pobres homens de couro custarão
a descobrir: os deuses sabem criar mas não sabem dividir!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

TAGORE - SE ME É NEGADO O AMOR

(Rabindranath Tagore - 1861 - 1941)

Se me é negado o amor, por que, então, amanhece;
por que sussurra o vento do sul entre as folhas recém nascidas?
Se me é negado o amor, por que, então,
A noite entristece com nostálgico silêncio as estrelas?
E por que este desatinado coração continua,
Esperançado e louco, olhando o mar infinito?

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

ALEXANDER PUSHKIN - O HOMEM QUE OUTRORA FUI...

(Alexander Pushkin - 1799-1837 - São Petersburgo)
Foto: O HOMEM QUE OUTRORA FUI... (Alexander Pushkin - 1799-1837 São Petersburgo)
O homem que outrora fui, o mesmo ainda serei:
leviano, ardente. Em vão, amigos meus, eu sei,
de mim se espere que eu possa contemplar o belo
sem um tremor secreto, um ansioso anelo.
O amor não me traiu ou torturou bastante?
Nas citereias redes qual falcão aflante
não me debati já, tantas vezes cativo?
Relapso, porém, a tudo eu sobrevivo,
e à nova estátua trago a mesma antiga oferenda...

O homem que outrora fui, o mesmo ainda serei:
leviano, ardente. Em vão, amigos meus, eu sei,
de mim se espere que eu possa contemplar o belo
sem um tremor secreto, um ansioso anelo.
O amor não me traiu ou torturou bastante?
Nas citereias redes qual falcão aflante
não me debati já, tantas vezes cativo?
Relapso, porém, a tudo eu sobrevivo,
e à nova estátua trago a mesma antiga oferenda...

LESBIANISMO:SAPHO (Σαπφώ) Século VII a. C. - PRIMEIRA POETISA LÉSBICA NA LITERATURA OCIDENTAL - SAPPHO, THE FIRST LESBIAN POET IN WESTERN LITERATURE.


   
   Sapho, prefiro esta grafia, embora se costume grafar Safo em português, foi importante escritora grega. Dedicou-se, de maneira especial à poesia lírico-amorosa. Nasce na ilha de Lesbos, na cidade de Mitilene, onde viveu e teve uma escola de poesia, música e dança para meninas.

   Lesbos foi importante centro cultural e econômico da Grécia antiga. Situa-se no Mar Egeu, bem próxima à costa da atual Turquia. É a terceira maior ilha grega e a sétima maior do mar Mediterrâneo. Tem hoje em torno de noventa mil habitantes.

   Nesse período de cidades-estados, Mitilene, onde vivia Sapho, era um centro de cultura e de ideias novas. Lá também viveu o célebre poeta e político grego Alceu, que muitos afirmam ter sido pretendente de Sapho. O termo "lésbica" é derivado do nome dessa ilha grega, mais precisamente em razão da poetisa Sapho que, segundo se afirma, teria preferências amorosas por amigas e meninas. Safo (em grego: Σαπφώ, Sapphō) foi uma poetisa grega que viveu na cidade lésbia de Mitilene, ativo centro cultural no século VII a.C.. Nascida entre 630 e 612 a. C., foi muito respeitada e apreciada durante a antiguidade, sendo considerada a décima musa. No entanto, sua poesia, devido ao conteúdo erótico, sofreu censura na Idade Média por parte dos monges copistas, e o que restou de sua obra foram escassos fragmentos.
Oscar Brisolara

A escola de Safo - o amor em Lesbos
SAFO, 1890 POR GUSTAV KLIMT (1862-1918, AUSTRIA)

   Concebeu, a poetisa de Lesbos, Safo, uma escola para moças, onde lecionaria a poesia, dança e música - considerada a primeira "escola de aperfeiçoamento" da história. Ali as discípulas eram chamadas de hetairai (amigas) e não alunas.

   A mestra apaixona-se por suas amigas, todas. Dentre elas, aquela que viria a tornar-se sua maior amante, Atis - a favorita - que descrevia sua mestra como vestida em ouro e púrpura, coroada de flores. Mas Atis apaixona-se por um moço e, com ciúmes, Safo dedica-lhe os versos:

"Semelhante aos deuses parece-me que há de ser o feliz
mancebo que, sentado à tua frente, ou ao teu lado,
te contemple e, em silêncio, te ouça a argêntea voz
e o riso abafado do amor. Oh, isso - isso só - é bastante
para ferir-me o perturbado coração, fazendo-o tremer
dentro do meu peito!
Pois basta que, por um instante, eu te veja
para que, como por magia, minha voz emudeça;
sim, basta isso, para que minha língua se paralise,
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
a incendiar-me as entranhas.
Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas
soa-me aos ouvidos;
o suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor (…)

A aluna foi retirada da escola por seus pais, e Safo escreve que "seria bem melhor para mim se tivesse morrido".

A morte controversa

   Tantos milênios se passaram após a vida desta figura feminina excepcional, em cuja glória e desprezo tanto se tem falado e escrito. Sua arte é de tal forma inquestionável, que Platão a classificou entre os dez maiores poetas gregos. Na Grécia antiga, Assim como Homero era conhecido como "o Poeta", Safo era conhecida como "a Poetisa". Sua poesia era considerada das mais sublimes. Dentre os gregos que lhe foram contemporâneos e pósteros, Safo era considerada uma dos chamados "Nove Poetas Líricos".

   Estrabão escrevera que "Safo era maravilhosa pois em todos os tempos que temos conhecimento não sei de outra mulher que a ela se tenha comparado, ainda que de leve, em matéria de talento poético."

   Porém, não lhe faltaram críticos, de modo especial no que se refere a sua personalidade. Em 1073 suas obras, junto com as de Alceu, foram queimadas em Constantinopla e em Roma. Mas foram redescobertas poesias dela em 1897. Safo foi chamada de "cortesã" (prostituta), por Suidas, estudioso grego do século X p. C.. E contavam que havia se suicidado pulando de um precipício na ilha de Leucas, apaixonada pelo marinheiro Faonte - fato que é descrito também em Menandro, Estrabão e Ovídio. Mas há consenso de que isto seja verdadeiramente mítico.

   Escritos sobreviventes dão Safo como tendo atingindo a velhice, e o certo é que não se sabe como nem quando ela morreu, sendo considerada por alguns a maior de todas as poetisas.

   Foi tão importante, mesmo na técnica poética, que criou um tipo de estrofe conhecida como estrofe sáfica ou versos sáficos. Trata-se de uma estrofe mista composta de três versos hendecassílabos e um quarto pentassílabo.


Exemplo de estrofes sáficas neste “Hino a Afrodite”:


Safo - Hino a Afrodite
Afrodite imortal de faiscante trono
filha de Zeus tecelã de enganos peço-te:
a mim nem mágoa nem náusea domine
Senhora o ânimo

Mas aqui vem - se há uma vez
a minha voz ouvindo de longe
escutaste e do pai deixando a casa
áurea vieste

atrelado o carro. Belos te levavam
ágeis pássaros acima da terra negra
contínuas asas vibrando vindos do céu
através do ar,

e logo chegaram. Tu ó venturosa
sorrindo no rosto imortal indagas
o que de novo sofri, a que de novo
te evoco,

o que mais desejo de ânimo louco
que aconteça. "Quem de novo convencerei
a acolher teu amor?" "Quem, Safo, te faz sofrer?"

"Se bem agora fuja, logo te perseguirá,
se bens teus dons recuse, virá te dar,
se bem não ame, logo amará - ainda que
ela não queira."

Vem junto a mim ainda agora, desfaz
o áspero pensar, perfaz quanto meu ânimo
anseia ver perfeito. E tu mesma - sê
minha aliada.

(Tradução de Jaa Torrano)


Verso sáfico em língua grega:
Ωδή της Αφροδίτης
« ποικιλόθρον' ἀθανάτ' Αφρόδιτα,
παῖ Δίος δολόπλοκε, λίσσομαί σε,
μή μ' ἄσαισι μηδ' ὀνίαισι δάμνα,
πότνια, θῦμον,

ἀλλὰ τυίδ' ἔλθ', αἴ ποτα κἀτέρωτα
τὰς ἔμας αὔδας ἀίοισα πήλοι
ἔκλυες, πάτρος δὲ δόμον λίποισα
χρύσιον ἦλθες

ἄρμ' ὐπασδεύξαισα, κάλοι δέ σ' ἆγον
ὤκεες στροῦθοι περὶ γᾶς μελαίνας
πύπνα δίννεντες πτέρ' ἀπ' ὠράνωἴθε-
ρος διὰ μέσσω.

αἶψα δ' ἐξίκοντο, σὺ δ', ὦ μάκαιρα,
μειδιαίσαισ' ἀθανάτωι προσώπωι
ἤρε' ὄττι δηὖτε πέπονθα κὤττι
δηὖτε κάλημμι

κὤττι μοι μάλιστα θέλω γένεσθαι
μαινόλαι θύμωι. τίνα δηὖτε πείθω
ἄψ σ' ἄγην ἐς σὰν φιλότατα;τίς σ', ὦ
Ψάπφ', ἀδικήει;

καὶ γὰρ αἰ φεύγει, ταχέως διώξει,
αἰ δὲ δῶρα μὴ δέκετ',ἀλλὰ δώσει,
αἰ δὲ μὴ φίλει, ταχέως φιλήσει
κωὐκ ἐθέλοισα.

ἔλθε μοι καὶ νῦν, χαλέπαν δὲ λῦσον
ἐκ μερίμναν, ὄσσα δέ μοι τέλεσσαι
θῦμος ἰμέρρει, τέλεσον,σὺ δ' αὔτα
σύμμαχος ἔσσο. »

. Antigo busto grego de Safo, século 5 a.C. A inscrição "ΣΑΠΦΩ ΕΡΕΣΙΑ" diz: "Safo,
 a eresiana" Museu Capitolino, Roma, Itália.


PEQUENA ANTOLOGIA DE SAFO

Contemplo Como o Igual dos Próprios Deuses
Contemplo como o igual dos próprios deuses
esse homem que sentado à tua frente
escuta assim de perto quando falas
com tal doçura,

e ris cheia de graça. Mal te vejo
o coração se agita no meu peito,
do fundo da garganta já não sai
a minha voz,

a língua como que se parte, corre
um tênue fogo sob a minha pele,
os olhos deixam de enxergar, os meus
ouvidos zumbem,

e banho-me de suor, e tremo toda,
e logo fico verde como as ervas,
e pouco falta para que eu não morra
ou enlouqueça.



Para Anactória
A mais bela coisa deste mundo
para alguns são soldados a marchar,
para outros uma frota; para mim
é a minha bem-querida.

Fácil é dá-lo a compreender a todos: 
Helena, a sem igual em formosura, 
achou que o destruidor da honra de 
Tróia 
era o melhor dos homens, 

e assim não se deteve a cogitar 
em sua filha nem nos pais queridos: 
o Amor a seduziu e longe a fez 
ceder o coração. 

Dobrar mulher não custa, se ela pensa 
por alto no que é próximo e querido. 
Oh não me esqueças, Anactória, nem 
aquela que partiu: 

prefiro o doce ruído de seus passos 
e o brilho de seu rosto a ver os carros 
e os soldados da Lídia combatendo 
cobertos de armadura.


Quando eu te Vejo
Quando eu te vejo, penso que jamais
Hermíone foi tua semelhante; 
que justo é comparar-te à loura Helena, 
não a qualquer mortal;

oh eu farei à tua formosura 
o sacrifício dos meus pensamentos, 
todos eles, eu digo, e adorar-te 
com tudo quanto eu sinto.


O Amor
O amor, esse ser invencível, doce e
sublime 
que desata os membros, de novo me
socorre. 

Ele agita meu espírito como a avalanche 
sacode monte abaixo as encostas. 
Lutar contra o amor é impossível, pois como 
uma 
criança faz ao ver sua mãe, voo para ele.

Minha alma está dividida: algo a detém
aqui, 
mas algo diz a ela para no amor viver...


As Rosas de Piéria
E morta jazerás: de ti
não restará lembrança, em tempo algum, 
nem mesmo compaixão jamais despertarás: 
nas rosas de Piéria não tiveste parte.

Desconhecida até na casa de Hades, 
errante esvoaçarás em meio a obscuros mortos.



A Lua já se Pôs 
A lua já se pôs, 
as Plêiades também: 
meia-noite; foge o 
tempo, 
e estou deitada 
sozinha.


Para Mnesídice
Com as meigas mãos, ó Dice,
trança ramos de aneto, 
e põe essa coroa 
em teus cabelos:

fogem as Graças 
de quem não tem grinalda, 
mas felizes acolhem 
quem se enfeita de flores.


Como a Doce Maçã 
Como a doce maçã que rubra, muito
 rubra, 
lá em cima, no alto do mais alto ramo 
os colhedores esqueceram; não, 
não esqueceram, não puderam atingir.



Palavras de Alceu a Safo
Ó cheia de pureza,
ó Safo coroada de violetas 
que docemente ris:

eu te diria de bom grado certa coisa, 
se não fosse a vergonha que me impede.

Resposta de Safo a Alceu 
Se quisesses tão só o bom e o belo, 
se em tua boca más palavras não 
tramasses, não haveria essa vergonha nos teus 
olhos 
e poderias exprimir-te francamente.


Para Átis
Nossa amada Anactória está morando,
ó Átis, na longínqua Sárdis, 
mas sempre volta o pensamento para cá,

lembrando como antes nós vivíamos, 
ela a julgar-te alguma deusa 
e teu canto a causar-lhe puro enlevo.

Ela resplandece agora em meio às lídias, 
como depois de o sol se pôr 
brilha a lua dos dedos como rosas

no meio das estrelas que a rodeiam, 
e então derrama a sua luz 
no mar salgado e no florido campo,

enquanto o orvalho paira pela relva 
e tomam novo alento as rosas, 
o suave cerefólio e o trevo em flor.


Eu Vos Rogo, ó Cretenses 
Eu vos rogo, ó cretenses, vinde ao
templo: ao redor há um bosque de 
macieiras, 
e dos altares sempre se levanta 
o odor do incenso.

Aqui a água fria rumoreja calma, 
em meio aos ramos; cobre este 
lugar 
uma sombra de rosas; cai o sono 
das folhas trêmulas. 

Aqui num campo onde os cavalos 
pastam 
desabrocham as flores do carvalho 
e os anetos exalam seu aroma 
igual ao mel. 

Apanhando grinaldas, vem, ó Cípris, 
e dá-me um pouco desse claro 
néctar 
que tão graciosa serves para a festa, 
em taças de ouro.


"Na época de Safo" obra de John William Gkontgouarnt Museu J. Paul Getty (1904)

Sappho and Alcaeus by Lawrence Alma-Tadema. On view at The Walters Art Museum
Dipinto pompeiano detto Saffo

θῦμος ἰμέρρει, τέλεσον· σὺ δ' αὔτα σύμμαχος ἔσσο

Safo saltando al mar desde el promontorio leucadio, por Théodore Chassériau, c. 1840

Sappho geht zu Bett Charles Gleyre (1867)