domingo, 29 de junho de 2014

XANTIPA, ESPOSA DO FILÓSOFO GREGO SÓCRATES - XANTHIPPE, WIFE OF GREEK PHILOSOPHER SOCRATES


 Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
 Sócrates e Xantipa


     A história de Xantipa é muito controvertida, levando em especial consideração o mito que envolve a vida de seu marido, sendo ele, embora nada tendo escrito, talvez o filósofo de maior prestígio do ocidente.

Xantipa, esposa de Sócrates

     Esse era o nome de uma das esposas do filósofo Sócrates, mãe de três de seus filhos: Lamprocles, Sofronisco, e Menexeno. Porém, mesmo isso não é ponto pacífico. Segundo Aristóteles, citado por Diógenes Laércio, Sofronisco e Menexeno eram filhos de sua segunda esposa Myrto, filha de Aristides, conhecido apenas como o justo. 

      Segundo uma tradição, Xantipa era muito mais jovem do que o filósofo ateniense, em torno de quarenta anos, como querem alguns. O filósofo ateniense teria contraído núpcias na velhice. Não há datas precisas, mas chega-se a afirmar que se teria casado com a jovem Xantipa quando ele já se aproximava dos sessenta anos.

     Etimologicamente, o nome Xantipa significa cavalo loiro (ξανθός = loiro + ἵππος, -ου = cavalo). Os nomes em que aparece o radical ἵππος em grego clássico relacionam-se às famílias aristocráticas. Assim Hipócrates, que significa domador de cavalos; Filipos (Filipe), amigo, amante dos cavalos, apenas designam nomes de indivíduos pertencentes à aristocracia grega.

     Ainda conforme Aristóteles, Sócrates teve duas esposas, a primeira seria Xantipa ou Xântipe e a segunda, Myrto. Diógenes Laércio afirma que, pela falta de homens em Atenas, devido a sucessivas guerras, permitiu-se aos homens que já tivessem um casamento, que viessem a ter filhos com uma segunda mulher. Essa lei teria permitido a Sócrates possuir duas esposas ao mesmo tempo.

     De acordo com Platão no Diálogo Fédon, Xantipa aparece como sendo não mais que uma mulher devotada e mãe de família (60a-b, 116b). Xenofonte concorda com Platão, quando a menciona em sua obra Memorabília (2.2.7-9), ressalvando, no entanto, que o filho dela Lamprocles reclamava do temperamento extremamente rígido da mãe. 


Platão e Aristóteles

     Em Xenófanes, porém, na obra Symposium, ela aparece como "a pessoa mais difícil de se relacionar de todas as mulheres que existem" (cf, 2.10). Há ainda outra tradição segundo a qual Sócrates a teria escolhido por seu espírito argumentativo, que o levaria a questionar muitos princípios. 
Diógenes Laércio
     Ainda, conforme afirma Diógenes Laércio, Sócrates dizia que vivia com uma mulher desse feitio da mesma forma que os cavaleiros gostam de cavalos fogosos e "do mesmo jeito que, quando conseguem domá-los, podem facilmente dominar o resto, também eu, na companhia de Xantipa, hei de aprender a adaptar-me ao resto da humanidade." 
Cícero - orador romano 
     Cícero, por sua vez, conta uma anedota que contesta a suposição de que a excepcional temperança de Sócrates era uma decorrência natural de sua constituição. Um fisionomista chamado Zópiro, capaz de discernir o caráter de um homem a partir de sua aparência física, enumerou diversos vícios para os quais Sócrates teria uma inclinação. Seus companheiros ridicularizaram as afirmações, pois jamais haviam visto qualquer traço de vício em Sócrates. Porém, Sócrates confirmou a interpretação de Zópiro, dizendo que tinha, de fato, uma tendência natural para cair nos vícios enumerados, mas que os tinha afastado de si com a ajuda da razão. (Cícero, Tusculanoe Disputationes).

     Entre o número dos que a criticam, está o orador romano Claudius Elianus que a retrata como mulher extremamente ciumenta. Nesse sentido, narra um fato de certa ocasião em que o filósofo recebera um bolo de Alcibíades. Xantipa teria jogado o bolo ao chão e pisado sobre ele. Nesse particular, é preciso esclarecer o relacionamento pessoal entre Sócrates e Alcibíades. Sócrates, como resposta à atitude dela, teria dito que por virtude eles se privariam dos sabores do bolo.

     Essa situação tem de ser analisada à luz dos costumes gregos dessa época. Era comum, entre gregos e romanos, um senhor mais velho ter um jovem amante. Esse era o relacionamento entre o filósofo ateniense e o lindo jovem loiro de cabelos crespos. Sócrates, em batalha pela defesa de Atenas, teria até mesmo arriscado a própria vida, para salvar Alcibíades que caíra ferido no campo de batalha e o carregado às costas para um lugar seguro.


Sócrates e Alcibíades
     De Alcibíades afirma-se também: “O «menino terrível» do século, que se lança em todas as causas perdidas com a insolência da sua beleza fatal. Filho de família, menino mimado, pupilo de Péricles, que deposita nele todas as suas esperanças, amado por Sócrates até ao desespero, rompe todos os cordões umbilicais e entra na política como quem entra na Comédie Française, para aí desempenhar todos os papéis: o conspirador, o vira-casacas, a quinta-coluna, caudilho, o homem providencial, o dirigente de massas, o herói, o traidor e, apesar de tudo, o galã. As relações amorosas, filiais pedagógicas, mas sempre tempestuosas, entre Sócrates e Alcibíades eram um conhecido motivo de troça, mas também de reflexão: «Pode a 'virtude' transmitir-se?» Elas passaram a constituir um dos filões da literatura socrática: para além de dois diálogos que nos foram transmitidos (dos quais só o primeiro pode ser atribuído a Platão), havia pelo menos mais dois Alcibíades, o de Ésquines e o de Euclides.”(1)


Historiador e militar grego
     No que diz respeito à opinião de Xenofonte sobre Xantipa, afirma-se ainda: “O machista de Xenofonte (Memoráveis, II, 7, Banquete, II, 10) faz dela uma megera rabugenta, e imagina-se um marido que suporta estoicamente as lamentações perpétuas ou que se refugia no ginásio para escapar às discussões dessa matrona. A galanteria de certos historiadores contemporâneos veio em seu socorro, mais por boa vontade, diga-se, do que propriamente com base em testemunhos, alegando circunstâncias atenuantes ou afirmando que a lenda do seu mau gênio se devia à maledicência de Antístenes (cf. Banquete, de Xenofonte), sem dúvida ele próprio bastante rabugento. Seja como for, Sócrates casara, para bem ou para mal, em todo o caso bastante tarde (415?), e certamente não foi o marido exemplar que uma jovem poderia esperar, mesmo sendo ateniense. Tiveram três filhos (Lâmproco, Sofronisco e Menexeno), o mais novo dos quais era ainda de tenra idade por altura do processo (cf. Fédon, 60 a). Boatos contraditórios atribuem a Sócrates uma outra esposa, uma certa Mirto, que ele teria tido antes, depois ou simultaneamente.”(2) 

     Pedro Carlos Louzada Fonseca, professor da Universidade Federal de Goiás, em artigo intitulado “Christine dé Pizan et le Livre La Cité des Dames: Pontos de Releitura da Visão Tradicional da Mulher” disponível em: (3) afirma: “Essa mulher, digníssima esposa de Sócrates, não só o incentivou na filosofia, mas o acompanhou como intemerata e amorosa esposa até à sua morte, arrancando-lhe o cálice de cicuta das mãos... E, citando Pizan: “Toda encharcada e lágrimas e prantos, dirigiu-se ao palácio, batendo o peito de dor, onde haviam prendido seu marido. Ela o encontrou no meio daqueles juízes indignos que já lhe haviam dado o veneno que iria abreviar seus dias. Ela chegou no momento em que Sócrates levava o cálice aos lábios. Precipitou-se até ele e arrancou-lhe o cálice das mãos, derrubando tudo ao chão." (PIZAN, 2006, p. 238).

     Talvez outra obra que tenha contribuído para a imagem negativa que se tem de Xantipa seja o diálogo de Erasmo de Roterdam “La femme mécontente de son mari” (A mulher infeliz com seu marido) que aborda a vida da esposa de Sócrates e traz diálogos dela com uma amiga, abordando a vida conjugal.

      Christopher Charles Taylor, em sua obra Sócrates, comenta: “Seu estilo de vida ascético era provavelmente mais a expressão de uma postura filosófica do que a evidência de uma pobreza real. Sua esposa era Xantipa, celebrada por Xenofonte e outros (embora não por Platão) por seu temperamento irascível. O casal teve três filhos, dois deles crianças pequenas à época da morte de Sócrates; obviamente o gênio difícil de Xantipa, se a descrição é verdadeira, não impediu que as relações conjugais continuassem até a velhice de Sócrates. Uma tradição posterior, pouco confiável, implausivelmente atribuída a Aristóteles, menciona uma segunda esposa, chamada Mirto, com quem o casamento é alternadamente descrito como anterior, posterior ou simultâneo ao casamento com Xantipa.” (TAYLOR, 2010, p. 12).

     Há uma narrativa também consagrada sobre a relação entre Sócrates e Xantipa. Nela se afirma que a esposa insultava e reclamava do marido enquanto ele prosseguia impassivelmente suas exortações aos discípulos. Eis que, de repente, ela joga uma jarra de água sobre o esposo. Ele apenas responde: Depois da trovoada, vem a chuva.

     Talvez Xantipa não tenha sido a megera que muitos autores afirmam. Foi, pelo contrário, uma mulher decepcionada com um homem que, em lugar de buscar a riqueza, dedicava-se à educação da juventude. Por fim, é condenado à morte e não foge à condenação. Numa visita ela teria afirmado: Mas tu és inocente. E ele teria perguntado: Querias que eu fosse culpado? A condenação do esposo deixa-a jovem, com filhos pequenos para criar.

Bibliografia:



Diógenes Laércio, Dos Homens e suas Ideias. Coimbra: IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA, 2013.

Platão. Fédon. Lisboa: Guimarães, 2010. 

Taylor Christopher Carl. Sócrates. Porto Alegre, L&PM, 2012.

XENOFONTE. Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates. Tradução de Líbero Rangel de Andrade. São Paulo, SP: Abril Cultural, 1972. (Coleção Os Pensadores).

sexta-feira, 27 de junho de 2014

JORNALISTA RODRIGO CASARIN COMENTA LIVRO "SANCTA LUCREZIA DEI CATTANEI" NA REVISTA "AVENTURAS NA HISTÓRIA", DA EDITORA ABRIL, EM ARTIGO SOBRE A PRESENÇA DA FAMÍLIA BÓRGIA NO VATICANO

REVISTA "AVENTURAS NA HISTÓRIA", DA EDITORA ABRIL, JULHO DE 2014 (9 fotos)
REVISTA "AVENTURAS NA HISTÓRIA", DA EDITORA ABRIL, DE JULHO DE 2014, CITA AUTOR E OBRA "SANCTA LUCREZIA DEI CATTANEI". QUE HONRA! E EU NEM SABIA!
Não fosse minha querida ex-aluna Luciana D'Ávila, talvez nem ficasse sabendo.







SANTA LUCREZIA DEI CATTANEI - COMENTÁRIO NA REVISTA "AVENTURAS NA HISTÓRIA" DA EDITORA ABRIL




O ARTIGO INTITULA-SE: SEXO E ESCÂNDALO: OS BÓRGIA NO VATICANO


     Estou muito feliz com a notícia que acabo de receber de minha querida ex-aluna Luciana D'Ávila: Oi Querido Professor! Hoje quando abri a Revista Aventuras na História (Edição 132-JULHO 2014) tive uma surpresa muito boa. O senhor foi mencionado na reportagem "Sangue, sexo e poder-Como a família Bórgia dominou a Igreja Católica com truculência e impôs um estilo de devassidão e violência em Roma." Não sei se o professor já sabia, mas o seu livro foi sugerido para os leitores aprofundarem os conhecimentos sobre a figura enigmática de Lucrécia. Abraços! Boa semana!



Oi Profe! É desse mês, acredito que está nas bancas. Beijão!!! Obs: No link abaixo está a capa da revista. https://www.facebook.com/photo.php?fbid=896892566993689&set=a.515412995141650.140842.515411265141823&type=1&theater - OBRIGADÍSSIMO, LUCIANA. 





Esta é a capa da edição de julho da revista Aventuras na História!


"ALLAN KARDEC E O ESPIRITISMO - Como o Brasil se tornou o país com o maior número de seguidores da doutrina em todo o planeta"

O ARTIGO QUE COMENTA MEU LIVRO É: SEXO E ESCÂNDALO: OS BÓRGIA NO VATICANO

Leia também:

- Igreja: Os Bórgia conquistam o papado
- Primeira Guerra: Os legados do confito
- Como fazíamos sem... direitos trabalhistas
- Foto-história: A camisa do imperador mexicano
- Lista: Como identificar uma bruxa

R$ 14

É assinante? Veja sua data de entrega aqui: http://bit.ly/data-assinante
Quer assinar a revista? Acesse: http://abr.ai/K8OpdI
— com Ione Potiguar.

terça-feira, 24 de junho de 2014

EM O PEIXEIRO, OSCAR BRISOLARA - reportagem de Bruno Kairalla

AS HISTÓRIAS QUE A HISTÓRIA NÃO CONTA: 

Professor – mestre e doutor em Linguística – e escritor, Oscar Luiz Brisolara, chega aos 67 anos próximo de lançar: Dos Segredos de Eva Braun: Revelações inusitadas do sul do Brasil. 
Mas, nem só dos relatos da Segunda Guerra Mundial trata a segunda obra do escritor, que também aborda os conflitos históricos ocorridos no RS. “É um livro diferente sobre as histórias de guerra, das revoluções. Ele não fala sobre a história geral, mas de pequenas histórias; aquilo que ficou presente na memória ou também nas impressões de alguns falantes; daquilo que elas ouviram ou participaram”, aponta Oscar. Leia mais: http://bit.ly/1kMyUYG
Fonte:http://pt.calameo.com/read/000337975e2d91a5a4bb0

quarta-feira, 18 de junho de 2014

TARDE DA POESIA NO ASILO DE RIO GRANDE

DECLAMAÇÃO - OSCAR BRISOLARA - ASILO DE RIO GRANDE

DECLAMAÇÃO NO ASILO - D. CONSUELO, 92 ANOS


O outro poema que Dona Consuelo recitou e a biografia de Júlio Dinis

Havia desligado a câmera, mas, em tempo, consegui filmar. A filmagem toma o poema na terceira estrofe, mas Dona Consuelo o recitou na íntegra.

 
A Esmola do Pobre 
               Júlio Dinis

Nos toscos degraus da porta
Da igreja rústica e antiga,
Velha, trêmula era a mendiga,
Que implorava compaixão.
Quase um século contado
De atribulada existência,
Ei-la, enferma e na indigência,
Que à piedade estende a mão.

Duas crianças brincavam
À distância, na alameda;
Uma trajava de seda,
Da outra humilde era o trajar.
Uma era rica, outra pobre;
Ambas louras e formosas;
Nas faces a cor das rosas,
Nos olhos o azul do ar.

A rica ao deixar os jogos,
Vencida pelo cansaço,
Viu a mendiga, e ao regaço
Uma esmola lhe lançou;
Ela recebeu-a, e a criança
Que a socorre compassiva
Em prece fervente e viva
Aos anjos a encomendou.

Dum ligeiro sentimento
De vaidade possuída,
À criança mal vestida
Disse a do rico trajar:
-O prazer de dar esmolas
-A ti e aos teus não é dado
-Pobre como és, coitado!
-Aos pobres o que hás-de dar?

Então a criança pobre,
Sem mais sombra de desgosto,
Tendo o sorriso no rosto,
Da igreja se aproximou;
E depois, serena, em silêncio,
Ao chegar junto da velha,
Descobrindo-se, ajoelha
E a magra mão lhe beijou.

A mendiga alvoroçada,
Ao colo os braços lhe lança,
E beija a pobre criança,
Chorando de comoção.
É assim que a caridade
Do pobre ao pobre consola,
Nem só da mão sai a esmola,
Sai também do coração.

 

Júlio Dinis

Joaquim Guilherme Gomes Coelho, que no período mais brilhante da sua carreira literária usou o pseudônimo de Júlio Dinis, nasceu no Porto, em1839, e morreu na mesma cidade, em 1871.
Era filho de um cirurgião. Sua mãe, de ascendência anglo-irlandesa, morreu vitimada pela tuberculose quando Júlio Dinis contava apenas seis anos de idade. Frequentou a Escola Politécnica e Escola Médico-Cirúrgica do Porto, cujo curso completou em 1861, com alta classificação. Posteriormente a sua saúde foi-se agravando, pelo que foi obrigado a recolher-se em Ovar e depois na Madeira e a interromper a possibilidade de exercer a sua profissão. Durante esses tempos, dedica-se à literatura. Mais tarde (1867), foi incluído como demonstrador e lente substituto no corpo docente da Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Já então sofria de tuberculose. E com quase trinta e dois anos apenas, morreu desta doença, que já havia vitimado a mãe e que foi a causa da morte de todos os seus oito irmãos.
Seu romance «As Pupilas do Senhor Reitor» foi publicado em 1869, tendo sido adaptado para o teatro e o cinema e também publicado em folhetins do Jornal do Porto.
Com apenas 31 anos de idade, publicou-se o romance «Os Fidalgos da Casa Mourisca». Foi o criador do romance campesino e as suas personagens, tiradas, na sua maioria, de pessoas com quem viveu ou contactou na vida real, estão imbuídas de tanta naturalidade que muitas delas são ainda hoje familiares. É o caso da tia Doroteia, de «A Morgadinha dos Canaviais», inspirada em uma tia.
Júlio Dinis é considerado um escritor de transição entre o Romantismo e o Realismo.
Além deste pseudônimo, Júlio Dinis usou também o de Diana de Aveleda, com que assinou pequenas narrativas ingênuas como «Os Novelos da Tia Filomena» e o «Espólio do Senhor Cipriano», publicados em 1862 e 1863, respectivamente.
Suas obras: As Pupilas do Senhor Reitor (1869), A Morgadinha dos Canaviais (1868), Uma Família Inglesa (1868), Serões da Província (1870), Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871), Poesias (1873), Inéditos e Dispersos (1910), Teatro Inédito (1946-1947).

          Nossas alunas da FURG, Fabi Leandro, Sabrina Baes e Marisa Musa, 
sob a coordenação da colega, Prof.ª Dr.ª Liane Bonatto, 
cientes de que o imaginário dá suporte a todos os nossos diversos fazeres, vêm propiciando, no ambiente do Asilo de Rio Grande, uma ressignificação, nas tardes das quartas-feiras, dos idosos que lá vivem seus dias. 
         O idoso carrega em sua memória um grande repertório de vivências, como a poesia que, muitas vezes, precisa, apenas, ser revivida, resgatada com amor. Lá, a tarde de hoje transformou-se num viajar para outros tempos e outras emoções. O tempo ali passado foi um tempo revivido. Aquele espaço da sala de recepção foi transformado, pela viagem instantânea pelo universo da poesia, em um espaço de felicidade. Obrigado, queridas, por me terem proporcionado o prazer de participar desse momento de vibração, alegria e encantamento.



POESIA REGIONALISTA GAÚCHA - VARGAS NETO - CARRETEIRO


          
Acredito que se deva prestigiar todas as vertentes culturais. Aqui no Rio Grande do Sul, houve muitos poetas regionalistas que produziram uma literatura de excelente qualidade, como é o caso do jornalista e poeta Vargas Neto, meio esquecido em nossos dias.


          Manuel do Nascimento Vargas Netto, nascido em São Borja em 1903, foi jornalista em Porto Alegre. Mais tarde, transferiu-se para o Rio de Janeiro, por motivos profissionais, onde faleceu em 1977. Destacou-se como poeta regionalista gaúcho, especialmente por duas obras, embora tenha publicado outras:

Vagas Neto, Manuel do Nascimento. Tropilha Crioula. Porto Alegre: Globo, 1925.
__________Gado Chucro(sic).
Porto Alegre: Globo, 1929.


Carreteiro

Carreteiro é a paciência caminhante!
Jamais na vida soube o que era pressa!
Ao passito desceu pelo lançante...
Ao passito a subida ele começa...

Sempre ao passito, vai seguindo adiante...
A  vida toda leva a viajem essa!
Sob o sol quente ou sob o frio cortante,
Segue assim, sempre assim, nunca se apressa.

Leva n'alma gemidos de carreta...
E é impassível, por mau ou por bondade,
Embora a desventura lhe acometa.

Nesse viajar sem fim, que ele não sente,
Lembra a viajem constante da saudade,
Carregando passado p'ra o presente.

domingo, 15 de junho de 2014

JOGOS OLÍMPICOS - OLYMPICS

            JOGOS OLÍMPICOS - OLYMPICS
Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara

     No momento em que se aproximam as olimpíadas do Brasil, parece-me  oportuno lembrar os jogos olímpicos, desde sua criação na Grécia Antiga e seu posterior desenvolvimento pelos romanos por mais de mil anos.

Cristina com o Costa Concórdia ao fundo.

          Os jogos foram criados como uma forma de sublimar a guerra. No século VIII a. C, mais precisamente em 776 a. C., ocorreram as primeiras olimpíadas, em Olympia, pequena vila olímpica, construída para a realização dos jogos, a 30 km do atual porto de Katakolon.
          Seria importante recordar a finalidade dos esportes sempre que se promovem certames de qualquer natureza.
          Em Olympia foi construído um templo em honra de Zeus, que era uma das sete maravilhas do mundo antigo. Havia, próximo ao estádio, também um grandioso templo edificado em homenagem a Hera, esposa de Zeus.
          Um outro edifício, também em ruínas era a palestra: prédio destinado aos atletas, com locais próprios aos treinamentos. Ao lado da palestra havia um hotel para os visitantes.
        O lugar visto com os olhos de hoje é muito singelo. Abaixo estão algumas imagens de Olympia feitas por mim e minha esposa Cristina, em fevereiro de 2008, quando participávamos de um cruzeiro no famoso COSTA CONCÓRDIA.
     "Os Jogos Olímpicos eram os mais importantes jogos pan-helênicos, tendo sido proibidos pelo imperador cristão Teodósio I em 393 d. C., por serem uma manifestação de rituais do paganismo.
Uma importante fonte sobre os jogos é Pausânias (século II d.C.), autor do livro Descrição da Grécia, um guia da Grécia baseado nas suas viagens pelo território. Outra importante fonte é um tratado sobre a ginástica de Filóstrato de Lemnos(século II-III d.C).
A escultura e a cerâmica gregas representaram não só os atletas como a própria prática desportiva. No que diz respeito à escultura, que tinha no bronze e no mármore os materiais predilectos, muitos trabalhos sobreviveram apenas como cópias da era romana. De algumas estátuas ficou apenas a base, onde se encontram gravadas inscrições relativas ao atleta, fornecedoras de informação. Por último, as moedas cunhadas em determinadas pólis retratam determinada modalidade desportiva na qual a cidade se destacou."
Wikipédia
           Pórtico construído pelos romanos na entrada do Estádio Olímpico com a finalidade de cobrar ingressos.


 Ainda o pórtico de entrada.


Mitologia
     "Segundo os estudiosos da antiguidade de Élis, da época de Pausânias, o templo de Olímpia foi feito pelos homens da região na época em que Cronos era o rei dos deuses, a chamada Idade de Ouro. Quando Reia deixou  Zeusaos cuidados dos dáctilos, ou curetes, de Ida. Héracles de Ida, o mais velho, derrotou seus irmãos em uma corrida, e foi coroado com um ramo de oliveira. A partir daí, os jogos passaram a ser celebrados a cada quinto ano, pois eram cinco os irmão (Héracles, Paeonaeus, Epimedes, Iasius e Idas).

     Segundo algumas versões, Zeus derrotou Cronos em Olímpia, mas outras versões dizem que ele celebrou lá jogos para comemorar sua vitória.  O campeão de vitórias entre os deuses foi  Apolo, que venceu Hermes na corrida e Ares no pugilismo; por este motivo, a flauta é tocada quando os competidores do pentatlo estão na prova de salto, pois a flauta é sagrada a Apolo.

     Cinquenta anos após o dilúvio de Deucalião, Clímeno, filho de Cardis, descendente de Héracles de Ida, veio de Creta para Olímpia e fundou um altar para seu ancestral Héracles e os outros curetes. Clímeno foi deposto por Endimião, filho de Étlio, que deixou o reino para o seu filho que vencesse uma corrida.

     Os próximos a celebrarem jogos em Olímpia foram  Pélope, Amythaon, filho de Creteu, os irmãos Neleu e Pélias. Áugias e Héracles, filho de Anfitrião. Óxilo foi o último desta era a celebrar os jogos, que não voltaram a ser celebrados até seu descendente Ifitos de Ilía." Wikipédia

     Os jogos olímpicos tiveram tamanha importância na história da antiguidade que passaram a ser o divisor dos tempos. Entre os povos antigos, mesmo entre os romanos, quando se marcava uma data, citava-se tantos anos depois dos jogos olímpicos.

 Singela pista do Estádio Olímpico

Ainda a pista do Estádio




     Os Jogos Olímpicos decorriam no santuário de Zeus em Olímpia que era feito de mármore cristalizado situado na região ocidental do Peloponeso, a cerca de 15 quilômetros do Mar Jônio, que separa a Grécia da Itália, próximo da confluência dos rios Alfeus e Cladeos. Este santuário retira o seu nome ao Monte Olimpo (que se situa longe do local, na Tessália, norte da Grécia), ponto mais elevado da Grécia continental, com 2917 metros de altura e que era na mitologia grega a residência das divindades.

     O núcleo de Olímpia era o Áltis, um bosque sagrado. No centro do bosque existia um templo em estilo dórico dedicado a Zeus, que foi construído entre 468 e 456 a.C., em cujo interior se encontrava uma estátua colossal do deus da autoria de Fídias e que era considerada uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.



Novamente a entrada do Estádio

estádio



Os participantes

Atletas - imagem da época

Não poderiam participar nos jogos os estrangeiros (os  "bárbaros" segundo a mentalidade grega, todo o cidadão que não pertencesse a uma das cidades-estados gregas era considerado bárbaro), os escravos e as mulheres. Conta-se o caso de uma mulher que, vestida com roupas masculinas, disfarçou-se de treinador para entrar no ginásio e ver seu filho lutar. O filho venceu a prova e a mãe, comemorando a vitória, deixou cair seu disfarce. Descobriram que era mulher.

Os atletas eram de uma forma geral oriundos das classes mais favorecidas e tinham sido iniciados no desporto desde tenra idade. Não vinham apenas da Grécia continental, mas de todos os pontos do mundo grego que na Antiguidade incluía as colônias espalhadas pelas costas do Mediterrâneo e do Mar Negro. Os vencedores eram alvo da homenagem da sua cidade: poderiam receber alimentação gratuita, terem estátuas erguidas em sua honra e serem cantados pelos poetas.

Estádio


Organização
"     A organização dos jogos foi da responsabilidade da pólis de Élide. Em 668 a. C Fídon de Argos conquistou Olímpia e entregou o controle  do santuário à cidade de Pisa, que organizou os jogos até  558 a. C.,  ano em que Élide retomou o controle sobre Olímpia graças à intervenção de Esparta." wikipédia



Pista do Estádio - Não havia arquibancadas, apenas grama na encosta.


Ruínas do Templo de Zeus




Ainda as ruínas do Templo de Zeus

Os juízes


     "Os Jogos Olímpicos eram supervisionados por juízes, os helanócides ("juízes dos Helenos"). Estes juízes eram oriundos do seio da nobreza de Élide, sendo escolhidos à sorte dez meses antes do início do festival; o número de juízes variou ao longo dos tempos. Os juízes eram responsáveis pelo envio dos arautos. Deveriam também garantir o bom estado dos edifícios do santuário e garantir o policiamento e segurança. Intervinham igualmente nas provas, sorteando os atletas, arbitrando as provas e proclamando os vencedores, os quais coroavam. Os juízes realizavam um juramento através do qual se comprometiam a julgar de forma imparcial os concorrentes e a guardar sigilo sobre aspectos relacionados com um atleta. Também ordenavam a execução dos castigos aos atletas e treinadores que não tinham cumprido as regras; estes poderiam ser punidos com açoites em local público, algo que entre os Gregos encontrava-se em geral reservado aos escravos. No caso de suborno, previam-se multas elevadas, cujo dinheiro revertida para pagar estátuas em bronze de Zeus, expostas no santuário. Os atletas e os treinadores chegavam a Élide com um mês de antecedência para treinarem sob supervisão dos juízes. Julga-se que durante este período os atletas que não era considerados aptos ou que não cumpriam os critérios de participação eram excluídos."
Provas
Corrida com armas

eram as seguintes:
Corridas pedestres

     "As corridas pedestres incluíam quatro tipos de corridas: o estádio, o diaulós (ou duplo estádio), o dolichos e o holitódromo (ou corrida com armas). O estádio era a prova mais antiga e de maior prestígio, já que o seu vencedor daria o seu nome aos jogos. Consistia numa corrida de 192 metros, o comprimento do estádio; diaulós correspondia a uma corrida de 384 metros. Quanto ao dolichos, era uma corrida que variava entre os 7 e os 24 estádios. A corrida com armas variava entre os 2 e os 4 estádios e nela os atletas levavam o capacete e o escudo dos hoplitas, o que poderia ser penoso dado o peso que representava este armamento. Para evitar a fraude, os escudos usados pelos atletas eram guardados no Templo de Zeus, de modo a evitar que alguém corresse com um escudo que fosse mais leve."
Corridas equestres

     "Este tipo de prova incluía as corridas de carros ou de cavalo de sela. Nas primeiras poderiam usar-se dois cavalos (bigas) ou quatro cavalos (quadrigas). As quadrigas teriam sido introduzidas nos Jogos Olímpicos pela primeira vez em 680 a.C.. e as corridas de cavalo de sela em 648 a.C. Uma corrida de carros consistia em doze voltas ao hipódromo, tendo cada volta entre 823 e 914 metros; a corrida de cavalo era uma volta do hipódromo.
     Não eram os homens que tinham vencido as corridas que recebiam as coroas, mas os donos dos cavalos, dado que estes implicavam custos que só os mais ricos poderiam suportar. Assim, algumas mulheres com posses e políticos tornaram-se vencedores destas corridas, sem nunca terem participado nelas."

Luta, pugilato e pancrácio

Vaso que representa cena de luta

     "A luta nasceu no Próximo Oriente, tendo sido adaptada pelos Gregos talvez na época micênica. Tinha como deus padroeiro Hermes.
     Na luta grega era necessário provocar três vezes a queda do adversário para se consagrar vencedor. Considerava-se que tinha ocorrido uma queda quando as costas, ombros ou peito do adversário tinham tocado o chão. Antes de iniciarem a luta os concorrentes untavam o corpo com azeite e deitavam um pouco de terra para evitar que a pele se tornasse escorregadia. A prova não possuía um tempo limite. Era permitido partir os dedos do adversário, mas não era permitido realizar ataques na região genital ou recorrer a mordeduras. Existiam provas reservadas aos homens adultos e aos rapazes.
     A prática do pugilato na Grécia Antiga remonta ao século VIII a.C.. Apenas se poderia atacar com os punhos e os concorrentes envolviam os dedos com tiras de couro. Não existiam assaltos nem categorias baseadas no peso dos atletas. O jogo terminava quando um dos atletas ficava inconsciente ou colocava um dedo no ar em sinal de desistência."

     O pancário era uma combinação da luta e do pugilato, sendo o seu resultado uma prova extremamente violenta, cujos concorrentes poderiam mesmo vir a morrer. Tudo era permitido, com excepção de enfiar dedos nos olhos, atacar a região genital, arranhar ou morder. A vitória ocorria quando um dos atletas já não conseguia continuar a lutar, levantando um dedo para que o juiz percebesse.
      Para cada um destes desportos, existiam provas reservadas aos homens adultos e aos rapazes." wikipédia
Um atleta realiza o salto em comprimento munido com dois halteres

Pentatlo

O pentatlo dos Gregos antigos era diferente do pentatlo moderno, sendo composto pelo lançamento de disco, lançamento de dardo, salto em comprimento (distância), a corrida de estádio (semelhante aos 200 m) e a luta.

     O disco lançado pelos atletas pesava cerca de 9,5 quilos e poderia ser feito de pedra, ferro ou bronze. O vencedor era aquele que conseguisse lançar o disco o mais longe possível e  sendo também considerado um herói. Quanto ao dardo possuía a altura de um homem e era feito em madeira. No salto em comprimento (distância) recorria-se a quatro halteres que impulsionavam o atleta na subida e que eram depois atirados quando este descia.

     Caso um atleta tivesse vencido as seis primeiras provas do pentatlo, não se realizavam as duas últimas.
Data de introdução das provas
776 a. C.: Estádio (stadion)". wikipédia - 
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Estádio Olímpico











"Reconstituição do programa:
Dia 1
Manhã
Cerimônia de juramento dos atletas e dos juízes no Bouleuterion (edifício que abrigava o conselho dos cidadãos)  perante a estátua de Zeus Korkios (Zeus dos Juramentos)

Provas de luta, pugilato e pancrácio para rapazes.

Consulta de oráculos. 
Tarde 
Palestras públicas de filósofos e historiadores. Recitais de poesia.

Dia 2
Manhã
Corridas equestres. Os concorrentes entram no hipódromo em procissão.
Tarde
Pentatlo
Fim da tarde e noite
Cerimônias no santuário de Pélops, identificado pela tradição como o primeiro vencedor dos jogos. 
Reconstituição das suas cerimônias fúnebres.
Desfile no Áltis dos vencedores, em honra dos quais são entoados hinos. 
Banquetes.

Dia 3
Manhã
Procissão formada por todos os atletas, juízes e embaixadores das póleis gregas (que transportam vasos de ouro e prata que representam a riqueza das suas localidades) pelo Áltis. 
A procissão pára em frente ao Grande Altar de Zeus, onde se realiza o sacrifício de 100 bois oferecido pelo povo de Élide.

Tarde
Corridas pedestres
Noite
Banquete no Pritaneu (era a sede dos prítanes, ou seja, dos membros do governo das cidades-estados da Grécia Antiga), do qual participam os atletas, os convidados e os espectadores, recorrendo-se à carne utilizada no sacrifício feito de manhã.

Dia 4
Manhã
Luta
Meio-dia
Pugilato e pancrácio.
Tarde
Corrida com armas.

Dia 5
Procissão liderada pelos atletas vencedores até ao Templo de Zeus, onde serão premiados um por um com uma coroa de louro atribuída pelos juízes. 
Os espectadores atiram pétalas e folhas sobre os vencedores. 
À noite, grandes festas e banquetes.
No dia seguinte os atletas, espectadores e embaixadores iniciam a viagem de regresso às suas terras." wikipédia




Ruínas da Palestra



Ainda a Palestra





          Restauração de uma coluna do Templo de Zeus para o visitante perceber a grandiosidade arquitetônica da construção.


Até mesmo em Olympia está a coca-cola.