Prof, Dr. Oscar Luiz Brisolara
Estamos cansados do processo manipulatório diário
da imprensa em que somos induzidos a concluir que os problemas mundiais que
enfrentamos neste momento são meras consequências de má gestão econômico-fncanceira
ou simples resultado de leis econômicas universais.
Economistas como Carlos Alberto Sardenberg e
jornalistas como William Waack, por sinal muito competentes em suas funções,
parece estarem a serviço de entidades cujas finalidades fogem ao alcance do
simples cidadão.
Com tabelas estatísticas muito bem manejadas,
querem levar-nos a concluir que tudo o que fazem é apenas demonstrar
cientificamente o que se passa como nossa economia. Trazendo apenas dados
verdadeiros, conduzem a uma ilação de verdade indiscutível.
Acontece que jamais trazem à baila fatos históricos
que comprovem ser a economia mundial manipulada e toda asas crises, como a de 1929, ou
mesmo as guerras, são resultado de manobras e disputas econômicas e políticas.
Para não nos atermos a fatos muito próximos que
podem distorcer as análises, da mesma forma como um espelho colado à face
distorce as imagens, como estudioso da história antiga e de antropologia, passo
a analisar apenas um fato de manipulação da economia ocorrido na antiga República Romana
pré-cristã.
Aconteceu no primeiro século antes de Cristo. Já viviam
os romanos há mais de quatrocentos sob o regime republicano. Acumulavam-se
conquistas por parte das classes menos favorecidas.
A mais recente delas era a reforma agrária
aprovada séculos antes pelos tribunos Sextius
e Licinius, e posta em prática
com a divisão dos latifúndios pelos Irmãos Gracos, Tiberius e Caius, que
formaram a controversa comissão agrária para a divisão dos latifúndios.
Palavras de Tiberius
em defesa das reforma agrária citadas por Plutarco: "Que os animais selvagens que viviam por
toda a Itália tinham pelo menos suas tocas, [...] (mas os cidadãos que lutam
pela pátria) falsamente são chamados de senhores e dominadores do mundo, quando
na verdade não têm uma só polegada de terra que lhes pertença". (Plutarco: Tibério Graco).
As leis agrárias dos Gracos não permitiam que o
cidadão que tivesse recebido terras do Estado as vendesse. Caso não desejasse
mais dedicar-se à agricultura, devolveria a propriedade ao governo, que o
indenizaria pelas benfeitorias aí edificadas.
Porém, essa reforma durou pouco tempo. Com o
argumento de que nada mais plenificaria o poder de posse de suas terras do que
o direito de dispor delas como bem entendesse, inclusive vendê-las, foi
aprovado um adendo à lei, permitindo ao cidadão vender as terras recebidas do
Estado.
Já nesses tempos, os agricultores financiavam suas
plantações junto a instituições de crédito ou com outros agricultores mais
abastados. Sabedores disso, os senadores da república, que também eram os maiores latifundiários de Roma, no
momento da colheita fizeram uma grande importação de produtos agrícolas,
mormente de trigo, o produto de maior representatividade na agricultura romana,
exatamente no momento da colheita. Isso aviltou os preços de tal maneira que
sequer havia compradores para safra do momento.
A grande maioria dos produtores rurais de então
entrou em situação de insolvência junto às instituições financeiras. A solução
foi vender as terras para pagar os bancos. As terras, que haviam sido
indenizadas por um valor de mercado foram recompradas por valores aviltados
pelo excesso de oferta. Esse fato mostra que as leis da economia podem ser e são
manipuladas.
Num momento como o presente, em que os
instrumentos de manipulação agem de forma muito mais sutil sobre os agentes
econômicos, devido ao poder da alta tecnologia, dificilmente se podem
identificar os reais agentes do processo. Percebem-se facilmente os efeitos.
O que está ocorrendo com a economia deste século
XXI é muito mais resultado de disputas econômicas entre poderosos blocos de
instituições internacionais, do que pura e simplesmente efeito inexorável de
leis mecanicistas do processo econômico mundial. Max Weber afirma que as
disputas entre os poderosos criam brechas pelas quais podemos observar um pouco
do que acontece nas lutas entre os diferentes grupos de interesses
internacionais.
Muito mais nos aguarda no futuro próximo em diversas áreas. Na disputa energética, estamos entre a eletricidade e o petróleo. O próprio Estado Islâmico, vendendo petróleo a menos de vinte dólares ao barril, é um instrumento para aviltar os preços internacionais dessa commodity, o que prejudica economias poderosas como a Rússia, maior exportador mundial do produto.
Não podemos olhar para os fatos com o olhar ingênuo do "Cândido" de Voltaire e acreditar que "tudo é para o nosso bem"
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